Do Big Brother Brasil diretamente para o Conversa com Bial. O apresentador que antes dava um jeito de filosofar em meio àquelas bobagens ditas pelos participantes do BBB, agora pode falar mais sério com gente mais séria, sobre assuntos mais sérios. Foi o que aconteceu, por exemplo, quando convidou o editor Carlos Andreazza e Ricardo Lísias, o autor pseudônimo de Eduardo Cunha, para falar sobre censura e liberdade de expressão.
O programa pretende claramente substituir o de Jô Soares, que dominou o horário por vários anos. O estilo é similar. Mas espera-se que Bial não demonstre o mesmo viés ideológico de Jô, que tinha claras simpatias pela esquerda, mesmo a radical. Certa vez foi elogiar até o tirano Fidel Castro (deve ter achado que ainda tinha o quadro de humor do passado), e levou uma bordoada de Ives Gandra Martins merecida.
“Isso é um genocida”, resumiu o Dr. Ives Gandra enquadrando o entrevistador. Sem falar de quando Jô resolveu bancar o advogado de Dilma, naquela “entrevista” patética que mais parecia saída do departamento de marketing da petista que destruiu o Brasil, ao lado de seu companheiro Lula. Comentei aqui o papelão, num dos meus textos mais compartilhados até hoje.
E por que digo que isso não é o que se espera de Bial? Porque, para todos os efeitos, Bial se diz diferente. O jornalista esteve inclusive no lançamento de um livro meu, cujo título era justamente Liberal com Orgulho, e isso, no meio onde ele vive, perto demais do Projaquistão, é um ato de coragem que merece respeito. A menos que ele tenha confundido liberal com o conceito usurpado pela esquerda americana – e não parece ser o caso, pois ele disse que lia minhas colunas no GLOBO e gostava – Bial estava confessando ali o inconfessável para muitos jornalistas e “globalistas”: ele era um liberal.
Mas a luz amarela acendeu quando ele foi entrevistar Mujica, o ex-presidente do Uruguai, que virou guru da esquerda por sua suposta simplicidade – e a liberação da maconha deu uma mãozinha, é verdade. Não foi uma entrevista que se espera de um liberal, colocando o socialista contra a parede com perguntas incômodas de como foi capaz de defender os bolivarianos, o PT no Brasil etc. Ao contrário: houve bajulação, pecado para jornalistas em geral, mais ainda para um liberal.
E eis que chegamos ao programa desta terça. O assunto: as torturas e mortes da “ditadura”, ou seja, do regime militar. Sim, ainda estamos presos no passado, reféns dessa época, pois sem o vitimismo a esquerda não sobrevive, não tem mais nada, já que não dá para falar do resultado de suas ações no poder. Lá estavam o filho e a viúva de “Vlado”, o jornalista Vladimir Herzog, e também a jornalista Míriam Leitão e seu filho, autor de um livro sobre o assunto.
Vejam bem: não nego que essas pessoas sofreram com o arbítrio do regime, não lhes tiro o direito de cobrar mais informações ou mesmo Justiça. Mas calma lá! Não é razoável vender a narrativa de que pessoas do bem, democratas, defensores da liberdade, lutavam contra uma terrível tirania e pagaram com suas vidas ou com torturas por isso. Essa narrativa não cola, e jamais deveria ser aceita por quem se diz um liberal.
Eram comunistas. Atentai, por favor: comunistas. Aliás, a quantidade de Vlad na turma era grande, em homenagem ao guru Lenin (e hoje precisam engolir a referência ao outro, Putin). O que esses jovens desejavam não era libertar o Brasil de um regime opressor, menos ainda pregar a democracia liberal; eles queriam instaurar no país o regime cubano, soviético! E quase conseguiram. E depois de 30 anos, quase conseguiram novamente, com o PT jogando o Brasil rumo à Venezuela. Eram os mesmos nomes, os mesmos objetivos.
Portanto, que falem dos casos particulares de abuso de poder, de sofrimento, pois isso é do jogo, e filhos ou viúvas sempre tenderão a focar nesse aspecto mais pessoal. Mas não venham impor toda uma narrativa falsa, de que gente boazinha foi atacada do nada por ditadores sanguinários cruéis, pois essa é a história de Cuba, que eles defendiam, não do Brasil, onde cerca de 400 pessoas foram mortas ao longo dos 20 anos de duração do regime. Na pequena ilha caribenha, que arrancava suspiros de emoção dessa gente, foram dezenas de milhares executadas no paredão de Fidel.
A viúva de Herzog colocou na conta dos militares até a violência atual no país, que mata 60 mil pessoas por ano (lembram dos 400 comunistas em duas décadas da era militar?) por causa da impunidade. Mas a impunidade é pregada pela mesma esquerda, que não aceita o endurecimento das penas que os direitistas como Bolsonaro defendem, ora bolas! O filho de Herzog comparou os pobres das periferias “sofrendo” na mão da polícia com aqueles que foram levados pelos torturadores naquela época de Guerra Fria. Assim não dá!
E em meio a essa inversão absurda e todo esse show de vitimização, que no fundo enaltece a luta comunista do passado e demoniza as Forças Armadas como um todo, além de sobrar para “os que querem a volta daquela terrível ditadura”, lá estava Pedro Bial, o “liberal”, cheio de orgulho por ter entrevistados tão ilustres, guerreiros da democracia e da liberdade. Gente como Míriam Leitão, que continuou de esquerda, e que jamais fez um mea culpa corajoso como o de Fernando Gabeira, por exemplo, que admitiu que sonhou o sonho errado, que aquela turma queria era outra ditadura, muito pior, e não uma democracia.
Se continuar assim, Bial vai realmente substituir Jô Soares à altura, sem que ninguém note a diferença, à exceção da pança menor. E essa altura é de estatura reduzida, de quem não tem a coragem de colocar o dedo na ferida, de romper com a narrativa falsa e hipócrita dessa esquerda.
Rodrigo Constantino
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