Caro Fábio,
Li outro dia numa notinha no GLOBO que você vem tentando me processar faz tempo, mas que nunca estou no endereço informado. A insinuação – não sei se sua ou da jornalista – era a de que sou uma espécie de foragido da Justiça, que desaparece para não ter de enfrentar processos judiciais. Não é nada disso.
Já sofri alguns processos, e ganhei todos. Um deles contra o PT. Ocorre que vivo nos Estados Unidos há quase quatro anos, com visto de residente, o que é informação pública, e para você levar adiante o processo em que pede R$ 100 mil de indenização, teria de fazê-lo por carta rogatória, o que leva anos de burocracia com resultados incertos. É por isso que gente como Olavo de Carvalho diz o que diz nas redes sociais sem medo de processos judiciais: goza da proteção de viver em outro país.
Sou ferrenho defensor da liberdade de expressão, e detesto qualquer coisa que cheire como censura ou intimidação. Claro, todos que se sentem atingidos injustamente têm o direito de buscar a Justiça para eventuais reparações por injúria ou difamação. É a lei. Digo, porém, que estou seguro de que você perderia seu caso contra mim. Qualquer juiz sensato entenderia que eu apenas fiz uso de uma informação pública – seus problemas de dependência química – não para injuriar sua pessoa, mas sim para atacar o PT.
Se recordar, o que eu dizia no texto é que você teria tido uma recaída, pois estava defendendo o governo petista. Ou seja, o alvo não era seu problema de vício, e sim o PT, comparado por mim a uma droga pesada. Meu objetivo era detonar o petismo, o que venho fazendo desde sempre. E sim, expor artistas que usam a fama para defender o indefensável.
Mas entendo que tenha ficado incomodado, e foi por isso que retirei voluntariamente o texto do blog. Acho que vivemos numa era de excessiva “sensibilidade”, e todos ficam ofendidos com tudo. Ainda assim, nunca foi minha intenção ridicularizar alguém que sofre de uma doença, até porque tenho gente próxima na mesma situação, e posso atestar que não é nada engraçado.
Resolvi escrever esse pedido público de desculpas, portanto, não pela notinha, mas pelo que você fez em relação a uma música que anda circulando com o seu nome, fazendo troça com o “agir doidão”. Sua reação foi decente e me surpreendeu. Em vez de buscar processar a banda, você a procurou e entrou num acordo para reverter a receita online para causas que ajudem os dependentes químicos. Foi um gesto nobre, mais tolerante com as brincadeiras (ainda que de mau gosto) e com a liberdade de expressão. Censura é coisa de autoritário.
Tenho um texto antigo do qual me orgulho, da época da Veja, em que afirmo que o PT me faz ser uma pessoa pior. Nessa batalha para livrar o Brasil dessa máfia vermelha, muitas vezes nos esquecemos de valores mais elevados, humanitários. Qualquer um que apoiasse publicamente essa quadrilha nefasta teria em mim um adversário intransigente. Mas isso não me dá o direito de pisar na ferida do outro só para atingir o PT. Ou melhor: até tenho esse direito legal, mas não deveria usá-lo, por colocar outros aspectos à frente.
Eu desejo sinceramente que você consiga superar essa fase e que a dependência química se torne uma lembrança triste do passado, e sirva a todos como lição dos perigos das drogas. Sua recuperação pode atuar como fonte de esperança para muitos. Seja um bom exemplo, uma referência positiva do poder de superação. Assim como eu pretendo ser uma referência de postura, alguém que combate com firmeza todo defensor do petismo, mas sem ultrapassar a linha da decência. Se a comparação com as drogas lhe ofendeu, eu deixo aqui registrado meu pedido de desculpas.
Um abraço,
Rodrigo.
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