O presidente Jair Bolsonaro rebateu na noite desta quinta-feira (18) as críticas de eleitores à indicação de seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), para o cargo de embaixador nos Estados Unidos.
Em transmissão ao vivo nas redes sociais, ele disse que pretende beneficiar seu filho, que não pode fazer nada se as pessoas deixarem de votar nele pela indicação.
“Lógico que é filho meu. Pretendo beneficiar um filho meu, sim. Pretendo, está certo. Se puder dar um filé mignon ao meu filho, eu dou. Mas não tem nada a ver com filé mignon essa história aí. É aprofundar um relacionamento com um país que é a maior potência econômica e militar do mundo”, disse.
“Pretendo encaminhá-lo, sim. Quem diz que não vai votar mais em mim, paciência”, ressaltou. “Em algumas coisas vou desagradar a vocês”, acrescentou.
O presidente afirmou que seu filho é preparado para a função e que se fosse uma pessoa sem princípios, ele o indicaria para um cargo ministerial com um grande orçamento.
“Eu vou defender meu filho. Ah, o cara é fritador de hambúrguer. Além de fritar hambúrguer, ele entregou pizza também, pode colocar ai na matéria”, ressaltou.
É claro que a fala do presidente não foi feliz. O que ele provavelmente quis dizer é que poderia favorecer seu filho, mas não se trata disso nesse caso da embaixada, que é uma decisão estratégica pensando nos melhores interesses do país. Mas o tiro saiu pela culatra, e é sempre um risco deixar Bolsonaro improvisar.
O fato é que essa escolha tem sido péssima mesmo, com grande desgaste mesmo na base eleitoral do bolsonarismo. Muitos têm criticado, e alguns já divulgam “memes” alegando que votaram em Bolsonaro, mas não apoiam uma “papitocracia”.
Ao reagir dessa forma, desdenhando do próprio eleitor, falando que se não quiser votar mais nele “paciência”, o presidente demonstra um grau preocupante de arrogância, mostrando-se blindado contra críticas construtivas.
Há quem acredite que tudo feito pelo presidente visa ao melhor para o Brasil, mas seria mais saudável ter uma visão mais cética: foram quase 30 anos de Congresso como deputado, três filhos que também viraram políticos na esteira do nome do pai, e até o mais novo já tem desfilado em comitivas ao lado do papi para ganhar algum destaque. A formação de clãs políticos, de dinastias, não é algo compatível com uma República, muito menos com viés conservador.
Desconfiar das intenções de políticos é quase uma obrigação de quem pretende fazer análise política. Ao insistir nessa indicação, apesar de tanta resistência, Bolsonaro dá sinais de que vai se distanciando do povo e se fechando numa bolha própria.
Flavio Quintela, colunista da Gazeta, desabafou: “Pelas minhas contas, nesta semana o bolsonarismo ultrapassou o lulismo em nível de subserviência bovina. Enquanto o beleza surfa do outro lado do mundo, o gado defende sua indicação indefensável e planeja marchar nas ruas a favor de um imposto. E o mito segue tocando o berrante”.
Justiça seja feita, quem convocou nova manifestação não necessariamente deseja mais imposto, mas sim a defesa da reforma tributária proposta pelo governo, ou seja, pelo ministro liberal Paulo Guedes. Ainda assim entende-se o ponto: há quem esteja disposto a marchar pela causa que for, desde que devidamente convocado pelo “mito”. Essa coisa já está virando micareta governista, algo estranho para a mentalidade conservadora.
Culto à personalidade, favorecimento de familiares, manadas tentando intimidar críticos nas redes sociais: há várias características neste governo que incomodam ou deveriam incomodar qualquer conservador de boa estirpe.
Rodrigo Constantino
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