Por Ricardo Bordin, publicado pelo Instituto Liberal
Sim, é ele mesmo: Apu Nahasapeemapetilon, o dono do mercadinho Kwik E Mart, pai de oito filhos, casado com Manjula e sempre a todos fazendo rir durante os episódios do seriado Os Simpsons. Bom, nem a todos: há um movimento na América para banir o personagem porque, segundo consta, ele seria ofensivo aos imigrantes da Ásia Meridional devido a seu sotaque característico, e o comportamento estereotipado do indiano poderia, assim, desencadear racismo contra imigrantes e seus descendentes.
O comediante indiano Hari Kondabolu, por exemplo, hoje com 35 anos, alega que cresceu nos Estados Unidos assistindo às desventuras dos Simpsons, e que Apu serviu como estopim para muitas zoações no colégio por parte de seus colegas americanos. Alguns dos “bullies” costumavam imitar os trejeitos do personagem na sua frente; outros repetiam frases típicas do comerciante, como “Hello, Mr Homer”, ou então “Obrigado, volte sempre”.
O “traumatizado” rapaz, a propósito, está produzindo um documentário sobre o racismo por trás da imagem do referido personagem, intitulado “The Problem With APu“. Nele, serão retratados outros descendentes de imigrantes indianos que vivem na América e o efeito nefasto de Apu sobre suas infâncias e adolescências.
Interessante notar: o comediante em questão fez fama e dinheiro nos Estados Unidos por meio, justamente, da estratégia de emitir críticas a outros produtores de conteúdo de comédia, apontando, em suas obras e trabalho, supostas menções preconceituosas contra grupos étnicos desfavorecidos pela sociedade (as famigeradas “minorias oprimidas”), exatamente como agora procede contra Os Simpsons. Basicamente, seus shows de stand-up comedyresumem-se a reclamar do privilégio dos brancos e cobrar melhor tratamento para todos os demais – pouco importando, no caso, se os fatos sustentam suas teses.
Hari Kondabolu, todavia, representa muito bem dados estatísticos trazidos à luz do debate por Thomas Sowell: asiáticos fazem parte do estrato social mais bem remunerado na América. Sim, é isso mesmo: o país onde haveria tanto racismo e preconceito a ser combatido – a tal ponto que não custa nada ganhar mais alguns milhões de dólares choramingando a respeito em um filme – tem como integrantes de sua classe mais abastada justamente pessoas que passam o dia reclamando de discriminação.
Os números não mentem: entre os norte-americanos de origem asiática, o censo do ano 2000 mostrou que seus ganhos individuais médios (US$ 40.650) foram superiores à média nacional (US$37.057). Analisados como famílias, receberam 19% a mais que os demais cidadãos, em média (US$59.324 contra US$ 50.046). E isso tudo graças a cultura que tais indivíduos trouxeram de suas terras natais, a qual valoriza o trabalho, o esforço e a iniciativa de empreender. O personagem Apu, ironicamente, é um ótimo exemplo, especialmente se comparado ao vagal Homer.
Fica então a pergunta: se houvesse mesmo tanto desrespeito e desdém para com estas pessoas, como alegam aqueles que querem banir Apu, será mesmo que os asiáticos se dariam tão bem em suas jornadas na América? Indo além: por que os pais de Hari Kondabolu preferiram sair da economia planificada de viés socialista da Índia nos anos 1970 para experimentar o American Dream na terra dos livres? Será porque a liberdade permite que o sucesso esteja ao alcance de todos, independente de raça, cor e credo? Pergunta retórica: é óbvio que sim – muito embora os ingratos jogadores da NFL (milionários que protestam contra espantalhos criados pela esquerda) precisem aprender muito sobre isso até que parem de desrespeitar o hino nacional.
Outro que se deu muito bem na América, a propósito, foi o escritor e cineasta indiano Dinesh D’Souza – mas este não entra para as estatísticas dos justiceiros sociais, pois é “de direita”, e seu trabalho desmascara figuras como Obama, Hillary e denuncia como falsa toda a história de “luta pelos desvalidos” na qual se apoia o Partido Democrata. Melhor fazer de conta que ele nem existe, portanto. Mas como ensinou John Adams: “Fatos são teimosos; sejam quais forem nossos desejos, nossas tendências ou os ditames de nossas paixões, eles não podem alterar as evidências”. Ou seja, desviar o olhar da realidade não é uma opção.
O que torna ainda mais ridícula a barulheira dos queixosos no caso em tela é que os roteiristas de Os Simpsons não costumam perdoar ninguém: debocham de tudo e todos, e não deixam barato nem mesmo para a FOX, emissora detentora dos direitos de transmissão. No que tange a zombar de etnias, o alvo preferencial é sempre o próprio povo americano. Ou seja, se isto caracteriza xenofobia ou coisa que o valha, então a espiral do silêncio imposta pelos “progressistas” está muito próxima de atingir seu epicentro nos Estados Unidos.
Fiquem atentos: 19/11 é a data de lançamento do documentário supracitado. O tema virá a tona em escala mundial, e se a moda pegar, só irão sobrar opções de entretenimento politicamente corretas. Os Simpsons, em especial, precisarão passar por drásticas alterações conceituais: Bart vai descobrir que é uma menina no corpo de um menino; Moe irá acusar Marge de estupro reverso; o zelador Willie perderá o sotaque escocês milagrosamente; e por aí vai…
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