As redes sociais estão nos tornando pessoas melhores ou piores? Há controvérsias, mas a julgar pela reação à morte da menina Ágatha Félix, de apenas 8 anos, durante uma operação policial no morro do Alemão, arrisco dizer que estamos ficando piores como seres humanos.
A revolta é legítima, a indignação de muitos foi sincera. Mas nada justifica o uso político oportunista que tantos fizeram da tragédia, ignorando o mais importante naquele momento: o respeito à dor dos familiares.
Imediatamente a coisa virou uma disputa entre os defensores da política de endurecimento no combate ao crime, pregada por Bolsonaro e por Witzel, e aqueles que condenam essa postura, tratando a polícia como a maior ameaça, como sistematicamente fascista.
Inúmeros progressistas acusaram o governador do Rio ou o presidente da República de “assassinos”, e aproveitaram para condenar o projeto anticrime do ministro Sergio Moro, enquanto outros, que defendem seu “mito” acima de tudo, partiram para uma reação igualmente insana, tentando de tudo para relativizar o ocorrido ou sustentar a narrativa da importância desse endurecimento, numa disputa para ver qual vida vale mais, a da menina ou a do policial que também morreu. Enquanto isso, o cadáver da pobre garotinha nem tinha esfriado.
Eu cheguei a comentar no Twitter: “Minha solidariedade aos familiares de Ágatha Félix (8 anos), que perdeu a vida durante uma operação policial no morro do Alemão. Aos que estão politizando a tragédia, espero que possam refletir sobre a importância da decência humana. Não é hora de fazer uso oportunista disso.”
Outros foram na mesma linha. Foi o caso do deputado Paulo Eduardo Martins: “Toda a solidariedade à família da menina Agatha. Prefiro aguardar a apuração dos fatos para apontar erros, culpas ou soluções. O que não pode esperar é o amparo a esta família”. Alexandre Borges foi mais direto ao ponto: “Politizou a morte de uma criança? Perdeu”.
Você pode condenar operações desse tipo, apesar de ser fundamental, num debate sério, apresentar alternativas concretas para como combater fortalezas do crime dominadas por bandidos. Você pode apoiar operações desse tipo, entendendo que estamos numa guerra contra marginais altamente armados, entrincheirados, e que acidentes serão inevitáveis nesses confrontos. Ambas são posições aceitáveis.
O que não é aceitável é atropelar o sofrimento dessa família para sambar em cima do corpo da menina morta, utilizando-o apenas como um trampolim para suas pautas políticas. Isso é abjeto, asqueroso, desumano. Não podemos perder nossa humanidade, aquilo que nos une, independentemente do viés político ou ideológico. Sem esse elo, somos apenas bárbaros numa guerra tribal.