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Politicamente correto e a pseudo-ciência: pensar, pra quê?

Por Marcia Rozenthal, publicado pelo Instituto Liberal

É importante admitir que a distância entre crer e saber, muitas vezes, é menor do que nos damos conta.

Certamente a armadilha das certezas e das afirmações peremptórias sem bases confiáveis está ali, à espreita; ao nosso lado. Não raro a experiência profissional e a práxis da vida nos permitem criar conhecimentos e entendimentos que transcendem os ensinamentos teóricos e científicos e contaminam nossas opiniões técnicas. Um exemplo bem característico, é a questão da forma de educação das crianças que, num movimento pendular, oscilou entre técnicas repressivas, técnicas permissivas e o meio termo entre as duas. Cada extremo era justificado por profissionais creditados que externavam teorias complexas sobre a psicologia da criança e o que seria esperado de uma boa relação entre mãe, pai e seu filho, por exemplo.

Em nosso país, fizemos contribuições importantes nos últimos anos para este campo através dos nossos “estudos de ponta”. Por meio deles, sabemos que crianças em idade precoce podem, precisam e devem ter acesso sistematizado a conteúdos diversos sobre sexualidade para desenvolverem maior aceitação daquilo que se considera “diversidade”, na certeza de que isso não representará nenhum ônus futuro.

Não se pode, assim, negar que pressões políticas e econômicas enviesam a forma como conceitos de saúde e doença; normalidade e patologia são vistos. O homossexualismo, considerado um transtorno mental em não tão antigas classificações de doenças, hoje, se situa fora do alcance do campo médico. O tabagismo, que não era tido como uma forma de dependência química, hoje, é um alvo prioritário da área de saúde. Em contrapartida, a maconha encontra-se em plena fase de ter seu consumo liberado, sem que o usuário tenha as devidas informações, essas sim com forte base científica, a respeito das consequências do seu uso continuado. Pessoalmente, lamento muito.

Outros exemplos são mais prosaicos, mas não menos relevantes. Relacionam-se à alimentação, peso ideal, que são discutidos e difundidos por profissionais de saúde, tanto nos meios científicos como nos de comunicação de massa. As opiniões variam tanto com o tempo como, também, entre “Escolas de Pensamento” que divergindo levam, por exemplo, um mesmo alimento do céu ao inferno em alguns poucos anos. Um amigo dizia que aguardava ansiosamente o dia em que seu médico o proibiria de comer jiló e o obrigaria a comer churrasco diariamente.

Profissionais creditados sentem-se seguros de que suas práticas têm a Ciência como um norte. Mas, o conhecimento adquirido fora de sua égide ou às suas margens é abundante. Este muitas vezes se apresenta de forma pseudo-sistematizada, embora satisfaça plenamente o critério do senso-comum, cada vez mais atrelado ao politicamente correto. Isto pode levar a esses paradoxos conceituais com os quais lidamos, com ou sem crítica. Esta observação, claramente, não defende o expurgo desses conhecimentos, até porque é difícil pinçá-los no universo de nossa práxis. Mas visa, sim, à necessidade de iluminá-los para que possam ser percebidos, tornando-nos no mínimo mais humildes dentro do território das “verdades incontestes”.

Não se pode perder de vista que estas discussões visam, atualmente, um ideal também construído pelo Homem do que seria um mundo melhor e da certeza de que vale mais uma pessoa saudável, atrelada aos rituais e cuidados da saúde, do que uma pessoa “descuidada” que insiste em manter hábitos relacionados aos seus prazeres ou signos pessoais. Esse ideal “politicamente correto” faz com que conceitos como autocontrole, expurgo das tentações e a doença como punição virem transmutações de jargões religiosos em linguagem científica. E assim, não é mais passível de ser contestado.

Por tudo isso, concluo com o dito de Joe E. Lewis: “Comecei uma dieta. Cortei a bebida e alguns pratos prediletos e, em duas semanas já perdi quatorze dias”.

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