Em artigo publicado hoje na Folha, Paulo Câmara, governador de Pernambuco e vice-presidente nacional do PSB, ataca a flexibilização proposta no Estatuto do Desarmamento em votação. Deixando de lado o aspecto antidemocrático da coisa – há dez anos a população brasileira demonstrou em peso ser contra a política desarmamentista – o governador diz que se trata de uma “flexibilização do mal”, que atenta contra a civilização. Diz ele:
Falar em mudança no Estatuto do Desarmamento é querer impor uma cultura da violência, de resolver qualquer questão na base do tiro.
[…]
Qualquer pessoa de bom senso que leia esse conjunto de proposições conclui que o projeto pretende transformar o Estatuto do Desarmamento numa verdadeira Lei de Incentivo ao Porte de Armas. Trata-se de uma aberração, disfarçada de “desburocratização”. É inaceitável.
[…]
As pessoas engajadas na construção de um Brasil civilizado, desenvolvido social e economicamente, têm a obrigação cívica de se mobilizar contra esse retrocesso sem tamanho. Esse encontro é mais um exemplo do espírito de vanguarda dos pernambucanos, que sempre estiveram sintonizados com os ideais progressistas, com as bandeiras baseadas na Justiça e nos princípios democráticos e republicanos.
Se eu entendi bem, quem defende o direito individual de ter ou portar arma não tem bom senso e não quer um Brasil civilizado, enquanto aquele que prega a proibição severa aos cidadãos ordeiros de ter uma arma é um sujeito civilizado que deseja o progresso e a paz. Corrija-me se eu estiver errado, caro governador, mas é o Pernambuco que o senhor governa uma Suíça?
É que lá, pasmem!, há muito mais cidadão armado do que aqui, ao menos legalmente falando. O mesmo para os Estados Unidos. Será que Recife é mais seguro e civilizado do que o Texas? Os tais ideais “progressistas” parecem mais sólidos por aí, governador?
Bandeiras baseadas nos princípios democráticos, o senhor diz. Mas não foi o povo brasileiro, por meio de plebiscito, que em 2005 rechaçou essa política desarmamentista que o senhor defende com tanta convicção? Princípios republicanos? Mas e o direito individual de legítima-defesa, governador? E a segunda emenda constitucional dos Estados Unidos, aquele país “bárbaro” se comparado ao Brasil?
Caro governador, estou hoje morando na Flórida, onde é muito mais fácil possuir arma do que no Brasil. Quando os índices de violência e criminalidade de Pernambuco chegarem ao patamar dos de Weston, peço que me informe imediatamente, para que eu possa abandonar de vez a barbárie do bangue-bangue e migrar para a civilização progressista da paz. Muito obrigado pela atenção.
PS: Enquanto isso, gostaria de recomendar a leitura de Mentiram para mim sobre o desarmamento, de Bene Barbosa e Flávio Quintela. Acho que pode ajudar a elucidar algumas questões e evitar algumas falácias…
Rodrigo Constantino