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Pondé no Roda Viva: foi bem no geral, mas faltou um pouco de coragem?

Acabei de ver agora a entrevista com o filósofo Luiz Felipe Pondé no Roda Viva, da TV Cultura. Como alguém que admira muito sua posição filosófica, não perde uma coluna da Folha às segundas-feiras, já leu quase todos os seus livros e está lendo agora o mais novo, só posso dizer que houve certo desapontamento com seu desempenho. Principalmente no primeiro bloco.

Duas respostas, na largada, incomodaram-me, apesar de entender e respeitar seu ponto de vista. A primeira foi sobre o projeto de lei Escola Sem Partido. Acho que Pondé bateu num espantalho ao mencionar a palavra “censura” (até tu, Brutus?).

A pergunta foi capciosa pois já colocou o projeto como algo de evangélico na premissa, o que não é. Os evangélicos podem ter endossado a iniciativa, de olho na “educação sexual” que a esquerda pretende impor, com baboseiras medonhas como a “ideologia de gênero”. Mas ninguém quer considerar crime o professor emitir uma opinião, e sim resguardar o direito constitucional de não ser doutrinado, que os alunos já têm.

O próprio Pondé reconhece que há fundamento na intenção do movimento e da lei, mas discorda de sua aplicação. É um ponto de vista legítimo, claro, mas quando ele diz que gostaria que o professor falasse mais em Burke, Oakeshott e Tocqueville, em vez de só Marx, é exatamente isso que a lei deseja: mais pluralidade, direito ao contraditório, fim dos abusos do proselitismo sob o pretexto da “liberdade de expressão”, que jamais foi infinita dentro da sala de aula e nem deveria.

O outro escorregão brabo de Pondé foi afirmar que, se forçado a escolher entre Jean Wyllys e Jair Bolsonaro, provavelmente ficaria com o primeiro, apesar do PSOL ser uma porcaria. Pondé se diz um liberal-conservador, defendendo o liberalismo na economia e na moral, e o conservadorismo na política (ou seja, contra utopias, um “mundo melhor” e a política substituindo as religiões). Com base nisso, não dá para escolher Jean Wyllys, ainda mais quando sabemos que a agenda “progressista” que ele representa é um dos maiores males do mundo moderno. Uma baita bola fora!

Atacar a “extrema-direita” foi algo que Pondé fez mais à frente também, quando falou do “multiculturalismo”. Uma vez mais, não só entendo seu ponto, como tendo até a concordar com ele em linhas gerais: é a covardia da esquerda multiculturalista que está jogando a Europa no colo da direita nacionalista e xenófoba. O crescimento dessa direita estilo Le Pen, a escolha pelo Brexit no Reino Unido, até mesmo o fenômeno Trump são todos reações a essa pusilanimidade dos “progressistas”, que acham que o mundo é uma universidade e que tudo será resolvido no “diálogo” (sendo que ele morreu justo nas universidades).

Mas fiquei com a impressão de que o filósofo precisava bater igualmente em Trump e na esquerda, para talvez bancar o “isentão”, algo que definitivamente não é de seu feitio. Posso estar sendo injusto, mas senti um leve toque karnal na entrevista. Ficou parecendo que ele queria fazer média com a patrulha. Para quem escreveu Filosofia para Corajosos, que estou lendo e apreciando bastante, talvez tenha faltado justamente mais coragem.

Não vou crucificá-lo, pois todos precisamos sobreviver e um pouco de trégua no meio universitário deve ser bem-vindo para quem já apanha tanto e compra tantas brigas. Mas achei que Pondé poderia ter sido mais enfático em algumas respostas ao condenar o câncer do politicamente correto no mundo atual, daqueles “inteligentinhos” que ele tanto ironiza nas colunas.

À exceção desses deslizes, o restante foi muito bom, com sua visão sobre Deus e religião e o ataque aos ateus militantes chatos, as críticas ao mundo fechado da academia, a breguice de acreditar tanto em si mesmo, a sátira ao embuste das palestras “motivacionais” e outras tiradas engraçadas de quem adota a visão trágica da filosofia. Pondé sempre merece ser lido ou escutado com atenção, mesmo quando larga derrapando. Não deixem de ver a entrevista na íntegra:

Rodrigo Constantino

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