Já disse isso várias vezes, mas repito: “o” fenômeno da era moderna é o distanciamento cada vez maior entre a elite “formadora de opinião” e o povo. A turma da esquerda caviar que vive numa bolha realmente parece crer que sua agenda “progressista” é a mesma da população em geral. Por essa ótica, casamento gay, legalização de aborto e drogas, e “identidade de gênero” seriam os temas mais importantes do planeta, não saneamento básico, emprego, transporte e segurança.
Temos um bom exemplo disso no GLOBO hoje. O jornal carioca dedicou uma página inteira ao assunto da Parada Gay, que estaria enfrentando dificuldades financeiras por falta de apoio da Prefeitura e de empresas estatais como a Petrobras. Ora, o Rio está falido, quebrado, mergulhado numa enorme crise econômica e social, refém dos marginais, está, enfim, definhando. A Petrobras foi destruída pelo PT. E eis que uma Parada Gay com menos dinheiro se transforma “na pauta” do dia! Diz a reportagem:
Poderia ser um dia colorido, de lembrar conquistas: afinal, há 27 anos, a Organização Mundial de Saúde (OMS) deixava de classificar a homossexualidade como uma doença. Para a população LGBT que vive no Rio, entretanto, uma coleção de retrocessos em políticas públicas faz deste Dia Internacional Contra a Homofobia uma data cinza. Com a crise financeira, o Rio Sem Homofobia, programa do governo do estado que virou referência mundial, está desmantelado e mal consegue prestar atendimentos. Sem dinheiro, a prefeitura não mantém qualquer programa dedicado ao segmento e já informou que não vai aportar dinheiro nas paradas gay da cidade. Organizadores ainda não sabem como financiá-las. Revoltados, ativistas da causa LGBT fizeram um ato na terça-feira, na Câmara Municipal, pedindo a volta do financiamento à Parada Gay.
O viés da jornalista que assina a matéria, Carina Bacelar, já salta aos olhos na primeira frase: para ela, com mais recursos públicos escassos desviados de outras áreas para esta, o dia seria colorido, para festejar “conquistas”. Quais? Aquelas que vemos nas típicas paradas gays, ou seja, atentado ao pudor, baixaria, hedonismo irresponsável, coisas que muitos homossexuais decentes desprezam, abominam até? Mas para a jornalista se trata de uma péssima notícia:
As más notícias não param por aí: a principal ONG que presta atendimento voluntário a homossexuais na capital — o Grupo Arco-Íris, precursor na parada gay do Brasil e uma das organizações mais antigas do país dedicados a essas minorias — corre o risco de suspendê-los também, abatida pela falta de recursos. Enquanto isso, só a Secretaria de Direitos Humanos do estado registrou 45 casos de homofobia, de janeiro a março de 2017.
Se a causa é tão nobre, se mobiliza tanta gente, a pergunta que não quer calar é: por que precisa de recursos públicos para sobreviver? Por que não pode contar com a contribuição voluntária dos seus adeptos? Afinal, estamos falando de gente rica, de artistas milionários, de “intelectuais” abastados, de toda essa turma poderosa ligada ao movimento LGBT. E não vivem sem uma teta estatal?
Quanto aos casos de homofobia, cabe perguntar quantos são efetivamente frutos de ódio ou preconceito a gays, e quantos são casos comuns de violência com vítimas homossexuais, ou então fatalidades na guerra do submundo do crime e da prostituição, que costumam ser jogadas para crimes de homofobia para inflar as estatísticas.
Além disso, será que não faz mais sentido se preocupar com os milhares de assassinatos na cidade, que não fazem distinção entre gênero, cor ou inclinação sexual? Outro exemplo: só esse ano dezenas de policiais já foram executados por bandidos, mas isso nunca pareceu sensibilizar a esquerda, que adora demonizar a polícia e aliviar a barra de bandidos.
“Estamos cansados”, termina a reportagem, dando voz a uma liderança do movimento LGBT. Será que não passa pela cabeça desse pessoal que a população trabalhadora também está cansada de ser obrigada a bancar essas festas indecentes? Será que não se perguntam se os outros estão cansados de labutar por essa causa em vez de ter melhor policiamento ou saneamento?
O espaço utilizado para essa pauta é mesmo condizente com a demanda dos leitores? Ou é o resultado da cabeça do jornalista, que pensa saber aquilo que o consumidor de notícia quer, ou deveria querer? Talvez, apenas talvez, se os jornalistas saíssem um pouco de sua bolha e realmente escutassem o povo, poderiam ter uma noção mais acurada de quais são as pautas que lhes interessam mais. Dica: a Parada Gay entraria lá na rabeira da lista.
Depois não adianta os proprietários dos jornais reclamarem da queda de assinantes, colocando a culpa nas redes sociais…
Rodrigo Constantino
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