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Os jovens não devem "salvar o mundo", mas a si próprios!

Uma das maiores canalhices da geração dos anos 1960 foi colocar o jovem no centro do universo, como o detentor de uma sabedoria ímpar. Considero o tema tão importante que mereceu um capítulo inteiro em Esquerda Caviar, sobre a juventude utópica. Explorar a insegurança natural dos jovens para aplacar o tédio dos mais velhos é de uma covardia abjeta. Mas foi exatamente isso que os “intelectuais” fizeram.

Luiz Felipe Pondé, em sua coluna de hoje, toca no assunto com sua típica ironia. Antes de começar, manda os “inteligentinhos” mentirosos, que distorcem tudo que é dito, pegarem sua “merenda balanceada” (risos) e brincar no parque. Falar da juventude é coisa séria, mas cada vez mais difícil frente a tanta imaturidade dos mais velhos e de muitos jovens que já aderiram ao discurso politicamente correto.

O filósofo traz duas teses: uma, de que essa ideia estapafúrdia de que cabe ao jovem “salvar o mundo”, enfiada em suas cabeças há quarenta anos, fez um enorme estrago; outra, de que não há uma distância gigantesca entre os aderentes da “jihad light” e da “hard”, essa que efetivamente parte para a violência. Diz Pondé:

“Salvar o mundo” obriga aos mais jovens terem opiniões sobre tudo, principalmente sobre coisas complexas como economia (quando só conhecem a mesada ou a grana do estágio e não são responsáveis por nada de fato), relacionamento homem-mulher (quando acabaram de entrar no “mercado dos sofrimentos afetivos” e mal sabem o que é amar no mundo real), geopolítica (quando muito, se tem dinheiro, fazem intercâmbio na Austrália ou viajam via ONGs superlegais para fazer trabalho social em Madagascar por três meses antes da pós em Nova York).

E, o mais importante: esses jovens cheios de “causas pra mudar o mundo” fogem da obrigação de arrumar o quarto se escondendo atrás de discursos sobre o mundo, construídos por professores de história ou filosofia cuja única glória é pregar para adolescentes entediados com um mundo que é sempre cinza e confuso. Além, claro, do tédio com o casamento sem saída dos seus pais.

Ou seja, em vez de aprender a respeitar limites, a aceitar uma hierarquia no saber e na vida, ao obedecer regras, os jovens “aprendem” que são os portadores da Boa Nova, que têm o poder de mudar o mundo aqui e agora. Esse discurso produz uma legião de mimados. Com mesada do pai ou do estado, e entediados, partem para a busca de aventuras ideológicas, tornam-se fundamentalistas.

Alguns viram seguidores fanáticos de Peter Singer, elegem causas de butique como “libertar os animais do jugo dos carnívoros”. Outros partem para coisas mais radicais, como os black blocs. Justificando seu radicalismo que vem aplacar suas angústias e inseguranças, esse jovem se vê dotado do direito de “purificar” o mundo, nem que seja à base de porrada.

Estamos a um passo dos que sucumbem ao fundamentalismo islâmico, entediados e se sentindo alienados em países prósperos e com ampla liberdade, mas que seus professores de filosofia retratam como os ícones de toda a podridão do mundo. E Pondé ainda acrescenta outro fator contemporâneo:

Muitos meninos, equivocadamente, penso eu, sentem que não há espaço pra eles num mundo civilizado em que a masculinidade é vista como sintoma social a ser suprimido via a transformação de todo e qualquer comportamento masculino em “machismo”. Muitos meninos temem acabar a vida cuidando de bebês e tendo que parecer meninas para poderem existir.

Acho isso um equívoco, mas negar a existência do fato (que os meninos estão se sentindo acuados por um mundo que os quer feminilizar a todo custo) é outro equívoco.

Os jovens aderentes aos grupos fundamentalistas violentos são movidos pelos mesmos sentimentos dos nossos jovens que querem salvar o mundo: a busca da pureza na vida. É hora de pararmos de mandar esses meninos e meninas salvarem o mundo. 

Concordo. Enquanto os jovens não puderem ser jovens de verdade, imaturos, não encontrarem freios na Lei, seja a paterna, seja a estatal, e ainda forem incitados a tomar conta do mundo, pois são os ungidos que vieram nos salvar, vão buscar refúgio em seitas fanáticas e cada vez mais violentas e intolerantes.

O que o jovem precisa é, antes de tudo, salvar a si próprio. E isso se faz com a ajuda dos mais velhos, que ensinam a respeitar as regras, não a ignorá-las em nome de utopias. Um pai que quer o melhor para seu filho deveria obrigá-lo a arrumar o quarto, não a aplaudir o professor idiota que lhe transmite os “maravilhosos” pensamentos subversivos de Foucault.

Rodrigo Constantino

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