Certa vez, conversando com Luiz Felipe D’Ávila, ele disse que faltava no Brasil um estudo detalhado e completo sobre o elevado custo da descontinuação dos programas de estado por mudanças de governo. Em outras palavras, seria uma forma de medir o custo financeiro do nosso populismo, pois, aceitando-se a definição de Churchill, um populista é aquele que só olha para as próximas eleições, enquanto um estadista olha para as próximas gerações.
O correto, num país mais civilizado, deveria ser os partidos brigarem no campo das ideias pela direção do governo, mas preservar todas aquelas que são políticas de estado. Explicar para um petista, porém, a distinção entre as duas coisas é tarefa hercúlea, fadada ao fracasso. O PT encara o estado como um braço partidário, e confunde o que é programa de estado com programa de governo, colocando tudo a serviço dos interesses partidários, que são basicamente se preservar no poder e enriquecer os “companheiros”.
Não, o PT não inventou o patrimonialismo, esse câncer que nos assola há séculos, misturando a coisa pública com a coisa privada. Mas sem dúvida levou ao estado da arte tal prática nefasta. Merval Pereira, citando o absurdo caso da Secom com suas campanhas pela “paz” usando as nossas estatais, falou do assunto em sua coluna de hoje. Diz o jornalista:
É impressionante como o PT confunde nas mínimas coisas o público com o privado. Agora vem o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), Edinho Silva anunciar que orientou a Caixa Econômica e o Banco do Brasil a veicularem campanhas publicitárias a favor de uma “cultura da paz” entre os brasileiros. Na verdade, o que está preocupando o ministro petista é a freqüência com que personalidades de seu partido têm sido vaiadas em público, principalmente em São Paulo.
[…]
Acontece que o ministro petista está preocupado com a ação de ativistas contra seus colegas do PT ou contra o governo Dilma, e nesse caso quem deveria fazer as campanhas que quisesse seria o partido, não os bancos oficiais.
Não é tarefa do governo entrar em uma disputa política a favor de qualquer dos lados, e nem mesmo considerar que vaias a seus integrantes, por mais que sejam reprováveis, se tornaram uma questão de Estado.
De mais a mais, confundir o PT com os grandes escândalos de corrupção que vão sendo investigados no país desde o mensalão em 2005, mais que atitude política, é apenas uma constatação. Um partido que tem dois tesoureiros presos, um deles já condenado, não pode se considerar injustiçado. Precisa, sim, fazer uma autocrítica e mudar seus métodos de ação. E não proteger os seus que cometeram ilícitos como se fossem heróis de uma grande causa política.
Combater o ódio na política e instaurar uma convivência de harmonia e paz no país depende muito mais de atitudes como essa do que de campanhas pagas pelo dinheiro público, que só fazem aumentar a sensação de que o governo petista usa os recursos públicos em seu próprio benefício, e do partido que o apóia.
Para o PT, tudo acaba no “nós contra eles”, e com base nessa mentalidade tosca, o partido é incapaz de pensar no país, no que é melhor para os governados a longo prazo. Um caso que mereceu destaque no jornal hoje foi o de Minas Gerais, onde o governador Fernando Pimentel vem tentando “apagar” a história da gestão tucana, incluindo os evidentes casos de sucesso:
Uma das principais vitrines dos anos tucanos, o Circuito Cultural da Praça da Liberdade, em Belo Horizonte, que transformou secretarias de estado em museus, teve dois projetos cancelados: o “Cena”, que abrigaria projetos de residência artística, e o Oi Futuro, bancado pela empresa de telefonia. A exposição permanente do Palácio da Liberdade, antiga sede do governo estadual, foi desfeita, e o prédio, fechado temporariamente para visitação.
O programa tucano Educação em Tempo Integral virou Ações de Educação Integral e só autoriza repasses para escolas cadastradas em projeto semelhante já desenvolvido pelo governo federal. A integração administrativa das polícias Militar e Civil, que já seguia em ritmo lento, foi descartada de vez.
– Você pode até reconstruir o futuro, mas não o passado. Isso é coisa inútil para preencher o vazio deste primeiro semestre de governo – critica o deputado Marcus Pestana, presidente do PSDB de Minas.
[…]
— A água suja está sendo jogada da bacia com o bebê junto. Projetos podem e devem ser reavaliados. Mas, em vez de readequar o que estava sendo feito, estão acabando com o construído — critica Chico Pelúcio, do grupo de teatro Galpão.
A postura é típica de quem só pensa em eleições, não no bem-estar da população. No PT, tudo é voltado para o marketing político, para o discurso eleitoral, não para os resultados. Quanto custa isso para o povo? Quanto o abandono de políticas de estado em nome da propaganda de governo prejudica a população? Difícil dizer. Faltam estudos sérios sobre esses impactos financeiros. Mas sem dúvida custa muito caro. É o custo do populismo. É o custo do PT.
Rodrigo Constantino
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS
Deixe sua opinião