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Duas características, ao menos, precisam estar presentes para se identificar um legítimo intelectual: o pensamento independente e o pensamento crítico. Ou seja, intelectual é aquele que ousa pensar por conta própria, sem seguir necessariamente o zeitgeist, remando muitas vezes contra a maré do momento; e o faz de forma crítica, i.e., contesta o status quo, está sempre buscando brechas ou falhas nas estruturas do pensamento dominante. Um intelectual subserviente ao governo é um oxímoro portanto, algo contraditório, que não faz sentido.

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Por isso uso sempre o termo entre aspas para me referir aos “intelectuais” de esquerda, esses que adoram uma simbiose com o governo, em troca de benesses estatais, privilégios, poder. No Brasil, tais “intelectuais” ajudaram, e muito, a criar o mito do metalúrgico honesto que iria salvar a Pátria das garras das elites insensíveis e corruptas. O PT foi formado por “intelectuais”, por gente que não pensa de forma crítica e independente, mas sim mancomunada com a sede pelo poder.

E, uma vez lá, curvaram-se totalmente a ele, tornando-se nada mais do que propagandistas do regime, relações públicas do partido no poder. Abdicaram da verdadeira função intelectual, que é pensar o país, o futuro, e adotar tom crítico ao presente, apontando as falhas do país. Os exemplos são infindáveis e as figuras conhecidas, mas o mais evidente caso talvez seja a recente carta “em defesa da Petrobras”, ou seja, em defesa da quadrilha que assaltou a estatal do povo brasileiro. Foi o assunto do excelente texto de Demétrio Magnoli no GLOBO hoje:

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Num lance vulgar de prestidigitação, o texto dos “intelectuais de esquerda”, assinado por figuras como Marilena Chaui, Celso Amorim, Emir Sader, Fabio Comparato, Leonardo Boff, Maria da Conceição Tavares e Samuel Pinheiro Guimarães, apresenta-se como uma defesa da Petrobras — mas, de fato, é outra coisa.

O ofício intelectual não combina bem com manifestos. Dos intelectuais, espera-se o pensamento criativo, a crítica do consenso, a dissonância — não o chavão, a palavra de ordem ou o grito coletivo. Por isso, eles deveriam produzir manifestos apenas em circunstâncias excepcionais. Os “intelectuais de esquerda”, porém, cultivam o estranho hábito de assinar manifestos. Vale tudo: crismar um crítico literário como inimigo da humanidade, condenar a palavra equivocada no editorial de um jornal, tomar o partido de algum ditador antiamericano, denunciar a opinião desviante de um parlamentar. O manifesto sobre a Petrobras é parte da série — mas, num sentido preciso, distingue-se negativamente dos demais.

[…]

A Petrobras não foi derrubada à lona pelo escândalo revelado por meio da Lava-Jato, que apenas acelerou o nocaute. Os golpes decisivos foram assestados ao longo de anos, pela política conduzida nos governos lulopetistas, sob os aplausos extasiados dos “intelectuais de esquerda”. 

[…]

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Os “intelectuais de esquerda”, móveis e utensílios do Planalto, escreveram o manifesto para, preventivamente, atribuir a mudança de rumo aos “conspiradores da mídia”. Por meio dessa trapaça, conciliam a fidelidade ao “governo popular” com seus discursos ideológicos anacrônicos. Ficam com o pirulito e a roupa limpa.

[…]

Franklin Martins, o verdadeiro autor do manifesto, cometeu um erro tático ao colocar seu nome entre os signatários. Ao fazê-lo, o ex-ministro descerra o diáfano véu de independência que cobriria a nudez do texto. O manifesto não é a “voz da sociedade”, nem mesmo de uma parte dela, mas a Voz do Brasil. Nasceu no Instituto Lula, como elemento de uma operação de limitação dos efeitos da Lava-Jato. Enquanto os “intelectuais de esquerda” assinavam uma folha de papel, Lula reunia-se com representantes do cartel das empreiteiras e Dilma preparava o “acordo de leniência” destinado a restaurar os laços de solidariedade entre as empresas e os políticos.

A desgraça do Brasil é ser um país dominado por esses “intelectuais”. O fenômeno não é exclusividade nossa, mas aqui eles conseguiram conquistar espaço demasiado. Doutrinam milhões de mentes jovens por ano, ocupam colunas em jornais cujos donos, vistos por eles mesmos como ícones da “elite burguesa golpista”, cedem a corda que poderá enforcá-los, por covardia ou ignorância.

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Esse talvez seja o grande paradoxo brasileiro, o sintoma que resume bem nosso quadro de doença mental coletiva que permitiu doze anos de PT no poder, apesar de tantas falcatruas, crimes e incompetência: nossos “intelectuais” são justamente aqueles que se recusam a pensar! Ou, quando o fazem, é deixando de lado a ética e a honestidade, agindo sem um pingo de vergonha na cara…

Rodrigo Constantino