Por João Cesar de Melo, publicado pelo Instituto Liberal
A resposta que surge na cabeça na maioria das pessoas é: porque a esquerda, com seus parlamentares e corporações de funcionários públicos, se beneficia diretamente do atual sistema de “superpensões”. Sim, mas é muito mais do que isso.
Passo a passo:
1 – A preservação do atual sistema torna ainda mais difícil que o estado tenha recursos para oferecer os serviços públicos e a infraestrutura que promete aos cidadãos. A população torna-se cada vez mais insatisfeita enquanto a esquerda grita que o governo gasta todo o seu dinheiro com os mais ricos. Para resolver esse problema, ou cortam-se gastos e promovem-se privatizações em massa – e a esquerda grita que o governo está dilapidando o patrimônio público e dando o país para o grande capital financeiro; ou aumentam-se os impostos – e a esquerda grita que o governo está sufocando a população para pagar os banqueiros; ou deixa-se a bomba da Previdência estourar, até não se ter dinheiro para pagar salários e pensões – e a esquerda grita que o governo levou o país ao colapso.
2 – Qualquer solução alternativa à reforma da Previdência alimentará o descontentamento da população, alimentando o discurso da esquerda de que a pobreza dos brasileiros é causada pelos grandes empresários, capitalistas, bancos, agronegócio, etc.. Números da desigualdade serão jogados na grande imprensa, ocultando que na pontinha da pirâmide de renda estão justamente os agraciados pelo sistema previdenciário que a própria esquerda não permitiu que fosse reformado.
3 – A esquerda volta ao poder democraticamente com um discurso anticapitalista, o que lhe dá respaldo para impor medidas de regulação econômica e de aumento de impostos.
4 – A economia começa a parar. As reclamações da classe média e do empresariado aumentam. Manifestações começam a acontecer com cada vez mais frequência.
5 – Para não perder o controle da situação, o governo de esquerda lança um conjunto de medidas de “preservação da ordem pública, contra o golpe”, ou seja: restrição da liberdade civil e de imprensa.
6 – A indústria diminui ainda mais a produção e começa a demitir em massa, porque fica sem recursos para produzir e também porque a população fica a cada dia com menos poder de compra.
7 – O governo começa a compensar a queda na arrecadação fabricando mais dinheiro e emitindo mais títulos da dívida.
8 – A economia piora e insatisfação aumenta, dando ao governo a justificativa para invocar mais uma vez a “luta contra os capitalistas”: setores essenciais da economia sofrem intervenções diretas do estado, alimentando ainda mais a recessão e o desabastecimento.
9 – A população começa a se revoltar, desesperada por produtos básicos. Em resposta, o governo cria “comitês populares” nos bairros para “detectar movimentações fascistas” enquanto lança um novo pacote de intervenções na economia, expulsando definitivamente investidores, empreendedores e empresários. “É preciso que o povo retome tudo o que lhe foi roubado”, grita o líder da esquerda, justificando expropriações de empresas e confisco de capitais.
10 – Para “proteger a soberania e as riquezas do país”, muda a constituição, remodela todo o sistema político e eleitoral e intervém diretamente no poder judiciário, acusando-o de estar a serviço dos Estados Unidos, enquanto a população é sitiada em seus próprios bairros pelos comitês populares, já atuando como milícias.
11 – Sendo um governo de esquerda eleito democraticamente, não haverá nenhuma reação concreta da comunidade internacional. A ONU e a UE pedirão diálogo com a oposição, que já estará distribuída nas cadeias, no exílio ou nos cemitérios. O Papa pedirá “mais paz, menos violência”. Jornais como a Folha de S. Paulo e portais como G1 publicarão reportagens sobre a ameaça dos grupos neonazistas à democracia brasileira. Glenn Greenwald divulgará conversas conspiratórias entre agentes do Mossad e João César de Melo. Os Estados Unidos anunciarão sanções econômicas que serão muito bem aproveitadas pela ditadura – “a crise pela qual está passando o povo brasileiro é causada pelo embargo criminoso do governo estadunidense”, justificando, assim, a chegada de tropas russas ao país.
12 – Quando os brasileiros forem reduzidos à completa miséria, a esquerda negociará com a comunidade internacional uma saída honrosa, que não se submeta a qualquer punição e ainda possa se dizer vítima de um complô internacional.
13 – Qualquer novo governo será imediatamente acusado de ser fascista, por ter sido oposição ao regime anterior, e incompetente, por não conseguir recuperar o país em seis meses.
14 – Nos livros de História e na grande imprensa começará a ecoar a narrativa de que o Brasil foi devastado por um regime de extrema-direita.
Mesmo que em algum momento os militares brasileiros reajam, a esquerda sairá vencedora, porque terá sido vítima de um “golpe” duramente criticado pela comunidade internacional. Na eleição seguinte, a esquerda volta com mais força, é eleita e liquida o alto escalão das mesmas forças armadas que a depuseram, retomando, assim, o projeto totalitário que fora interrompido pelo “golpe”.
Não é paranoia. Isso é o que a esquerda faz ou tenta fazer desde sempre. Vide Venezuela neste exato momento.
O pior cenário para a esquerda é um país com cidadãos independentes, livres para cuidar de suas vidas, de suas famílias e de seus negócios, em que o estado atue apenas como um garantidor dos contratos, da liberdade e da paz das pessoas. A reforma da Previdência pode abrir caminho para isso e a esquerda liderada pelo PT fará “o diabo” para impedir.
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