O deputado Paulo Eduardo Martins resolveu entrar na polêmica sobre a tal “nova direita”, com base nos ataques de Eduardo Bolsonaro contra a “direita doriana”, que respingou inclusive em nomes acima de quaisquer suspeitas associados à direita. A abordagem de Martins foi histórica:
Roberto Rachewsky comentou sobre a fala:
Ouvindo hoje o podcast do jovem e talentoso jornalista e político Paulo Eduardo Martins, sobre o episódio polêmico, promovido pelo Eduardo Bolsonaro a respeito do que seria a chamada “Nova Direita”, escutei mais uma vez a narrativa de que as ideias conservadoras e liberais no Brasil teriam começado a ser difundidas a partir das iniciativas de Olavo de Carvalho e do Instituto Mises Brasil, importantes para a divulgação dessas ideias sim, mas nunca os precursores desse trabalho.
É preciso fazer justiça a homens como Donald Stewart Jr., fundador do Instituto Liberal do RJ, que entre diversas obras, publicou A Revolta de Atlas, de Ayn Rand e Ação Humana, de Ludwig von Mises, que ele mesmo traduziu, entre inúmeras outras que serviram para preencher uma lacuna editorial que existia na época.
Como esquecer de Henry Maksoud e Jose Stelle, que difundiram o trabalho de Friedrich Hayek, tendo Stelle sido o tradutor e editor de algumas de suas obras?
Como esquecer o trabalho, dos gaúchos do IEE – Instituto de Estudos Empresariais e do Instituto Liberdade, Winston Ling, William Ling, Leonidas Zelmanovitz, Andre Loiferman, entre tantos outros, que por anos foram os maiores difusores do pensamento liberal no Brasil?
Certamente, Rodrigo Constantino, Helio Beltrão e outros líderes dos movimentos liberal e conservador dos dias de hoje no país, devem ter bebido de uma dessas fontes.
Por sinal, é bem provável que o próprio Olavo de Carvalho, com quem estive pela primeira vez no Fórum da Liberdade no início dos anos 90, quando ainda mal era conhecido do público, tenha deixado de ser socialista exatamente pelo trabalho dessa turma mais antiga, na qual me incluo.
Lembro que os precursores desse movimento, que hoje se expande exponencialmente, começaram sem fontes literárias disponíveis, sem internet e sem a mesma liberdade de hoje.
A defesa das ideias liberais e de seus ideais era feita por nós, mais pelas convicções pessoais do que propriamente a partir de ideologias sistematizadas, o que somente se tornou possível depois que nos organizamos em torno dos institutos acima mencionados.
Repito, o trabalho do Paulo Eduardo Martins, do Rodrigo Constantino, do Helio Beltrão e do Olavo de Carvalho, entre outros, é inestimável.
Porém, as raízes que deram origem a todos os diferentes ramos do que chamam de “direita”, foram plantadas lá atrás, por pioneiros, dos quais alguns deles nem estão mais entre nós.
É importante quando se colhe os frutos de uma árvore vital saber quem foram aqueles que a plantaram em primeiro lugar.
Concordo. Falo por mim: nunca tive a pretensão de ser original. Bebi da fonte de gigantes. O liberalismo e o conservadorismo de boa estirpe, que formam a tal nova direita, não nasceram hoje. E respeitar seu histórico é reconhecer o mérito de tantos que carregaram o piano nas costas, quando eram meia dúzia e sem redes sociais. Penso muito dessa forma: passar a tocha acesa, manter a chama viva.
Hélio Beltrão comentou na mesma linha, afirmando que “nós estamos apenas passando o bastão, fazendo nossa pequenina parte. Nos apoiamos nos ombros dos gigantes que você mencionou”. O próprio Paulo compreendeu os pontos e acrescentou: “Eu simplifiquei e me ative ao boom pós-internet e acabei sendo injusto com esses homens fantásticos. Vou corrigir isso numa análise mais pormenorizada”.
É esse o tom. Estamos numa luta contínua, que não começa com um ou outro nome, tampouco acabará com eles. É um processo que vem ao longo do tempo, em que cada um contribui com sua parcela, tenta agregar uma peça extra na construção de um movimento de direita, que deve ter sempre sustentação em boas ideias, na cultura, nos princípios.
Não temos um messias salvador da Pátria na direita, tampouco está ligado ao pensamento conservador algum tipo de militarismo nacionalista para impor a “ordem e a moral”. É preciso ter mais base para compreender o fenômeno da nova direita. Caso contrário, o sujeito poderá ficar aprisionado na década de 1960, ou achando que o nióbio é nossa salvação…
Rodrigo Constantino
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