Quando estava a caminho de uma das manifestações pelo impeachment em Copacabana, com meu amigo Alexandre Borges, que é publicitário, ele fez uma ótima analogia, mais ou menos assim: quando Dilma for derrubada e Temer assumir, será a hora de deixar a fase do heavy metal para trás e adotar uma fase de jazz, de bossa nova. Sacada brilhante de uma mente aguçada, acostumada ao poder de síntese.
O que Borges queria dizer é que para derrubar o PT foi preciso muita briga, muita luta, muita guerra de guerrilha, com ataques e bastante barulho, até porque do outro lado havia um exército de mortadelas se agarrando a todo custo nas tetas estatais, dispostos a “fazer o diabo” para permanecer no poder. Uma vez aprovado o impeachment, o país, cansado, precisaria de um alívio, um momento de paz, para aprovar as reformas necessárias e sobreviver, voltar a pensar no futuro.
O PT sofreu um duro golpe nas urnas nessas eleições municipais. Claro, não morreu, e suas linhas auxiliares continuam por aí, como o PSOL com Freixo disputando o segundo turno no Rio (cruzes!). Mas o PT perdeu muito espaço, a Rede de Marina também, e o PSDB social-democrata, por outro lado, cresceu. É uma mudança importante. E por mais que estejamos longe do liberalismo e ainda tenha muito trabalho pela frente, agora é a hora de reduzir um pouco os decibéis e focar na agenda propositiva para reconstruir o Brasil, destruído pelo PT.
“Debater” no nível dos petistas e demais socialistas é empobrecer demais o ambiente intelectual de nosso país. É muito triste reduzir o debate político aos ataques a gente como Jean Wyllys e Freixo, ou às acusações a Lula, Mantega, Palocci e companhia. Claro, isso ainda é fundamental, é parte da guerra, e enquanto o inimigo da liberdade não estiver morto politicamente, não é possível relaxar.
Mas acredito – e tenho esperanças – de que é chegado o momento de elevarmos o nível. Na época da Veja, cheguei a escrever um texto explicando que o PT me fazia ser uma pessoa pior, justamente porque me forçava a reagir, a rebater mentiras e absurdos, com um cinismo jamais visto antes, um jogo sujo e baixo. Quando estreei na IstoÉ, a mensagem foi exatamente a de que pretendia subir o nível. E assim tem sido.
Mas o estrago da campanha difamatória dos petistas foi feito. Claro, cometi meus excessos, exatamente porque tinha de lidar com cafajestes, com blogueiros sujos a soldo de uma quadrilha, como agora está visível para todos. Só que a campanha petista de que liberais como eu são “radicais”, “extremistas”, surtiu efeito, e muitos, que sequer me acompanham, repetem isso por aí, só porque escutaram de “formadores de opinião” que recebiam fortunas do estado para defender o PT e difamar seus opositores.
Quando o Partido Novo publicou em sua página do Facebook a entrevista que fiz com o candidato Leandro Lyra, por exemplo, alguns simpatizantes do partido (supostamente) foram lá criticar, me atacar, repetir que o Novo estava se queimando. A resposta oficial do partido foi educada, lembrando que eu era o entrevistador, não o entrevistado, e que quem levava a mensagem em nome do Novo era o candidato, que acabou eleito vereador no Rio.
Ora, fui um dos que mais ajudaram a divulgar o Novo no começo, muitos que seguem hoje o partido chegaram até ele graças aos meus esforços de divulgação. Mas alguns recém-chegados acham que associar o Novo ao meu nome é furada, pois sou muito “radical”. Sinal de que a campanha difamatória do lado de lá repercutiu, e que gente mais neutra chegou ao partido, mas não quer saber de uma agenda realmente liberal. Aceitam no máximo um PSDB higienizado, ou uma Rede menos sonhática.
Considero radical todo aquele que me acusa de ser radical sem apresentar provas. O que leram de minha autoria? Quais livros? Quais artigos? Acompanham meu blog? Ou me conhecem por terceiros, por meio do que os outros falam por aí? Pois é. O que há de tão radical assim em pregar o livre mercado, um estado mínimo, valores tradicionais como a decência, a responsabilidade individual, a meritocracia? É radical aquele que aplaude Reagan e Thatcher?
Mas quem não tem argumentos prefere os rótulos, e eis que é perfeitamente possível alguém defender um Marcelo Freixo da vida, assumidamente socialista, cujo partido aplaude a ditadura venezuelana, um defensor dos black blocs e do terrorista Marighela, e logo depois me chamar de radical. Sim, eu seria o radical, enquanto o socialista Freixo é o “moderado”. Que piada!
Vejam só como essa gente reage quando diante de fatos e argumentos. Uma leitora minha divulgou um vídeo que publiquei sobre Saul Alinsky, o guru ideológico de Hillary Clinton. Nem há quase texto meu: me limitei a publicar o vídeo legendado. Mas eis o que uma conhecida sua escreveu:
Naziofascista? Eu?! É esse tipo de coisa que cansa. Merecia até um processo judicial, não é mesmo? O que essa senhora sabe sobre o nacional-socialismo? Será que tem ideia de como o programa do Partido dos Trabalhadores de Hitler tinha afinidade com o socialismo? Será que sabe como atacava o liberalismo, o individualismo, a propriedade privada, o lucro, o livre mercado, as coisas que eu defendo? E o fascista Mussolini, será que ela sabe como ele bebeu de fontes socialistas, de como defendia tudo pelo estado, o oposto do que prego?
Não sabe de nada disso, claro. Ou se sabe é canalha. Mas eis que a moça encerra o “debate” com esse rótulo: “naziofascista”. E com isso sente que não precisa mais refletir sobre o que é dito acerca daquele radical assumido que tanto influenciou Hillary, ela mesma tida como “moderada”, enquanto quem aponta para tais fatos é tido como o radical na história. Percebem como a esquerda inverte absolutamente tudo?
Com pessoas desse tipo é simplesmente impossível travar um debate sincero, calcado em argumentos. Resta só a lei ou um “cala boca, Magda”. Mas o propósito desse texto não é tanto mostrar como esses radicais de extrema-esquerda acusam os outros daquilo que são, e sim argumentar com o nosso lado que está na hora, creio, de começar a ignorar mais essa turminha do barulho e focar nas propostas, nos debates construtivos, de olho nos leigos, nos neutros, naqueles que não se interessam tanto por política, mas sabem que as coisas precisam mudar.
É hora de explicar em detalhes por que elas precisam mudar, como devem mudar, e para onde devemos ir. Em suma, chegou o momento de discutirmos as propostas efetivas. E devemos fazer isso com calma, tranquilidade, e otimismo. Sei que nem sempre é fácil controlar a raiva diante das táticas pérfidas da extrema-esquerda, que continua viva e atuante, apesar de enfraquecida.
Mas rebater no mesmo tom pode até nos acalmar e trazer regojizo, só que não vai persuadir os mais leigos. E não queremos pregar só para os “convertidos”. Queremos atrair a sociedade toda para o lado liberal, convencendo-a de que apenas a agenda do liberalismo pode salvar o Brasil do caos que a esquerda nos jogou. Vamos, então, de jazz agora. Um jazz suave. O heavy metal foi fundamental para a conquista do impeachment. Mas é hora de focar nas mudanças positivas à frente.
PS: Não garanto ao leitor mais refinado que serei capaz de me conter sempre, mas prometo respirar fundo a cada texto de um Greg, de um Verissimo da vida. De vez em quando sei que vou abrir exceções e rebater suas baboseiras de forma direta, entrando de sola, primeiro para relaxar um pouco (também sou filho de Deus), depois para entreter uma parcela de minha audiência, que adora ver o circo pegar fogo. Mas a prioridade agora é mesmo deixar esses idiotas radicais falando sozinhos e focar nas mudanças necessárias para nosso país. O Brasil tem sede por liberdade. O Brasil tem pressa.
Rodrigo Constantino
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