Metade das doações de R$ 1 bilhão para as campanhas eleitorais vem de apenas 19 empresas. É a informação divulgada pelo Estadão hoje. Sozinho, o maior deles, o Grupo JBS, doou até agora R$ 113 milhões, ou 11% do total doado. Dona de marcas como Friboi, Swift e Bertin, o grupo tem outras empresas que também doaram, como Seara e Flora Higiene-Limpeza. O PT foi o partido que mais recebeu da JBS por enquanto: R$ 28,8 milhões – ou 1 de cada 4 reais doado pela empresa.
Como uma empresa pode doar, sozinha, mais de R$ 100 milhões para candidatos? Quando lembramos que a JBS tinha um tamanho há alguns anos, e hoje tem um múltiplo de dez desse tamanho, graças às benesses estatais, como os subsídios do BNDES, fica mais fácil compreender os motivos. Siga o dinheiro, como diria o detetive.
Os bancos, que agora são demonizados pela campanha do PT, também são grandes doadores, e o PT é o maior agraciado. Não apenas os grandes bancos de varejo, mas bancos de investimento, como o de André Esteves, participam do financiamento em peso. O BTG Pactual e sua administradora de recursos doaram R$ 17 milhões e estão em décimo lugar na classificação geral. PT e PMDB foram os beneficiários de quase 80% desse dinheiro. Esteves deve ter tido algum sonho otimista com petistas…
Segunda colocada no ranking dos maiores contribuintes com os políticos, a Construtora OAS acumula R$ 66,8 milhões em doações. O PT ficou com quase metade desse dinheiro, ou R$ 32 milhões. Os sócios da OAS saíram do anonimato para a lista de bilionários da revista Forbes em pouco tempo. É a construtora do PAC, uma das que mais cresceram com contratos com o governo.
As construtoras estão expostas pelo escândalo da Petrobras também, denunciadas pelo ex-diretor Paulo Roberto Costa como parte do grande esquema de desvio de recursos. A relação é de total simbiose com o estado. Estima-se em R$ 10 bilhões os desvios na estatal.
Há um risco nas informações disponíveis que comprovam que a política virou apenas um grande negócio: a perda total da fé no processo democrático, não como algo perfeito, o que é impossível quando se trata de seres humanos, mas como um método pacífico de eliminar divergências e avançar na construção de uma sociedade livre e próspera.
Mas há também uma oportunidade: o começo de um processo de desintoxicação, justamente por derrubar antigas fantasias românticas. É a visão otimista que o jornalista Carlos Alberto Di Franco traz em sua coluna de hoje no Estadão:
Indignação? Desencanto? É óbvio. O macroescândalo da Petrobrás promete. O mensalão vai parecer um berçário. O Brasil está piorando? Não. Está melhorando. A exposição da chaga é o primeiro passo para a cura do doente. Ao divulgar as revelações do ex-diretor da Petrobrás, a imprensa cumpre relevante papel: impede que o escândalo fique na gaveta de uma CPI do Congresso. Tem gente que não gosta do trabalho da imprensa. O ministro Gilberto Carvalho, por exemplo, ensaiou uma lição de ética jornalística ao criticar o vazamento do depoimento de Costa: “Vazamento sempre é condenável, porque pode ter sido por advogado de réu para proteger algum réu e prejudicar outro”. E quando o vazamento é feito pelo PT, prática recorrente, tudo bem? A imprensa existe para divulgar informações relevantes. E alguém duvida da importância das revelações de Costa?
Há razões para otimismo? Creio que sim. A Lei da Ficha Limpa começa a dar os primeiro frutos. Paulo Maluf (PP-SP) e José Roberto Arruda (PR-DF), entre outros, podem estar fora das próximas eleições. A promiscuidade entre políticos e empresas parece estar com os dias contados. O Supremo Tribunal Federal, provavelmente, votará pelo fim das doações de empresas na ação movida nesse sentido pela OAB.
A imprensa de qualidade, livre e independente, está aí. Incomodando. Felizmente. Leia jornais. Informe-se. Acredite no Brasil, não em salvadores da pátria. E vote bem. O caminho é longo. Mas vale a pena.
Só não compartilho desse otimismo com a proibição de financiamento de empresas, pois sabemos que ele irá continuar por baixo dos panos, para o caixa dois dos candidatos, o que já ocorre. Mas espero que ele esteja certo quanto ao despertar dos eleitores, cientes cada vez mais das negociatas entre os políticos que falam em nome do povo e as grandes empresas que os financiam de olho no retorno monetário.
Jogando luz sobre tais relações promíscuas, papel fundamental da imprensa independente, teremos alguma chance de, com o tempo, educar melhor o eleitor e fazer com que haja menos romantismo boboca e vítimas da retórica sensacionalista.
Rodrigo Constantino
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