Por Percival Puggina
Quando estamos discutindo o novo decreto sobre a posse de armas, o mais importante é saber o que pensam os atores da Globo, os jornalistas da Folha, daVeja, da Época e o aparelho político da esquerda. São opiniões decisivas para se fazer, com segurança, o contrário. Eles têm irresistível vocação para estar do lado errado e a sociedade já percebeu isso. No entanto, há 15 anos, esses mesmos protagonistas foram capazes de convencer, a muitos, de um completo disparate: era preciso abrir mão do direito de defesa da vida para garantir vida.
Em Zero Hora deste último fim de semana (19/01), um articulista afirma, argumentando contra o decreto que regula a posse de armas: “Na medida em que a sociedade foi-se estruturando, atribuindo poder ao Estado e restringindo o comportamento humano, segurança pública, saúde e educação passaram a ser dever do Estado e direito do cidadão”. Para o autor, a posse de armas pelo cidadão se torna um perigo em razão “da forte polarização político-ideológica cumulada pelo fundamentalismo religioso”… E acrescenta que “a delegação ao indivíduo, em pleno século 21, da responsabilidade por sua própria segurança, não se harmoniza com os valores conquistados pela humanidade ao longo do processo civilizatório”. As frases e a tese mereceriam uma assinatura-presente da Folha de S. Paulo e uma homenagem no Memorial de Luiz Carlos Prestes.
A campanha pelo desarmamento foi intensa em 2003. O beautiful people carioca, promovendo revoadas de pombinhas brancas e pedindo paz, desfilava pelo Leblon. “Por que não desfilam no morro do Alemão, na Linha Vermelha ou no Pontal do Paranapanema?”, perguntei, num artigo que escrevi, à época, para o Correio do Povo. Meses mais tarde, a lei foi aprovada, os rolos compressores começaram a destruir as armas tomadas dos cidadãos de bem e os bandidos brasileiros ganharam oficialmente, e festejaram, o direito de tomar, em maior segurança, o pão produzido com o suor do nosso rosto.
No mundo em que eu e o os leitores destas linhas vivemos, há uma guerra aberta entre o mundo do crime e o mundo do trabalho. Até bem pouco, enfrentando a criminalidade com interpretações sociológicas, o Estado era um “corpo estendido no chão”, inerte e reduzido à impotência. Assim, ampliou-se enormemente a parcela da população vivendo à custa do labor alheio e usando armas para essa coleta. A sociedade produz e eles arrecadam. É o dinheiro do bolso, a carga do caminhão, o gado no pasto, o automóvel na esquina. Serve para essa rapinagem infame até o vale transporte de quem está na parada esperando o ônibus para ir trabalhar.
É um estado paralelo, mas não ataca quartéis porque lá tem arma de fogo e de lá vem chumbo grosso. Eles querem precisamente o que lhes vínhamos oferecendo, um self-service inesgotável e seguro, certificado pela lei que nos desarmou.
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