A imigração foi o grande tema das eleições que colocaram Trump na Casa Branca. Já recomendei o livro Adios, America!, de Ann Coulter, que foi bastante influente nos debates e nos votos. É muito simplista fazer como certos “liberais” da elite que tratam do tema como se “xenófobos alienados” da classe média tivessem preconceitos e medos irracionais dos imigrantes, do novo, e por isso votassem em “populistas toscos”.
O buraco é bem mais embaixo. Para muitos “liberais” cosmopolitas, imigrante é uma abstração, ou então seu simpático jardineiro, ou ainda o ex-colega de universidade. Mas, como Alexandre Borges tem repetido, o imigrante que estudou em Yale ou Harvard tem mais em comum com essa elite cosmopolita do que com seu próprio povo de origem.
É normalmente o filho de um empresário, de um banqueiro, de um alto funcionário público que vive no mesmo tipo de bolha cosmopolita em seu país. As capitais das metrópoles se parecem mais entre si do que com as pequenas cidades de interior dos diferentes países. Borges, em entrevista ao Antagonista, explica melhor o fenômeno:
Pois bem: um caso recente expõe bem esse antagonismo entre as diferentes visões. Enquanto o imigrante é tratado como uma abstração ou o colega de faculdade pelo “liberal” da elite, o imigrante real muitas vezes pode ser alguém que simplesmente se recusa a assimilar as leis locais do país que o recebe, alguém que cospe na cultura do anfitrião, trazendo problemas reais para as pessoas de carne e osso que são seus vizinhos.
Residentes de um pequeno bairro da área metropolitana de Pittsburgh, na Califórnia, disseram que estão indignados depois que o governo federal transferiu 40 “ciganos” romenos para a cidade com 7 mil habitantes, como parte do programa do governo alternativo à detenção.
Na quinta-feira, mais de 150 residentes participaram de uma reunião da comunidade sobre os imigrantes, que os residentes dizem que não conseguiram assimilar os costumes e as normas americanas. Os moradores citaram o lixo nos jardins, as confusões nos mercados da cidade, as crianças e os homens que defecam nas ruas públicas e os imigrantes que cortam as cabeças de galinhas em áreas públicas, de acordo com uma reportagem da WTAE-TV. Nenhum dos imigrantes, que são ilegais (“sem documentos” é o eufemismo usado), foi acusado de outras ofensas criminosas graves.
“Somos uma cidade muito diversificada, muito aberta, mas eles não estão assimilando nossas leis”, disse Pam Duricic, residente da Califórnia. “Entendemos que são imigrantes. Mas este não é o mesmo cenário dos nossos avós. Eles não vieram aqui para causar estragos”. Os imigrantes romenos acabaram no bairro da Califórnia como parte do programa de alternativas à detenção da Alfândega dos EUA, que permite que os imigrantes vivam em comunidades em vez de serem detidos enquanto esperam uma decisão final sobre seu status de imigração.
Os imigrantes romenos disseram que vieram para a América para escapar da perseguição. O Pittsburgh Post-Gazette informou que eles pertencem a um grupo chamado Roma, minorias na Romênia que são diferentes da maioria da população. Os 40 imigrantes romenos se autodescreveram como “ciganos”. Não está claro por que eles acabaram no bairro da Califórnia, em vez de em alguma outra cidade vizinha ou nas proximidades de Pittsburgh, mas o Post-Gazette informou que um dos romenos disse na reunião da cidade que eles vieram para o bairro da Califórnia por causa de sua acessibilidade e reputação amigável.
Na reunião da cidade, funcionários públicos e o chefe da polícia disseram aos residentes que não receberam nenhum aviso do governo federal sobre a chegada dos imigrantes. Cerca de 600 residentes assinaram uma petição exigindo que os ciganos mudassem seus hábitos de vida.
De acordo com a American Civil Liberties Union (ACLU), o programa “Alternatives to Immigration Detention” foi implementado em parte para economizar dinheiro do contribuinte. Cerca de US$ 2 bilhões são gastos todos os anos para a detenção de imigrantes. A ACLU também afirma que o programa da AID é “mais humano” porque os imigrantes envolvidos no programa seriam detidos apenas para garantir que eles apareçam em suas audiências, não porque tenham cometido crimes.
Como se pode ver, não é uma questão tão simples como os “liberais” pensam, e nem sempre é “bonitinho” defender as fronteiras abertas para todos os imigrantes. O que fazer quando eles invadem uma pequena comunidade e se recusam a assimilar as leis e a cultura do local? Como lidar com os imigrantes que encaram as praças públicas como banheiros? Será que se fosse ao lado da casa de Obama o discurso do ex-presidente seria o mesmo? E se fosse ao lado da mansão de Michael Moore?
No olho dos outros pimenta é refresco, não é mesmo? Muitos desses “liberais” ricos podem se proteger dos efeitos diretos dessa imigração descontrolada. Mas o “povão” normalmente não pode. E é por essas e outras que acaba votando em Trump, para a perplexidade da elite cosmopolita em sua bolha, onde o esterco dos ciganos romenos não chega…
Rodrigo Constantino
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