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Por que Hong Kong vive um momento delicado?

Por Roberto Rachewsky, publicado pelo Instituto Liberal

Joshua Wong é um estudante natural de Hong Kong que ficou famoso mundialmente quando liderou protestos que ficaram conhecidos como a Revolução dos Guarda-chuvas.

Já escrevi sobre as idiossincrasias e os paradoxos intrínsecos ao discurso populista e demagógico do jovem social-democrata.

Joshua Wong tem uma causa e tem dedicado sua vida, sua liberdade, seu presente e seu futuro a ela, como todo herói faz.

Depois de ser preso pelas autoridades de Hong Kong por violar as leis locais que regulam a liberdade de associação e manifestação em local público, acabou de ser solto por ter cumprido sua pena.

Hong Kong vive um momento delicado.

Há muitas variáveis no jogo político daquele que é tido como um dos países mais livres e ricos do mundo.

O sucesso econômico de Hong Kong se deve fundamentalmente a convivência harmônica e indissociável de quatro instituições basilares: livre iniciativa, propriedade privada, estado de direito (rule of law) e livre mercado.

Hong Kong é um dos países com a menor interferência estatal na vida econômica dos cidadãos, pois a regulação e a taxação são extremamente baixas, considerando o resto das nações.

Para Hong Kong, devido ao ambiente favorável à atividade econômica por conta da segurança jurídica, da estabilidade institucional, inclusive monetária, há um afluxo de capitais, bens e mão-de-obra que poucos países conseguem igualar.

A sociedade de Hong Kong foi construída ao longo do século XX através da ideia, nutrida pelos ingleses, de manterem ali um sistema muito próximo do capitalismo laissez faire.

Os dirigentes que erigiram a estrutura institucional de Hong Kong se preocuparam em proteger os pilares de uma sociedade livre, justa e próspera.

Não se deixaram encantar pelo populismo fácil, nem pela demagogia autofágica. Colocaram limites ao processo democrático instituindo freios anti-majoritários para proteger a base de sustentação que permitiu àquele povo paupérrimo sair da pobreza e se tornar uma das mais ricas sociedades da história recente do homem.

Em Hong Kong, não há sufrágio universal como conhecemos aqui. Lá, a totalidade da elite empresarial possui o mesmo peso que a imensa maioria de eleitores. Essa foi a maneira que eles encontraram para que os direitos à liberdade e à propriedade dos indivíduos não fossem violados.

Lá, qualquer um pode votar no que quiser, porém, se a maioria quiser adotar políticas intervencionistas que venham a violar a liberdade e a propriedade das pessoas, corroendo os pilares que dão sustentação a décadas de desenvolvimento econômico e social, certamente a minoria não permitirá que isso aconteça.

Em Hong Kong, a ideia de que só se tem direito sobre o que se possui, que ninguém pode almejar possuir o que não é seu sem pagar em troca através de uma transação livre e voluntária, é o ponto essencial que tornou aquela sociedade em uma das mais dinâmicas que se conhece devido à mobilidade social que proporciona.

Apesar do grau de liberdade e progresso alcançados, há dois movimentos que conspiram contra esse experimento de sucesso.

No curto prazo, há a tentativa do Partido Comunista Chinês de tentar tutelar cada vez mais Hong Kong tirando-lhe a autonomia que possui desde que os ingleses tomaram a ilha e mesmo após Londres devolver o território para Beijing.

Como exemplo, no fim de semana passado, dois milhões de pessoas marcharam para rejeitar uma lei de extradição de dissidentes e criminosos para a China. Tal lei havia sido proposta pela chefe do governo de Hong Kong, Carrie Lam. A indignação da população com tal lei não se encerrou com a retirada da proposta pelo governo. A população quer agora que Carrie Lam renuncie por considerá-la um fantoche nas mãos do governo de Beijing.

No longo prazo, a ameaça vem personificada na figura de Joshua Wong que, sem um discurso muito claro, apresenta sua dissidência ao Partido Comunista Chinês por uma lado e ao sistema herdado da Grã Bretanha por outro, mesmo sendo este sistema responsável por todo o resultado econômico positivo que se vê em Hong Kong.

Joshua Wong pode não falar isso claramente, mas deixa nas entrelinhas que quer moldar a mentalidade dos que integram a sociedade na qual ele vive, para que sejam menos capitalistas e mais social-democratas.

Ele despreza que haja no seu país jovens que querem estudar e trabalhar para melhorarem de vida e buscarem a felicidade como bem desejarem. Como todo social-democrata, Joshua Wong é mais um engenheiro social.

Ele diz claramente que dinheiro não é tudo, que isso precisa ser ensinado nas escolas e difundido na mídia e que ele irá fazer carreira política para implantar em Hong Kong a democracia representativa baseada no sufrágio universal que permite que o governo da maioria se torne uma tirania, submetendo a vontade individual a interesses difusos, usualmente chamados de bem comum ou interesse social.

Esse choque de forças ideológicas, o capitalismo de Hong Kong, o fascismo do Partido Comunista Chinês e a social-democracia do jovem Joshua Wong, desorientam os observadores menos atentos que se colocam na defesa desse jovem destemido que resolveu lutar contra o establishment sem entender que o capitalismo laissez faire é muito melhor do que as alternativas que se contrapõem a ele, inclusive aquela que o jovem transformou na sua causa.

Não podemos esquecer que democracia não é sinônimo de liberdade. Pelo contrário, em nome da democracia, a liberdade individual e a propriedade privada têm sido relativizadas ao ponto de serem totalmente suprimidas.

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