Minutos antes da conclusão da votação da reforma da Previdência em segundo turno na Câmara, o ministro da Economia, Paulo Guedes, despontou na entrada da Casa, subiu ao plenário e foi à mesa diretora. Encerrou a votação abraçado ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ambos ladeados pelo ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.
“Vim aqui cumprimentar o excelente trabalho da Câmara, o excelente trabalho de coordenação pelo presidente Rodrigo Maia. Estou muito feliz com o apoio da Câmara dos Deputados”, disse Guedes, ressaltando a satisfação com o resultado.
“Estamos celebrando um resultado extraordinário da Câmara, aprovando tão rapidamente no segundo turno uma reforma que muda o futuro do Brasil”, disse Guedes. “Quero dar os parabéns aos meus heróis aqui, Marinho que lutou por isso, quero ver se acho o Rodrigo Maia”, afirmou em meio aos abraços na chegada.
Reconhecer o trabalho de Maia em prol da reforma é questão de justiça. O presidente da Câmara fez muito para que ela fosse aprovada com o mínimo de desidratação mesmo, inclusive indo contra o próprio presidente Bolsonaro quando este lutou para manter privilégios de policiais. Maia comentou nas redes sociais:
A nossa vitória hoje no segundo turno da reforma da Previdência é uma demonstração de que a Câmara tem construído o diálogo. Mesmo em um tema onde há tantas divergências, houve o respeito e o espaço para o diálogo entre todos os partidos.
É também uma demonstração do comprometimento dos deputados com um tema tão importante para o país. Reformar a previdência é reduzir desigualdades. E reduzindo as desigualdades, com certeza estamos contribuindo com o Brasil.
Bancos, consultorias, ninguém nunca projetou que chegaríamos a uma economia de 915 bilhões, mais os 200 bilhões da MP 871. Fomos além das previsões mais otimistas. A Câmara mostrou que tem responsabilidade e que tem compromisso com esta agenda. Agora é com o @davialcolumbre.
Não obstante, a ala olavista do bolsonarismo segue detonando Maia e incapaz de reconhecer seus méritos. Na cabeça deles, o “guru” Olavo de Carvalho fez mais pela reforma do que o presidente da Câmara, sendo que Olavo preferia falar sobre terraplanismo enquanto Maia se esforçava na articulação com seus pares, para atrair votos.
A narrativa antipolítica, que demoniza o Congresso, em nada ajuda o governo Bolsonaro. Mas parece irresistível para essa turma mais jacobina. Ironicamente, Maia teve grande mérito na reforma que pode garantir a reeleição de Bolsonaro e, com isso, alimentar o projeto autoritário de poder dos olavetes, que basicamente nada fizeram pela reforma. Faz parte do jogo…
PS: Sei que para a mentalidade binária e tribal dos olavistas é complicado entender isso, mas é perfeitamente possível elogiar o trabalho de Maia pela reforma, e critica-lo por várias outras coisas, como, por exemplo, pela declaração que deu sobre a medida que elimina a obrigatoriedade das empresas de publicar balanços em jornais. Maia está defendendo uma reserva de mercado, um “cartório”, enquanto o presidente Bolsonaro, nesse caso, está certo, ainda que pelos motivos errados (quis retaliar a mídia, nada mais). A análise independente não se encaixa em narrativas de torcida organizada de time de futebol. A política é mais complexa do que isso.
Rodrigo Constantino