Não há nada mais intolerante do que um justiceiro social que luta pela “tolerância”. Esse exército de inquisidores das redes sociais realiza uma patrulha insuportável, que faria qualquer tia carola fofoqueira da era vitoriana parecer a pessoa mais descolada do universo. Em nome do politicamente correto e da defesa das “minorias oprimidas”, essa gente não se importa em cavucar mensagens velhas e destruir vidas e carreiras, desde que seja tudo em nome de um mundo mais “justo” e “tolerante”.
Dois casos recentes expõem bem o grau patológico em que a coisa chegou. O comediante Kevin Hart havia sido convidado para apresentar o Oscar esse ano. Ele ia bem na escala do vitimismo, por ser negro. Mas eis que desenterraram mensagens de quase uma década atrás em que Hart fazia brincadeiras “homofóbicas”, alegando que se encontrasse seu filho de 3 anos brincando com bonecas da irmã aplicaria um corretivo para salvar o moleque. Ó céus, cruzes!
Que monstro poderia fazer uma piada dessas?! O fato de ter sido claramente uma brincadeira, até porque ninguém imagina a sério que ele espancaria o filhinho para torná-lo mais macho, não importou muito para a patrulha do bem. O fato de ter ocorrido vários anos atrás tampouco. O relevante era demonstrar “compaixão” para com a comunidade LGBT, e assim ferrar com a carreira do comediante.
Os organizadores do ultra “progressista” Oscar entraram em contato e exigiram um pedido público de desculpas. Hart achou melhor declinar o convite e avisou que não mais apresentaria o evento. Não obstante, e certamente pressionado por seu agente, ele acabou fazendo o tal pedido de desculpas depois. Se quer fazer parte do showbiz, dominado por esquerdistas afetados e hipócritas, é preciso se ajoelhar diante dos inquisidores.
Sendo Hart membro de uma minoria “vítima”, a coisa complica um pouco, e expõe as disputas internas dos “progressistas” por espaço, já que não dá para manter a coerência quando essas minorias entram em choque. Leandro Ruschel apontou para a situação delicada da turma: “A lacrosfera não está sabendo lidar com o afastamento do comediante negro Kevin Hart do papel de apresentador do Oscar. Ele foi acusado de homofobia em tweets antigos. Outros sugerem que ele está sendo vítima de racismo. Duas minorias em conflito gera tela azul nos esquerdopatas”.
O outro caso aconteceu com Kyler Murray, quarterback do Oklahoma Sooners. Ele venceu o Troféu Heisman no sábado de noite, um dos grandes momentos de sua carreira. Infelizmente para Murray, tudo terminou em controvérsia por conta de mensagens publicadas quando o jogador tinha apenas 15 anos.
O escritor Scott Gleeson, do USA Today, que cobre “questões sociais pela lente do esporte”, publicou uma reportagem criticando Murray por ele supostamente destilar preconceito LGBT em tweets de quando era um adolescente. Ele teria usado gíria “machista” com seus amigos na época, e os tweets continuam ativos em sua conta, descobriu o Sherlock Holmes do USA Today, que provavelmente não tem nada melhor para fazer com seu tempo.
Dessa vez, porém, houve reação nas redes sociais, e muitos criticaram o USA Today por caçar mensagens de quando o jogador era um adolescente para tentar destruir o momento feliz da premiação. O fato de Gleeson ser um homem branco e Murray um homem negro não deve ter ajudado na causa persecutória do inquisidor “progressista”.
O clima da era moderna está insuportável por conta desses desocupados e culpados da elite “progressista”, que adotam comportamento de fascistas em nome da “tolerância”. São os “fascistas do bem”, autoritários, insensíveis, chatos, que patrulham a vida alheia em busca de qualquer “deslize”, ainda que ocorrido décadas atrás, para destruir suas vidas e carreiras e, com isso, contribuir para que o mundo fique mais “justo” e “tolerante”. Que turma deplorável…
PS: Minha filha, que já fez 17, não tem mais bonecas, mas ai do meu filho se pegar alguma roupa rosa dela para brincar!!!!! 🙂
Rodrigo Constantino