As declarações do Papa Francisco sobre temas polêmicos, como homossexualidade e abusos sexuais, ora desagradam conservadores, ora desagradam progressistas. Em meio a uma crise da Igreja Católica, o Pontífice recebe críticas dos dois lados da instituição.
Neste domingo, ao voltar de sua viagem à Irlanda, Francisco recomendou que os pais recorram à psiquiatria quando constatarem tendências homossexuais em seus filhos na infância. A frase foi interpretada por muitos como uma referência à “cura gay”, embora ele não tenha usado esse termo, nem tenha deixado explícito que falava de “reverter” a orientação sexual.
Neste domingo, ao voltar de sua viagem à Irlanda, Francisco recomendou que os pais recorram à psiquiatria quando constatarem tendências homossexuais em seus filhos na infância. A frase foi interpretada por muitos como uma referência à “cura gay”, embora ele não tenha usado esse termo, nem tenha deixado explícito que falava de “reverter” a orientação sexual.
— Eu diria, em primeiro lugar, que rezem, que não condenem, que dialoguem, que deem espaço ao filho ou filha — disse o Papa a um jornalista que o perguntou o que ele diria aos pais que observam orientações homossexuais em seus filhos. — Quando é observado a partir da infância, há muito o que pode ser feito por meio da psiquiatria, para ver como são as coisas. É outra coisa quando se manifesta depois dos 20 anos.
Nesta segunda-feira, o Vaticano omitiu a referência à psiquiatria na declaração do Papa sobre homossexualidade na transcrição oficial da Santa Sé.
No último final de semana, um ex-diplomata do Vaticano publicou uma carta em que acusa o Papa de saber que o cardeal americano Theodore McCarrick era assediador. Carlo Maria Viganò, sacerdote conservador e crítico ferrenho de Francisco, alega que o Pontífice ignorou os abusos de McCarrick e chega a pedir a renúncia do Papa. Na mesma carta, o sacerdote culpa “essas redes de homossexuais” pelos escândalos de abuso infantil que ocorrem dentro da Igreja.
Para a especialista em religião e socióloga Maria José Rosado, professora de Ciências Sociais da PUC-SP, Francisco está encurralado em meio a pressões de grupos opostos.
— Ele está acossado. Sofre ataques do setor que domina a Igreja, que é um grupo não só conservador, mas também autoritário. E, se por um lado a sua postura de maneira geral desagrada aos reacionários, o Papa também não consegue atender todos os anseios da ala mais progressista da Igreja.
Na visão da professora, o meio mais eficiente de frear a criminosa prática de abusos sexuais dentro do clero seria realizar uma mudança estrutural da forma como o sacerdócio é feito. Seria preciso, para ela, acabar com a obrigatoriedade do celibato, permitir o sacerdócio de mulheres e repensar a visão da Igreja sobre a moral sexual, de modo que a reprodução não fosse mais entendida como o único fim de relações sexuais.
O meu foco aqui não será a questão da homossexualidade, e sim do abuso sexual. Muitos querem alterar as tradições enraizadas há séculos na Igreja pois assumem que é o celibato o responsável pelos casos de pedofilia dentro do catolicismo. Mas por mais que casos de abuso dentro da Igreja sejam comuns e ainda assim sempre chocantes, há quem diga que as estatísticas existentes não comprovam uma proporção maior de pedofilia na Igreja do que na sociedade.
No fundo, a pedofilia entre os padres é extremamente rara, afetando 0,3% de todo o clero, segundo estimativas. Este número, citado no livro Pedhofiles and Priests, do historiador não-católico Philip Jenkins, vem do estudo mais completo feito até hoje que descobriu que 2.252 padres pesquisados durante um período de 30 anos apresentavam sintomas de serem atormentados pela pedofilia.
Há um sensacionalismo da mídia quando casos de abuso ocorrem dentro da Igreja, por motivos óbvios: é mais chocante quando pessoas que se propõem a dedicar a vida a Deus cometem atos bárbaros como esse. Há também um viés anticatólico presente na imprensa, quase toda “progressista”. A esquerda, como sabemos, precisa minar os pilares da civilização ocidental judaico-cristã, entre eles justamente a Igreja e a família tradicional.
O celibato não tem nenhuma relação de causa com nenhum tipo de vício sexual, incluindo a pedofilia. Na verdade, homens casados são tão suscetíveis à violência sexual de crianças como os padres celibatários, segundo Jenkins. Na população em geral, a maioria dos violentadores são homens heterossexuais reprimidos que violentam sexualmente meninas. Também se encontram mulheres entre os violentadores sexuais.
Dito isso, é claro que há uma cobrança legítima da mídia e da sociedade por uma reação mais enérgica da Igreja quando casos de abuso são revelados. Muitas vezes, com receio de dar corda para a campanha difamatória da esquerda, o clero reage na defensiva e diminui o grau do escândalo, quando não tenta ocultar mesmo os fatos. Isso, como diz Ben Shapiro, é inaceitável, e típico da “mentalidade institucional”, uma forma de coletivismo. Para preservar a sua “tribo”, deixa-se de condenar os erros do “seu” time.
Para Shapiro, deveria ser exatamente o contrário: quem quer preservar a instituição a longo prazo tem a obrigação de sair da toca nessas horas e condenar sem medo os erros e absurdos que são cometidos dentro de sua instituição. É a única forma de depurar a coisa, de separar o joio do trigo, e de manter as pessoas boas por perto. Muitos devem ter se afastado da Igreja Católica justamente por considerar sua postura tímida demais com esses padres abusadores.
O abuso sexual de menores é um dos crimes mais hediondos que podem existir, pois destrói toda a inocência, os sonhos, a sexualidade normal em uma pessoa. É preciso ter um grau de perversidade muito grande para seduzir alguém menor de idade e ignorar os efeitos terríveis que isso pode causar na menina ou no menino. Mas não são só padres que fazem isso. Tem muito pai de família, com filhas, frequentador de cultos ou da igreja para manter as aparências perante a sociedade, que enxerga nos adolescentes um potencial alvo de sedução. Se a homossexualidade é caso de psiquiatra eu não sei, mas esses sim, são casos de psiquiatria, sem dúvida. E também de polícia.
Rodrigo Constantino
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