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duas caras

Evitar generalizações: eis um bom conselho. Logo, faço antes o alerta: não podemos falar em nome de todos os esquerdistas. Mas a repetição do fenômeno é tanta que podemos falar, acredito, em uma clara tendência presente na esquerda atual: sua falta de caráter. Impressiona a quantidade de vezes que esquerdistas invertem totalmente os fatos, na maior cara de pau, para bancarem as vítimas depois de agirem como canalhas.

Um caso recente envolvendo um blogueiro que comenta filmes foi mais uma prova disso. Ele disparou em seu blog, em busca de holofotes, um ataque duro contra minha suposta hipocrisia, pois defendo o casamento e a fidelidade e meu email (publicamente conhecido, pois divulgado em meu antigo blog) estaria cadastrado no site de relacionamentos extraconjugais Ashley Madison. Claro, bastava uma visita ao tal site para verificar que qualquer um pode cadastrar qualquer email, mesmo de terceiros, sem comprovação alguma.

Qualquer pessoa responsável e decente teria, no mínimo, cuidado ao usar esse simples dado, portanto, como fonte para um ataque pessoal baixo, que poderia colocar em risco até o casamento do outro. Mas em busca de fama ou desejando destilar seu ódio contra um adversário ideológico, o blogueiro de cinema não mediu esforços e partiu para o ataque vil. Quando viu a possibilidade de processo judicial, decidiu retirar o texto, com o estrago já feito, e ainda usou o caso para simular nobreza, em vez de pedir desculpas diretamente para mim, atitude que qualquer pessoa decente teria. Um leitor meu resumiu com perfeição o modus operandi do sujeito:

O cara lança no ar algo super baixo, sem confirmação e acha que colocando uma observação alguém irá se importar após ler o conteúdo principal. Fora que ele diz que as possibilidades de você não ter realmente cadastrado eram “remotas”. Daí ele apaga, faz um textinho se desculpando como se fosse o bonzinho correto e acha que por esse motivo você não tem o direito de se irritar com a acusação absurda sem confirmação. Aí você se irrita, faz um vídeo-resposta e ele utiliza sua raiva para também gravar um vídeo, de forma calma, para inverter o jogo e se fazer de vítima, quando na verdade o cara é que está errado. É absurdo, faz na cara dura sem peso na consciência.

Por minha experiência de anos “debatendo” em redes sociais e blogs com esquerdistas, posso atestar que tal método é comum, é a prática. O mais irônico é que as páginas dessas figuras de esquerda estão repletas de ódio. A baba branca escorre por cada linha. A VEJA é demonizada, pois sua independência realmente incomoda aqueles que se vendem para o governo. Eu mesmo sou alvo de todo tipo de ataque pessoal baixo. Sobram xingamentos, faltam argumentos. São pessoas odientas, raivosas, que simulam respeito ao próximo, de forma calculada e medida.

Um exemplo para o leitor compreender melhor do que falo: o blogueiro de cinema, fazendo cara de coitado, disse que eu havia ofendido Verissimo por escrever um artigo o acusando de canalhices. Só um detalhe ignorado pelo “bom rapaz”: foi Verissimo quem havia ofendido, antes, milhões de brasileiros decentes e honrados que saíram às ruas para protestar contra um governo corrupto, comparando-os a cães vira-latas. Ou seja: se você usa uma coluna num dos maiores jornais do país para acusar todos os antipetistas de “vira-latas”, você é nobre; mas se você chama isso de uma canalhice, você é um agressor raivoso!

Chamar um canalha de canalha não só não é ofensa, e sim a constatação de um fato, como sequer surte efeito: o canalha não liga. Só pessoas decentes se importam com a infâmia, a difamação, os rótulos pejorativos. Por isso a esquerda apela tanto para eles. Por isso todo opositor do esquerdismo é logo tachado de “fascista”, de “racista”, de “reacionário” e de “preconceituoso”. Pois é a forma que os esquerdistas encontram para calar o debate, para intimidar o outro lado, para ofender quem se ofende com tais rótulos, por não ser nada disso.

Estou lendo o livro End of Discussion, de Mary Katharine Ham e Guy Benson, no qual os autores comprovam com inúmeros casos essa tática típica da esquerda. Há casos na direita também, mas são bem mais remotos. Como padrão de comportamento, podemos concluir sem medo de errar que se trata de uma característica esquerdista. Usam o politicamente correto, a simulação, a afetação seletiva, o duplo padrão moral, para tentar encerrar os debates verdadeiros calcados em argumentos e fatos, tudo o que não toleram.

Por essas e outras que vemos, por exemplo, um sujeito aplaudir o blogueiro de cinema por ter colocado um “bosta” como eu em seu devido lugar, que seria o lixo, e falar isso ao mesmo tempo em que simula nobreza, respeito ao próximo e tolerância. A gritante contradição não lhe salta aos olhos, pois a incoerência e a hipocrisia já se tornaram um método introjetado em seu cotidiano. Ele é “do bem”, pois é de esquerda, e por isso não precisa praticar o bem: já monopolizou as virtudes no discurso.

É por esse mesmo fenômeno que vemos gente, como o próprio blogueiro de cinema, enaltecendo terroristas comunistas enquanto fala de paz e amor. Vemos gente defendendo a ditadura cubana enquanto prega a democracia. Vemos gente condenando a corrupção enquanto vota no PT. São tantas contradições, tanta incoerência, que não dá mais para acreditar em engano genuíno. Trata-se, sem dúvida, de um desvio de caráter.

Rodrigo Constantino

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