Por Sergio de Mello, publicado pelo Instituto Liberal
Às vezes fico pensando como pode alguém se dizer comunista ou apoiar doutrinas ideológicas do mesmo viés mortal. Tanto o comunismo quanto o socialismo trouxeram mortes pelo mundo em nome de uma suposta felicidade humanitária. É lamentável que muitos indivíduos talvez desconheçam esse caráter. Desconhecer que o comunismo ou socialismo matou milhares de pessoas é dizer que se desconhece a existência de um fato público e notório, ao alcance de tudo e de todos. Existe vasta literatura a respeito, a internet quebra fronteiras em favor do saber e do conhecimento. A geografia é ultrapassada com a tecnologia. Então, esse desconhecimento é uma mera desculpa que não tem o menor fundamento. Sinto muito, mas essa desculpa não cola. Por exemplo, num processo judicial, os fatos públicos e notórios não precisam de prova exatamente por essa razão, porque todos o conhecem. Provar que o sol é sol, que a lua é lua, que a noite é escura, que no mar tem água? É também dessa mesma categoria de fatos que estamos falando, caro colega comunista!
Logo, como pode, nos dias de hoje, alguém desconhecer esse genocídio histórico? As atrocidades cometidas nesse estado antinatural de viver? As violações de direitos humanos e das liberdades públicas? Sim, posso estar sendo muito ingênuo mesmo. Daí só posso crer que, conhecendo, os ideólogos comunistas ou socialistas só querem algumas coisinhas do Estado. Viver às suas custas, às custas do próprio ego e querem transformar isso em costume.
Sim, ao mesmo tempo em que a história, a filosofia e os pensamentos naturais de uma seleção divina formada por gente séria, informada, e sensível ao indivíduo, ao ser humano, descortina essa mortandade que assola ao meio-dia (repetindo os dizeres bíblicos), nosso cotidiano se nos apresenta esse feitio, digamos, hedonista de viver em sociedade. Provas do dia-a-dia revelam que as pessoas não mais querem sentir ameaçadas por ninguém, em termos de liberdade. O desejo é viver uma liberdade hedonista, naquilo que Mill deixou como legado mortal: PRAZER X DOR. Eu escolho o que dá prazer, óbvio, esse o pensamento do senso comum. Pouco importa que vem para os outros depois dessa minha escolha.
O que existe é uma negação de uma natureza humana, uma tentativa de esconder propósitos mesquinhos, mas que acaba revelando o que verdadeiramente é. É a natureza humana com todo o seu potencial, toda a sua plenitude de viver como bem quiser. O bom selvagem de Rousseau, que acredita que o ser humano é bom por natureza, sendo desmistificada, ou o mau selvagem de Hobbes sendo confirmada.
Enfim, e nesse intento de gozo libertinário eterno, o que importa é que quanto menos intermediários entre mim e o Estado melhor, assim pensa a natureza humana. Quanto menos agentes morais a me governar, me dizer o que tenho que fazer ou deixar de fazer ótimo! A família, a igreja, as comunidades, o senso de viver em comunidade, a hierarquia social (pais, mais velhos, professores, educadores, polícia, igreja, sacerdotes, etc.), organizações sociais mais ou menos organizadas, enfim, qualquer segmento social em defesa da organização e do bem-estar do próprio indivíduo passa a ser visto como inimigo. Os hereges da modernidade, contra a modernidade.
De fato, o único agente totalitário que passa a governar o mundo, a nação, o país, o Estado, a cidade, o bairro, a família e o indivíduo é um só: O ESTADO.
Procurando na literatura essa minha percepção, alguém de renome para me apoiar, achei da nomeada de Theodore Dalrymple (Em defesa do preconceito: a necessidade de se ter idéias preconcebidas), que diz que o individualismo radical conduz ao autoritarismo. E não é isso mesmo? O mero desejo de satisfazer o ego vira direito por força do Estado, que, sem intermediários morais entre este e o indivíduo, passa a centralizar todos os mandos e desmandos, naquilo que se sabe permitir a liberdade privada ou as liberdades públicas: “Não há lei contra isso, contra aquilo, então, o que não é proibido é permitido“. Os agentes do Estado passam a inflar como agentes humanitários do bem, na condição de messiânicos salvadores. E tudo passa a ser regulado apenas por ela, pela lei. O único governador do indivíduo. Esquece-se a natureza humana e a Lei do Certo e do Errado, nossa lei moral.
Dalrymple está certo. Isso cria um paradoxo. Como pode um individualismo radical, o viver sem medidas, em total libertinagem, gerar, em contrapartida, o controle pelo Estado? Isso tem uma das explicações mais lógicas que conheço. E ela já foi adiantada aos senhores leitores. Está na inflação do ego, na falta de intermediários morais e na elevada autoestima estatal, dele, como entidade abstrata, e dos seus próprios agentes humanos.
Ora, a filosofia que desafie os costumes já consagrados pela história e pela experiência humana, ataque a tradição, os preconceitos (entendidos como princípios anteriores) e a hierarquia humana natural sempre tem que partir de algum lugar e esse lugar será sempre o já conservado. Não existe um a priori quando se fala em desnaturar, violar nossa lei moral. Existe sim a substituição de um preconceito por outro, na melhor ou na pior forma. Melhorando ou destruindo. O problema é que esses tais preconceitos individuais substituidores do já conservado, bem verdade, não são autênticos preconceitos que partem do indivíduo como ente natural. O ego superabunda, o eu é supervalorizado, sendo certo que a consequência disso é se perpetuar costumes que não devem ser costumes, costumes que não passam pelo crivo moral do bem viver e do viver melhor, já que partido de um indivíduo antinatural.
Citando Dalrymple, Le client est ri, ou seja, O CLIENTE É O REI. Entre num supermercados e veja o exemplo citado pelo psiquiatra frente a frente. Pessoas comprando quase que sem critérios de escolha e sem ver data de validade dos produtos. Se der problema no produto mal vistoriado, isso gerará outro problema, o de encontrar alguém que o ajude.
O viver sem um ordenamento moral diverso do arcabouço legislativo do Estado conduz ao autoritarismo, por certo. Veja-se o caso da ONU, que legisla para o mundo todo sem saber as particularidades de cada local, sem saber o que cada um tem de necessidade e quer valorizar. Pense, também, aqui no Brasil, no Ministro Luis Roberto Barroso, que acabou de decidir e está tentando perpetuar um costume antinatural, liberando, por uma simples assinatura com caneta esferográfica, ideologia de gênero nas escolas infantis, sob o argumento de inconstitucionalidade, preconceito e estigmas.
Será que devemos culpar os juízes por agirem assim, de uma forma centralizada? Para Dalrymple a resposta é negativa. Porque passa a não existir autoridade moral diversa da lei, do Estado, e o juiz é obrigado a aplicar a lei. Não tem outra saída. E vira até mesmo um vício. O poder normativo, ele mesmo, vira um vício nas mãos de quem tem a caneta pesada do “progresso” e da evolução cujo embrião é o socialismo e cujo destinatário é… o indivíduo? Não, uma pessoa, ou melhor, algo, um ser, estranho, sem cara e sem cabeça, sem sentimentos morais, sem reflexo e sem pensamento: a humanidade!!
O comunismo e o socialismo são adversários dos direitos humanos e das liberdades humanas.
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