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Perda de meio milhão de assinantes em apenas três anos impõe desafio aos jornais brasileiros

O fenômeno é mundial, e em boa parte se deve ao avanço das redes sociais. Os veículos tradicionais de imprensa escrita têm sofrido com essa concorrência e não encontraram ainda um modelo ótimo de negócios, que possa manter o trabalho custoso de jornalismo.

A internet ajudou muito a disseminar a cultura do “tudo grátis”, especialmente entre os mais jovens. No Brasil isso é ainda pior, pois a típica mentalidade de “carona grátis” está bem enraizada no povo. Tenho vários leitores que reclamam do conteúdo fechado para assinantes no blog, como se os recursos para bancar a estrutura toda caíssem do céu ou brotassem do solo.

Outro aspecto é que cada indivíduo passou a ser, de certo modo, um “jornalista”, pois basta um celular na mão para filmar algum evento, para mostrar alguma coisa fora do lugar, para confrontar uma autoridade na rua. Não é exatamente igual, mas faz as vias de um trabalho jornalístico.

A própria velocidade da internet impõe enorme desafio. Falta tempo para apurar as notícias com cautela, para produzir uma reportagem de fôlego. Na obsessão por clicks, o sensacionalismo substitui o jornalismo, e a pressa é inimiga da perfeição, como diz o ditado.

Ao mesmo tempo, temos o agravante do fator ideológico, que Trump soube utilizar tão bem em sua campanha, atacando as “Fake News”. O viés esquerdista na mídia mainstream salta aos olhos, e em alguns casos virou torcida partidária escancarada em vez de instrumento de informação minimamente imparcial. A perda de credibilidade tem sido grande e isso afeta as assinaturas.

Por fim, o custo da assinatura dos jornais brasileiros, em média, ainda é muito elevado, especialmente se comparado ao do exterior. Alguns veículos, como a própria Gazeta do Povo, têm feito promoções agressivas de desconto, mas desembolsar US$ 10 mensais para assinar a Folha ou o Globo parece salgado quando pensamos que, pelo mesmo preço, dá para assinar o WSJ.

O resultado disso tudo somado pode ser visto nessa reportagem, que mostra como a tiragem dos maiores jornais despencou nos últimos três anos, com uma perda de meio milhão de assinantes no total:

Os principais jornais diários do Brasil continuaram a registrar perdas em suas tiragens impressas em 2017. A queda no ano passado foi de 146.901 exemplares na circulação média diária para 11 dos principais veículos nacionais.

A tendência vem se repetindo há 3 anos.

De 2015 a 2017, a redução na circulação média diária impressa foi de 520 mil exemplares.

Em dezembro de 2014, a tiragem impressa total desses 11 diários era de 1.256.322 exemplares em média por dia. Em dezembro de 2017, o número havia caído para 736.346 –o equivalente a uma redução de 41,4%.

Vejo a coisa com um misto de otimismo e preocupação. O otimismo vem do fato de que isso é em parte uma reação do público, cansado de um produto distorcido, com forte viés ideológico de esquerda, que manipula as informações, que faz chamadas sensacionalistas, que apela para o duplo padrão com frequência, para poupar os companheiros e demonizar os adversários, que, em suma, age como uma fábrica de “Fake News”. O mercado pune esse comportamento.

A preocupação deriva da noção de que não é nada trivial substituir essa pesada estrutura de jornalismo, e falo isso como um blogueiro com relativo sucesso de audiência. Sei perfeitamente que acumulei esses milhares de leitores por conta da sinceridade, da honestidade intelectual, da coragem de remar contra a maré vermelha e a patrulha do politicamente correto.

Mas um blog de opinião não é um substituto para o jornalismo investigativo. Reparem que eu mesmo uso as reportagens dos principais jornais para comentar em cima, para opinar, para mostrar o viés quando existente, para interpretar de maneira diferente os fatos. Mas a apuração dos fatos em si exige um trabalho árduo, uma equipe, e isso custa caro. Vejo meu papel em parte como o de “media watch”, e para isso é preciso ter, antes, o jornalismo. São complementares, de certa forma.

Espero, portanto, que os principais veículos da imprensa brasileira façam duas coisas: percebam o tiro no pé desse viés ideológico, dessa torcida partidária, dessa inclinação constante à esquerda, disfarçada pelo eufemismo “pluralidade” (só se for uma dentro dos 50 tons de vermelho); e que, uma vez migrando mais para o centro e buscando mais a imparcialidade, que consigam viabilizar seus modelos de negócio para preservar o trabalho jornalístico, fundamental para o bom funcionamento de uma democracia.

As discussões no Facebook, muitas vezes acaloradas e pouco iluminadas, não são equivalentes ao velho trabalho jornalístico sério, de checar as fontes, “comer” asfalto, correr atrás do “furo” e investigar políticos. Os jornalistas continuam importantes. Mas deveriam fazer uma autocrítica quanto ao seu forte viés ideológico, que tem afastado tanta gente de suas reportagens…

Rodrigo Constantino

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