Em artigo publicado hoje na Folha, Maria Alice Setubal, cujo sobrenome já revela suas origens abastadas, investe a favor da maior participação dos jovens no debate político nacional, uma forma meio disfarçada de apoiar as tais “ocupações” criminosas das escolas e universidades. Cita como (bom) exemplo aquela garota do Paraná, Ana Júlia Ribeiro, que fez discurso em defesa das “ocupações”. Enaltece, enfim, a “sabedoria” dos jovens de hoje, concluindo:
Apesar de nossos baixos indicadores educacionais, há muitas Anas Júlias pelo Brasil afora. Por isso, vale destacar outras iniciativas que contribuem para ampliar o repertório argumentativo de nossas crianças e jovens e comprovam que a escola pública é, sim, capaz de promover a aprendizagem.
É o caso da Olimpíada de Língua Portuguesa – Escrevendo o Futuro, que reuniu estudantes do ensino médio finalistas da etapa regional no gênero artigo de opinião, todos da rede pública.
[…]
Sem uma população com níveis adequados de educação, não conseguiremos ser um país desenvolvido em nenhuma das métricas internacionais. É preciso encontrar novos caminhos e cabe a nós, sociedade brasileira, traçar esse rumo.
Os jovens podem e devem ser incluídos nesse debate. Será que mais uma vez cometeremos um erro histórico que poderá nos levar a sair da crise fiscal, mas deixará o país novamente na rabeira do desenvolvimento, por comprometermos o futuro de crianças e jovens?
A opção está em nossas mãos.
Ou nas mãos dos jovens, como quer a doutora em psicologia da educação. Mas esse discurso, que pretende “empoderar” os jovens, não é de hoje. Basta pensar na Revolução Cultural de Mao, o tirano chinês, que tinha no jovem o grande ícone da “sabedoria”. Claro, na prática eram todos massa de manobra do próprio ditador, e foram usados contra seus pais, contra seus inimigos políticos, como peões em sua revolução sangrenta.
Já a coluna de Luiz Felipe Pondé no mesmo jornal oferece um contraponto, uma visão bem menos idealista e mais pé no chão da juventude, que precisa ser formada, de preferência com limites, com a transmissão de conhecimento por parte dos mais velhos. Com a afluência do mundo capitalista moderno, isso é ainda mais importante, para não criarmos um bando de mimados “rebeldes”. Diz Pondé:
Se olharmos de perto, veremos que o fenômeno Y não passa de uma geração de jovens que nasceu num mundo mais rico, seja porque os pais pagam, seja porque o Estado de bem-estar social europeu paga, seja porque o mercado americano é riquíssimo e gera trabalho “ad infinitum” para todos (esses porcos capitalistas americanos são uns malvados mesmo…).
Todas as características elencadas acima para os Y dependem de grana. Quem é pobre aceita tudo e não recusa nada. A radicalidade das posições ideológicas dos Y vai muito bem de business class e bolsa Prada. Isso nada tem a ver com dizer que não seja de fato essencial buscar sentido no trabalho ou ter concepções de mundo, quer dizer apenas que, para isso, se precisa de alguma grana.
Mas quais são as mentiras sobre os Y que o marketing de comportamento propaga? A primeira mentira é sua pretensa evolução afetiva. Quando o jovem Y para de repetir essa mentira sobre si mesmo (a mentira alimenta sua vaidade, claro), o Y revela seu medo diante do mundo contemporâneo e da vida complicada que é obrigado e enfrentar. Muita competição, muita cobrança. Sentem-se “oprimidos” pela demanda de afetos corretos. Pensam que no mundo de seus pais era mais fácil construir uma vida profissional e que as pessoas eram mais confiáveis. E aí chegamos à segunda mentira de hoje sobre os jovens Y.
A segunda mentira está ligada a esse tema da confiança. Apesar de todo o discurso sobre o coletivo, nunca houve uma geração mais solitária, individualista e narcisista como esta. A confiança é um “artigo” em extinção. Não há frase mais idiota do que “os jovens de hoje são mais evoluídos”. Não passa de chantagem emocional com esses coitados.
Tendo a concordar com Pondé. Como pai de uma adolescente, que completa 15 anos exatamente hoje, posso atestar que essa geração tem muitas qualidades, tem mais acesso à informação, mas que isso, de forma alguma, a torna mais “sábia” ou preparada. São jovens, e precisam de pais e professores que saibam exercer sua função, em vez de aliciar a garotada em nome de uma ideologia, ou por covardia.
A mensagem que escrevi em homenagem à minha filha no Facebook vai nessa linha, e contra essa ideia de que toda a geração atual deve assumir as rédeas do nosso destino, pois são incrivelmente sábios e preparados, evoluídos:
E lá se vão 15 anos…
Pausa na política, na economia, na cultura, para falar do que é mais importante em nossas vidas, mais elevado. Não costumo entrar muito em assuntos pessoais aqui, pois sou figura pública, e porque critico a “sociedade da transparência” em que vivemos. Ser um pouco mais reservado e valorizar a privacidade são atitudes saudáveis, ainda mais no mundo de hoje, excessivo em tudo, principalmente na exposição voluntária de coisas íntimas.
Mas abro uma exceção hoje. Meu bebê completa 15 anos de vida! Quinze anos! Caramba…
Seu nascimento foi, sem dúvida, um dos dias mais emocionantes da minha vida. Fiquei sem palavras. Era um moleque, com apenas 25 anos. E a responsabilidade logo pesou: agora tinha um ser, aquela criatura linda, fofa, que dependia de mim, não só financeiramente, mas principalmente na transmissão de valores, princípios, na educação, que eu jamais iria delegar a terceiros.
Não foi – e não é – fácil. Demanda esforços contínuos, sacrifícios, dizer “não” quando isso parte nosso coração, impor limites, dedicar tempo escasso, conversar, discutir. Mas como isso tudo compensa! Basta ver a linda menina que ela é hoje, essa figura capaz de bancar suas próprias opiniões mesmo contra a pressão do grupo. É a melhor coisa de existe. E como é bom poder dizer: filha, você é o orgulho do papai! Continue sempre assim, uma pessoa maravilhosa.
Te amo muito, aproveite bastante seu dia.
Beijão.
Que os mais velhos tenham a coragem de educar! Que tenhamos a coragem de dizer a verdade, de assumir o fardo da responsabilidade de educar, ou seja, de dizer “não”, de “tocar a real”, como dizem os próprios jovens (ou diziam no meu tempo). Acreditar que uma menina como a Ana Júlia, filha de militante petista e cujo discurso era repleto de slogans vazios os quais sequer tem condições de compreender na íntegra, representa a nova geração mais sábia, consciente e evoluída, que irá decidir por nós os rumos de nosso destino, é uma ilusão, uma perigosa ilusão.
Além, claro, de um atentado contra a própria juventude, daqueles que se recusam a amadurecer e, de fato, educar os mais jovens.
Rodrigo Constantino
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