Por Rafael Valladão, publicado pelo Instituto Liberal
As eleições gerais de 2018 ainda não foram concluídas, há o segundo turno dos pleitos majoritários pela frente, mas podemos estar certos de uma coisa: venceu a renovação da política nacional. Embora as antigas estruturas de dominação ainda sustentem os velhos partidos e seus respectivos caciques, a renovação da política ganhou forma na eleição de novatos, uns jovens e outros mais experientes, para atuarem no Congresso Federal ou em governos estaduais. São atores políticos promissores que devem endossar o coro em defesa dos ideais de liberdade em Brasília e Brasil adentro, para nossa alegria.
Quando observamos o quadro de deputados federais já eleitos e o segundo turno previsto entre alguns candidatos a governos estaduais, vemos que, para liberais e conservadores, essas eleições seguiram o contrário do ditado popular: nada está tão ruim que não possa melhorar. Esse movimento de renovação da nossa política é um espetáculo cujo primeiro ato foi o nascimento da nova direita, gestada na oposição cerrada ao petismo e ao populismo econômico; o segundo, o fenômeno Jair Bolsonaro, canalizando as forças conservadoras contra os delírios ideológicos da esquerda; o terceiro, a eleição de parlamentares liberais ou conservadores empenhados na defesa aguerrida e sincera dos ideais de liberdade. Esperamos que venham outros atos, pois, como cantou Freddie Mercury, the show must go on.
Desde o surgimento da nova direita no Brasil, entre os anos de 2013 e 2015, o cenário político e as mídias sociais foram alvoroçados pela chegada de novas lideranças que vinham defender ideias liberais e pautas conservadoras que, havia muito tempo, não encontravam defensores em Brasília ou na mídia convencional. Paralelamente à decadência do petismo, a direita crescia inicialmente como voz de oposição às políticas adotadas pelo governo Dilma. Nas eleições municipais de 2016, a vitória de João Dória para a prefeitura da capital paulista, em primeiro turno, e a queda significativa do número de prefeitos e vereadores petistas, davam o tom da derrocada gradual do PT. Faltava, porém, à nova direita amadurecer como uma força autônoma em nível nacional, o que poderia acontecer com a eleição maciça de nomes liberais ou conservadores ao Congresso e para o Executivo estadual. Nessas eleições gerais de 2018, podemos ver que a direita assumiu outra roupagem e agora constitui uma potência política mais consistente, embora ainda “invertebrada”, nas palavras de Lucas Berlanza.
A força eleitoral de Jair Bolsonaro é o segundo ato no espetáculo da nova direita tupiniquim. Embora o capitão não seja um neófito no mundo político, o presidenciável do PSL representa certamente a insatisfação generalizada do povo brasileiro com o establishment, vocaliza as ideias liberais e encampa a defesa de pautas conservadoras. Como um fenômeno eleitoral, Bolsonaro arrastou consigo, ao centro do poder nacional, um conjunto admirável de novos agentes dispostos a assumir a linha de frente nas lutas por um Brasil mais livre, próspero e justo. Várias pautas hoje caras à nova direita devem seu crescimento na discussão pública ao capitão e a publicistas alinhados ao pensamento de Bolsonaro e por ele avalizados. O especialista em segurança pública Bene Barbosa, incansável defensor do armamento civil, impulsionou a discussão em torno da liberação de armas à população comum e encontrou em Bolsonaro um apoiador; os escritores Flávio Gordon e Flávio Morgenstern, intelectuais de primeira ordem e associados às ideias direitistas, também surfaram na onda conservadora (com perdão do trocadilho), em larga medida mobilizada pelo sucesso de Bolsonaro.
E agora, nesse alvissareiro mês de outubro de 2018, vemos a onda direitista crescer e afogar alguns caciques e inaugurar um momento favorável ao surgimento e desenvolvimento de políticas públicas alinhadas ao pensamento liberal e conservador. É o terceiro ato do espetáculo. Vamos observar o que ocorreu na disputa pelos governos estaduais. A velha política elegeu Renan Filho governador de Alagoas; reconduziu o petista Rui Costa ao governo baiano; reelegeu o também petista Camilo Santana no Ceará; além de ter levado o comunista Flávio Dino à vitória sobre a oligarca Roseana Sarney na disputa pelo governo maranhense. Como a borracha, o establishment é resistente. Vale lembrar, contudo, que Dilma Rousseff e Suplicy, petista sênior, perderam a corrida pelo Senado.
Por outro lado, a nova direita, liberal e conservadora, nos trouxe dois casos surpreendentes. O ex-juiz federal Wilson Witzel, do Partido Social Cristão, contrariou todas as pesquisas de intenção de votos realizadas até às vésperas da eleição deste domingo e garantiu mais de 40% dos votos válidos na corrida pelo Palácio Guanabara, abrindo larga vantagem sobre Eduardo Paes, antes preferido na disputa pelo governo fluminense. Witzel ganhou atenção do eleitor do Rio depois de participar dos debates entre candidatos ao governo, sobretudo por enfrentar abertamente Indio da Costa e Eduardo Paes, defendendo medidas de tolerância zero contra o crime organizado, de enxugamento da máquina pública e de contenção dos gastos estaduais. Witzel rapidamente capturou o eleitorado conservador e foi logo apoiado por muitos eleitores de Bolsonaro. O slogan Mudando o Rio com juízo é sugestivo do perfil do ex-juiz: firmeza no combate ao crime e agilidade na restauração da autoridade pública.
Em Minas Gerais, o Partido NOVO levou Romeu Zema ao segundo turno da disputa pelo governo mineiro, contrariando as expectativas levantadas pelas pesquisas de intenção de votos. Zema teve mais de 40% dos votos válidos e vai enfrentar o tucano Antônio Anastasia num segundo turno sem a presença do petista Fernando Pimentel, queimado na opinião pública por escândalos de corrupção. Com discurso liberal e postura firme de enfrentamento às velhas raposas mineiras, Zema carimbou a liderança no pleito e energizou o partido na terra mineira. Zema se associou à figura influente de Jair Bolsonaro quando pediu votos para o capitão em debate entre os candidatos ao governo do estado, no que se mostrou em sintonia com as ideias e as pautas defendidas pelos numerosos apoiadores do presidenciável.
No Congresso, a renovação política foi maior. Teremos parlamentares liberais e conservadores na próxima legislatura que seguramente defenderão os ideais de liberdade na Câmara e no Senado. Maior colégio eleitoral do país, São Paulo elegeu Major Olimpio (PSL) ao Senado e terá como deputados federais figuras que ganharam influência na mídia e nas ruas: é o caso da jornalista Joice Hasselmann (PSL) e do líder nacional do Movimento Brasil Livre, Kim Kataguiri (DEM). O PSL fluminense elegeu Carlos Jordy, Luiz Lima e Helio Fernando Barbosa Lopes à Câmara, além de ter levado Flávio Bolsonaro ao Senado. Também pelo Rio, Paulo Ganime (NOVO) e Marcelo Calero (PPS-Livres) são outras novidades interessantes na Câmara. Por último, mas não menos importante, o Partido NOVO gaúcho elegeu Marcel Van Hatten à Câmara federal. Candidato mais votado no Rio Grande do Sul, Van Hatten é intelectualmente qualificado e despontou há poucos anos como um político promissor e talentoso, jovem vocacionado à defesa dos ideais de liberdade.
Esta é a eleição das surpresas, está certo. Mas podemos crer que esta eleição é o começo da maturidade da direita tupiniquim, em breve mais organizada e forte o suficiente para esmagar de vez as velhas raposas de Brasília, os dinossauros das oligarquias espalhadas pelos rincões atrasados do país, os estatistas de plantão e os socialistas impenitentes. Podemos respirar ares de liberdade e este é o momento de nos felicitarmos pela vitória da renovação política no Brasil, ao mesmo tempo em que devemos manter os olhos abertos e atentos aos descaminhos do poder e aos obstáculos que teremos de superar para levar adiante as políticas de liberdade por que esperamos há tanto tempo. Com a derrota definitiva do PT no segundo turno e a eleição de Jair Bolsonaro, poderemos ver a democracia brasileira mais enriquecida e desenvolvida.
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