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Os Sete pecados capitais
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Fonte: Folha

Não, caro leitor, não vou falar de gula, avareza, luxúria, ira, inveja, preguiça ou orgulho, ainda que todos esses vícios tenham alguma ligação com o assunto aqui tratado. Tampouco vou falar de algum filme com Brad Bitt. O tema é o capitalismo de estado, que desvirtua o funcionamento da economia de mercado.

Em Privatize Já, logo na orelha, estampei o que seriam sete mitos sobre a privatização. São eles: 1) privatizar é entregar o patrimônio público; 2) quem defende a privatização acredita na boa vontade dos empresários; 3) as estatais ajudam os pobres; 4) setores estratégicos devem ser controlados pelo governo; 5) a privatização provoca demissões e salários menores; 6) empresários pensam em lucro no curto prazo; 7) nossas estatais foram vendidas a “preço de banana”.

Tudo mentira, tudo falácia, como comprovo com fatos e argumentos no livro. Esses sete mitos – e sete é sempre um número bíblico importante – podem ser redefinidos como “os sete pecados capitais” de um típico nacionalista estatizante, aquele sujeito que defende a necessidade de o governo tocar a economia como se fosse a locomotiva do progresso, escolhendo “campeões nacionais” e impondo de cima para baixo quais setores ou empresas merecem uma luz ao sol, ou seja, bilhões em subsídios.

Nem preciso falar que o governo Dilma, com Luciano Coutinho à frente do BNDES, representa o ápice dessa mentalidade em nosso Brasil democrático (sob o regime militar, a era Geisel competia em pé de igualdade). E o pré-sal despertou a cobiça dos nacionalistas como nunca antes na história deste país. Seria nosso passaporte para o futuro, a fonte de recursos inesgotáveis para educação e saúde, para tudo!

A Petrobras, então, virou o que hoje conhecemos: um gigantesco ralo por onde bilhões foram desviados para os cofres do PT e seus aliados, deixando milionárias “comissões” na Suíça para seus operadores. Dezenas de bilhões investidos por ano, sem contrapartida no crescimento da produção, e hoje a estatal é uma das empresas mais endividadas do planeta, quase quebrada.

Mas lógico que ela não afundaria sozinha. Na toada nacionalista do governo Dilma, resolveu-se que o potencial do pré-sal era tão incrível que não valeria a pena deixar nenhuma migalha no processo para os malditos gringos. Os fornecedores da Petrobras também tinham que ser nacionais. Surgia a obrigatoriedade de conteúdo nacional mínimo, tudo para estimular a indústria brasileira, criar empregos domésticos.

O governo Dilma ignorava como a economia de mercado funciona, o que vem a ser “vantagem comparativa”. Por que comprar mais caro de um produtor nacional se posso economizar recursos e importar mais barato? Essa economia não será útil em outra área, e não fará da Petrobras uma empresa mais eficiente e competitiva? Questões de “liberais chatos” que não passaram pelas cabeças geniais de nossos nacionalistas de esquerda.

O resultado? A Sete nasceu, uma empresa cheia de recursos públicos, com os fundos de pensão das estatais como sócios, ao lado de investidores do setor privado em simbiose com o governo. O Brasil faria suas próprias sondas! Xô, coreanos gananciosos! Já de volta para a ilha, empresas de Cingapura! O Brasil terá sondas nacionais, verdes e amarelas, ainda que custem mais e atrasem na entrega, prejudicando o cronograma da estatal.

Os sete pecados capitais incorporados em uma só iniciativa, justamente chamada Sete. Quão irônico! E agora? A Sete, cujo único cliente de peso é a própria Petrobras, claro, está com enormes dificuldades, perdendo sócios e sob o risco de falir. Como diz a reportagem da Folha, a maior empresa do pré-sal está sem dinheiro:

Criada pela Petrobras para construir e alugar as sondas bilionárias para exploração do pré-sal, a companhia Sete Brasil enfrenta uma situação dramática.

Não tem dinheiro para os compromissos de curto prazo, dois sócios minoritários acabam de abandonar o projeto e o escândalo de corrupção na Petrobras bate à sua porta.

As dificuldades da Sete, que tem hoje um dos maiores contratos com a Petrobras, no valor de US$ 25 bilhões (R$ 64 bilhões), já comprometeram os ganhos que os acionistas esperavam obter.

A última reunião entre eles, na quinta (26), virou um encontro para “lavar a roupa suja” com a Petrobras.

A Sete tem entre seus sócios a Petrobras, os bancos BTG Pactual, Bradesco e Santander, e vários fundos de pensão ligados ao governo como Petros (Petrobras), Funcef (Caixa) e, Previ (Banco do Brasil). Além deles, há sócios minoritários em cada uma das sondas –conhecidos como operadores. A Sete confirmou que dois deles deixaram o negócio: Petroserv e OAS/Etesco. Eles participavam da construção de cinco das 28 sondas. A Sete procura substitutos.

É mais um problema para a empresa que, pela segunda vez em dois meses, pode atrasar pagamentos aos estaleiros que fazem as sondas.

A Sete precisa de US$ 900 milhões (R$ 2,3 bilhões) para pagar contratos que vencem entre dezembro e fevereiro e não tem dinheiro em caixa. Em outubro, a companhia atrasou pela primeira vez o pagamento e foi socorrida pela Caixa Econômica com cerca de R$ 900 milhões.

Enfim, mais um retumbante fracasso do governo Dilma, da visão nacionalista tacanha, que despreza todas as importantes lições históricas e teóricas sobre o funcionamento da economia. Sondas nacionais! Vindo de um governo que queria também uma fábrica de semicondutores no país, um dos setores mais competitivos do mundo, e que pressionou Eike Batista para tornar o sonho realidade, espera-se tudo mesmo.

O idealizador do projeto, feito em parceria com a IBM? Ele mesmo, Luciano Coutinho, aquele que nunca aprende. Afinal, era o mesmo que na década de 1980 defendia a Lei da Informática e estimulava a Cobra, empresa nacional responsável por substituir as gigantes internacionais do setor. O Brasil foi condenado ao atraso tecnológico lá, e agora, sob a batuta da mesma pessoa, vamos amargurar bilhões de prejuízo pelo sonho de construirmos nossas próprias sondas.

Do jeito que Coutinho aprende rápido, tenho medo de seu próximo projeto ser o Brasil mostrar como a NASA é obsoleta.

Rodrigo Constantino

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