Do lado da oferta a abordagem para inflação é completamente diferente. Como o produto é determinado pelo equilíbrio no mercado de fatores (capital, trabalho e terra) e pela tecnologia disponível a política monetária afeta apenas as variáveis nominais, ou seja, a política monetária não afeta o produto real, apenas o nível de preços. Antes de seguir em frente é válido registrar que é possível fazer modelos pelo lado da oferta onde a política monetária afeta o produto real, porém não pode ser usada de forma consistente para esse fim. Da mesma forma é possível encontrar economistas do lado da oferta argumentando que a política monetária pode causar crises, vide as explicações de Friedman e Lucas para a Grande Depressão, mas novamente não é algo que ocorra de forma regular.
Se a política monetária não reduz preços por meio de uma recessão como ela reduz preços? Por meio dopróprio mercado monetário. Se o governo retira moeda da economia a moeda fica mais valiosa e, portanto, os preços caem. Lógica similar acontece quando o BC aumenta juros, o aumento dos juros faz com que mais pessoas troquem moeda por títulos e isso reduz a quantidade de moeda no mercado levando a uma redução nos preços. Ficou confuso? Eu explico. Se existe menos moeda em circulação pela lei da oferta e da demanda é de se esperar que o preço da moeda aumente, porém, o preço da moeda está estampado na nota e não pode variar, uma nota de cem reais não vai valer cento e cinco reais ou noventa e cinco reais a depender da política monetária. Como então o preço da moeda aumenta? Pela redução no preço das outras coisas. Se com cinco reais eu compro um sanduiche e um refrigerante então posso dizer que cinco reais valem um sanduiche e um refrigerante. Se no futuro com os mesmos cinco reais eu só conseguir comprar um refrigerante então a moeda passou a valer menos, ocorreu inflação, por outro lado, se no futuro eu consigo comprar um sanduiche e dois refrigerantes então a moeda passou a valer mais, ocorreu deflação. Naturalmente a comparação com um ou poucos produtos é arriscada, é possível que o refrigerante tenha ficado mais caro, talvez por alguma lei de desincentivo ao consumo de açúcar, e não a moeda tenha ficado mais barata. Por isso é comum medir o valor da moeda por uma cesta de bens e serviços, um aumento generalizado nos preços da cesta significa que o valor da moeda é que caiu.
O post não pretende ser uma defesa da macroeconomia do lado da oferta nem uma crítica ao pessoal do lado da demanda, longe disso. Não que eu fique neutro nesta história, eu tenho lado, embora desconfiado sou da turma da oferta, mas apenas porque não quero polemizar aqui a respeito de quem está certo. Não é difícil encontrar evidências empíricas que corroboram ou refutam implicações de cada lado, eu poderia facilmente citar as que me convém, na melhor das hipóteses conseguiria que alguém citasse as outras. Ademais a chamada nova síntese neoclássica-keynesiana meio que concilia as duas visões dizendo que o pessoal da demanda está certo no curto prazo e o da oferta está certo no longo prazo, o que diminui muito a graça de implicar com o outro lado, mesmo ninguém sabendo muito bem quanto tempo dura o curto prazo… O objetivo do post é registrar que a política monetária pode, pelo menos em tese, combater a inflação sem depender de criar ou aprofundar uma recessão. Sim, quase me esqueço, não apenas a turma da oferta existe como é bem representada no pensamento econômico, para listar apenas os que receberam o Nobel nas últimas vinte edições a turma conta com Lucas, Prescott, Kydland e Sargent, ou seja, praticamente todos os macroeconomistas que ganharam o Nobel nas duas últimas décadas são associados a modelos do lado da oferta.