Agora é oficial: a própria Petrobras estima em mais de R$ 6 bilhões o desvio causado pela corrupção dentro da empresa. Vejam que não é algo dito pela oposição, pelos “neoliberais”, pelos “coxinhas” ou pelos “reacionários”, e sim algo reconhecido pela gestão da própria Petrobras. E, como diz Reinaldo Azevedo em sua coluna de hoje na Folha, não se trata de algo inexorável, como a lava de um vulcão, e sim de algo deliberado:
Esses rombos não pertencem à natureza das coisas, a exemplo da lava de um vulcão, que vai crestando o jardim de Deus e todo o engenho humano, já que as entranhas da Terra não reconhecem nossas precárias delicadezas. Levar a Petrobras à lona decorreu de um plano, de uma decisão, de uma deliberação.
Arranjar os números para que uma empresa possa assimilar um desaforo de mais de R$ 6 bilhões decorrentes apenas do “custo corrupção” não tem paralelo na história do capitalismo. O que se viu na Petrobras, registre-se, capitalismo não é.
É evidente que as responsabilidades individuais e partidárias devem ser buscadas e que os envolvidos em tramoias têm de arcar com o peso de suas escolhas. Mas estou mais interessado na criação de um sistema que cerque as margens de erro e de safadeza –para que os desmandos não voltem a ocorrer– do que em cortar cabeças, ainda que eu não vá chorar por aquelas que eventualmente rolarem.
Esse sistema seria a privatização da empresa, blindando-a do risco de abuso político. Mas como Reinaldo reconhece, mais de 60% dos entrevistados pela pesquisa do Datafolha são contra essa solução. Só pode ser fruto de uma paixão cega, de um preconceito ideológico incutido após décadas de lavagem cerebral. O brasileiro ama aquilo que o mata, como conclui Reinaldo citando Oscar Wilde. O comentário de um leitor do blog mostra bem isso:
Se a Petrobras fosse privada, ela não contrataria empresas nacionais para fazer plataformas e contrataria empresas externas, já que o custo era menor naquela época. Com isso, a indústria naval ressurgiu graças à canetada política gerando empregos (80 mil empregos diretos).
Esse leitor nunca leu Bastiat, por certo. Ignora completamente o conceito de custo de oportunidade, ou aquilo que não se vê. Se o governo torrar bilhões para produzir algo ou gerar empregos, ele irá observar apenas esse lado da equação, e não a alternativa para o uso de tal recurso escasso. Somente isso explica alguém aplaudir a decisão de uma empresa de deliberadamente comprar um insumo mais caro!
Ora, eis o que ele não se pergunta: para onde iria essa economia bilionária se a empresa comprasse sondas mais baratas? Sobraria bilhões para serem investidos em outras áreas, certo? E como ele pode simplesmente ignorar isso em sua análise das “vantagens” da estatal? Resposta: preconceito ideológico ou ignorância econômica.
E olha que basta olhar para a situação da Sete Brasil para constatar que a “brilhante” decisão da Petrobras estatal não deu muito certo. Sua fornecedora nacional, em vez de criar milhares de empregos, está prestes a falir, dependendo de financiamento público, ou seja, de mais do nosso dinheiro para sobreviver. Qual o custo disso para o país? O estatista nunca se pergunta algo assim.
A destruição da Petrobras tem tudo a ver com o fato de ela ser controlada pelo estado. É isso que possibilitou o uso e abuso político da empresa, assim como a instalação de uma verdadeira quadrilha dentro dela. O balanço agora divulgado, com grande atraso, começa a refletir essa destruição que vem de longa data, como diz o editorial do GLOBO.
É um primeiro passo necessário, mas ainda é preciso mudar muita coisa. E o principal é o controle da empresa, que deveria ser privado, sob melhor mecanismo de incentivos. Sem isso, o risco de uso politico estará sempre presente, um convite tentador demais para governantes populistas como os do PT.
Rodrigo Constantino
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