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Por Lucas Berlanza, publicado no Instituto Liberal

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Na terça-feira das “bombas”, que prometia ser decisiva, praticamente nada ficou decidido. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, alvo de julgamento na Comissão de Ética, estava perdendo por 7 x 1 na sessão que decidiria pela continuidade ou não do processo contra ele, quando foi interrompida. A votação da meta fiscal, em que a presidente Dilma tenta ver suas contas aprovadas, mesmo com previsão de um déficit de até R$ 119 bilhões, também foi adiada. As duas discussões ficaram para esta quarta-feira (02/12). Os dois problemas confluem para uma única questão: o impeachment.

Comecemos pelo caso Cunha. Os deputados petistas, cujos votos podem salvar o peemedebista, ainda não votaram; conheceremos suas posições definitivas hoje. As informações, no entanto, são desencontradas. O presidente do partido, Rui Falcão, se pronunciou recomendando a admissibilidade do processo. Jogo de cena? Divisão interna entre o Planalto e a presidência da sigla, diante do dilema? Não sabemos. Fato é que o nosso nada querido Partido dos Trabalhadores se encontra em uma sinuca de bico; se, depois de toda a árdua campanha promovida contra a figura de Cunha, pelos incômodos causados ao Executivo – verdade seja dita, oportunos e interessantes para o Brasil, já que o sistema precisava mesmo ser chacoalhado, ainda que por uma figura de caráter duvidoso, para usar de um eufemismo -, recorrendo a argumentos que ecoam o discurso das esquerdas radicais de PSOL e quejandos, os representantes do PT ajudarem Cunha, o desgaste já tenebroso da imagem do partido atingirá proporções imprevisíveis. Se, ao contrário, o PT for coerente com essa intensa mobilização, com a até então bastante conveniente pressão midiática contra os malfeitos de Cunha, e votar por continuar o processo, o deputado, que detêm ainda os pedidos de impeachment nas mãos, pode imediatamente levar adiante um deles e lutar para não cair sozinho.

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Ao contrário de Rui Falcão, alguns parecem não ter qualquer vergonha de assumir, para todo mundo, que pretendem ceder à espúria chantagem. Em declarações repercutidas por veículos como o Estadão e a Folha de São Paulo, o deputado petista José Guimarães disse que, se Cunha “for emparedado, ele solta o impeachment e aí é o pior dos mundos”; portanto, diz ele, “não vamos votar pela salvação do Cunha, vamos votar pelo país, pelo emprego, pela economia”, em nome do Brasil (sic). Se todos seguirem seu raciocínio, os petistas vão tentar salvar Cunha. O recado, diante de uma negociata a olhos vistos como essa, em que mafiosos no poder se distanciam por inteiro da sociedade e paralisam o país enquanto cobram uns dos outros tão-somente a contemplação de seus interesses mesquinhos, à revelia da ética e da justiça, vai para vocês, os barulhentos do “Fora, Cunha!”. Aquela gente linda, fofinha, super “pra frente”, que vota no PT ou no PSOL e acredita que a “direita retrógrada de 64” (sic), supostamente representada pelo presidente da Câmara, é o maior de todos os problemas que enfrentamos hoje, enquanto trilhões que somem no Orçamento da União significam menos que nada. Vocês vão se manifestar agora contra o PT? Vão finalmente às ruas contra a Dilma? A BURRICE de vocês é CRIMINOSA! Não se ocultem na própria vergonha agora! Vocês todos são CULPADOS, diretamente responsáveis por tudo isso. A nós, os “malditos coxinhas e baluartes do atraso”, restou apenas a consciência tranquila de que não criamos esse desastre – e é pouco. Não estamos satisfeitos com isso.

Esvaziada, segundo o analista de UOL, Josias de Souza, por influência de Cunha, numa demonstração de poder, também ficou para hoje a continuação da sessão em que o governo tenta aprovar a reforma de suas metas fiscais de 2015. O governo e seus pequenos parceiros vermelhos querem de qualquer jeito que o Congresso ignore o maior rombo de todos os tempos – e o que é pior:até a CPMF foi incluída em destaque do projeto de Orçamento para 2016! O desespero para mexer na Lei de Diretrizes Orçamentárias no ano passado, a denúncia constante das “pedaladas fiscais”, a orientação para condenação das contas pelo TCU, nada disso ensinou coisa alguma aos populistas gastadores do PT. Dilma Rousseff desprezou as leis econômicas e continuou manobrando os recursos do pagador de impostos como bem quis. Está levando o país à bancarrota, gastando até mais não poder, e vê se aproximar o fantasma do “shut down. Que querem eles agora? Com o mesmo discurso de José Guimarães, que disse ser preferível salvar alguém que se considera criminoso de um processo apenas para não colocar a manutenção do (des) governo em risco, querem que finjamos que nada aconteceu, que há dinheiro de sobra, que Dilma não incorreu novamente em crime de responsabilidade, para que ela possa continuar a poder movimentar os recursos e conserve a governabilidade.

Senhores, vamos parar de admitir essa conversinha; a justiça não admite tergiversações. Não há nada melhor para o país nesse momento do que o impeachment de Dilma Rousseff. Do ponto de vista da governabilidade, sem dúvidas, porque ela não tem condições de governar, sob qualquer aspecto por que se encare a questão. Sob o ponto de vista moral, porque decisões como essa deveriam ser técnicas; crimes não podem ser esquecidos, irresponsabilidades não podem ser afagadas carinhosamente. Se Cunha é culpado, que pague. Se Dilma é culpada, que pague! Mesmo que isso nos pudesse submeter a algum trauma, seriam as consequências inevitáveis dos erros que cometemos como nação. Para vislumbrar dias melhores, será preciso passar por esse purgatório – que não será pior do que essa imoralidade surreal a que assistimos.

Aguardamos os resultados das votações de hoje, aguardamos os próximos passos. Contudo, não mais para salvar o país, como se pode salvar um doente. Diante da desfaçatez com a qual um parlamentar pode ir à imprensa afirmar categoricamente que pretende ceder a uma chantagem e poupar um infrator da lei sem ser alvo de todas as principais manchetes; diante da quase normalidade de um reality show com que esse cenário dantesco é noticiado; diante das verborragias animalescas para fazer do perdão incondicional ao crime um ato de caridade para com os brasileiros, que terão de pagar por isso, não sei se posso mais falar que há um paciente vivo para salvar. O Brasil parece estar morto. Trata-se, agora, de ressuscitá-lo.