Um universitário foi morto a tiros pelo pai em Goiânia na tarde desta terça-feira, 15, que se suicidou em seguida com um disparo na própria boca.
O estudante de Matemática da Universidade Federal de Goiás (UFG) Guilherme Silva Neto, de 20 anos, queria participar de uma reintegração de posse que seria cumprida na UFG, mas foi proibido pelo pai, Alexandre José da Silva Neto, de 60 anos. O homem discordava do envolvimento do filho em movimentos sociais e manifestações.
Segundo relatos coletados pela Polícia Civil e incluídos no boletim de ocorrência, o autor do delito e pai da vítima “não concordava com o comportamento do filho que se vestia de forma alternativa, com coturnos, calça jeans com as barras para dentro, jaquetas jeans, colares, cabelo e barba grandes”. O homem discordava ainda “do estilo revolucionário do qual (Guilherme) era integrante, participando de movimentos estudantis e de manifestações contrárias às medidas governamentais, como as invasões de colégios e prédios públicos”.
Trata-se de uma desgraça familiar, algo terrível, sem dúvida, que demanda alguma cautela na hora de comentar. No próprio site do jornal há comentários bem esdrúxulos, como gente celebrando menos um idiota no mundo. Calma, gente! É muito triste que desavenças ideológicas tenham chegado ao ponto insano de um pai tirar a vida do próprio filho e depois a própria.
Sim, é verdade que a extrema-esquerda em nada ajuda ao dividir para conquistar, ao jogar uns contra os outros, e incitar a revolta da juventude contra a própria família. Tampouco ajuda ao praticar essa criminosa doutrinação ideológica nos jovens, a ponto de os pais muitas vezes não mais reconhecerem seus filhos, que tentaram educar com amor e princípios.
Mas não vamos colocar a carroça na frente dos bois. Em primeiro lugar, o exercício de eximir os indivíduos de responsabilidade por seus atos, culpando a “sociedade”, é coisa da esquerda. Logo, não foram os doutrinadores que mataram o garoto, assim como não foi a arma, objeto inanimado. Foi o pai. Ele quem puxou o gatilho, quem quis acabar com a vida do próprio filho.
Podemos entender o desgosto de ver o filho se tornando um revolucionário marxista, deixando a matemática de lado para circular com marginais mascarados sob a influência de oportunistas de plantão. Mas matar? O próprio filho? Não dava para cortar a mesada, colocar de castigo, brigar, conversar (isso pode ser difícil mesmo)?
No limite, não poderia aguardar para ver se a fase idiota passava, lembrando da máxima de que jovens que não são socialistas não têm coração, mas adultos que são socialistas não têm cérebro? O próprio tempo poderia curar a doença, a febre intelectual do rapaz.
O pai se desequilibrou, mostrou-se alguém claramente perturbado, tanto ou mais do que aqueles que seduziram seu filho para o lado sombrio da ideologia. Destroçar famílias é o objetivo de muito revolucionário, desde sempre. Estão conseguindo em muitos casos. Mas chegar a esse extremo é coisa de doente mental. Há malucos de ambos os lados, sem dúvida.
Lamento o ocorrido, pelo pai que surtou e não aguentou a vergonha, pelo garoto que foi morto pelo próprio pai por ser idiota, pela mãe que vira viúva e perde o filho no mesmo dia, e desta forma bárbara. Lamento que o clima de intolerância esteja tão insuportável, em boa parte como obra deliberada das esquerdas, e também pela reação inconsequente de parte da direita, essa ala que festeja “menos um” em vez de demonstrar compaixão pela família destruída.
São sintomas de um mundo doente. Mas calma: tomemos o cuidado de não generalizar. Por enquanto – e esperamos que continue assim – pode ser um caso isolado, de alguém desequilibrado e descontrolado. O que não quer dizer que muitos pais não estejam sofrendo hoje mesmo com seus filhos transformados, adulterados pela ideologia. A esses todos recomendo muita conversa, a despeito das dificuldades, paciência, firmeza e amor.
Esses jovens são vítimas de cafajestes, e estão numa fase de insegurança, de necessidade de crer em utopias, de busca por adrenalina e sentido. Num mundo sem certezas e absolutos, excessivamente materialista e egoísta, o niilismo pode estar logo ali na esquina. E os líderes de seitas fanáticas ou vendedores de drogas saberão explorar bem essas fraquezas, esse desespero existencial.
É preciso cuidar bem dos filhos, educar. E mesmo assim não há garantias. Apesar de todo o sacrifício, a coisa pode dar errado. Nesses casos, insisto, o melhor talvez seja esperar, torcer para que seja uma fase de intoxicação, e fazer o possível para reverter o quadro, para mostrar ao filho que está lá por ele, de qualquer forma, apesar de tudo.
E se nada disso der certo, se for insuportável para os pais observar no que o filho se transformou, sempre há a opção extrema da deserção. Agora, matar? O próprio filho? Isso é impensável, doentio demais, inaceitável. Infelizmente, nesse caso de Goiânia foi o desfecho que tivemos. Uma pena!
Rodrigo Constantino