Por Paulo Stewart, publicado pelo Instituto Liberal
Há muito venho amadurecendo a ideia de escrever este artigo. O Brasil terá em três semanas sua votação mais eletrizante desde a redemocratização, não apenas pela dinâmica eleitoral temperada pela Lava Jato e profunda depressão econômica, como também pela prevalência das redes sociais no debate de mais de 100 milhões de eleitores que comparecerão às urnas. Do planalto central à Faria Lima, passando por Curitiba, Ipanema ou Juiz de Fora e rincões do Nordeste, o clima é tenso e o debate político—institucional sobre o Brasil que vivemos e o Brasil que queremos prevalece. Jamais imaginei que a uma semana da Copa do Mundo as pessoas pudessem dizer o nome dos 11 ministros do STF, mas não soubessem a escalação da seleção brasileira. Sinal de novos tempos.
Sou da geração das Diretas Já e aos 20 anos vivi a transferência de poder dos militares aos civis. Processo civilizado, sem turbulência, violência ou qualquer exigência (compensatória) por parte daqueles que detinham o poder – não estou aqui defendendo a ditadura militar, mas simplesmente relatando o ocorrido na transição. Tancredo, ainda que eleito pelo voto indireto, representava esperança de melhor futuro ao Brasil que novamente estabeleceria uma democracia representativa, republicana. Mas o que veio a seguir, com hiato de alguns anos de mudanças positivas, foi desastroso. No rastro de uma nova constituição dita cidadã que criou arcabouço institucional de um país protecionista, engessado, Estado paternalista e gastador para proteger os interesses do povo, sofremos com os governos que se sucederam desde então.
Sarney caiu de paraquedas na cadeira de presidente e, com as medidas equivocadas e populistas do plano econômico que leva seu nome, deflagrou a primeira onda de uma série que nos levou da euforia à depressão seguidas vezes. Em poucos anos passamos por inúmeros planos econômicos – todos com a mesma essência e consequentemente os mesmos erros de formulação. Cruzado I, Cruzado II, Bresser, Verão, Collor I, Color II. Todos congelando preços, ativos e poupança. Todos buscando fazer o certo, mas utilizando premissas erradas.
Paralelamente, nestes anos, a classe política que ficou fora do cenário político durante a intervenção militar, embevecida pelo poder que novamente estaria ao alcance de suas articulações fisiologistas e caneta do executivo, se lançou com voracidade na disputa de pedaços do orçamento público para atender a seus redutos eleitorais, causas idealistas ou, no pior dos casos, suas próprias contas bancárias. E o Brasil, jovem democracia que se libertava da opressão militar, acreditava que aqueles que estavam no poder eram bem intencionados e a correção de rumos viria com a alternância do poder. Afinal de contas, assim é em qualquer país que pratica eleições livres sob a égide de uma democracia representativa. Fomos duramente castigados. Não pela democracia, mas pelo sistema que se criou, ancorado na fragilidade das instituições, concentração de poder e ambiente permissivo a falcatruas onde prevalecia a impunidade.
Fomos ludibriados por Collor, que além de nos deixar com 50 cruzeiros no bolso e afundar o Brasil com seus dois planos econômicos, institucionalizou 15% como pedágio para se fazer negócios com o governo. Com o impeachment daquele que de fenômeno nas urnas acabou defenestrado do Palácio do Planalto, Itamar Franco assume o poder e pela segunddo vez em mandatos consecutivos o vice passa a ser número um. De inofensivo e sem nenhuma expressão, um tanto maluquinho, Itamar consegue a proeza de emplacar o Plano Real que finalmente ferii de morte o dragão da inflação.
E foi na esteira do Plano Real que nosso primeiro social—democrata assumido, Fernando Henrique Cardoso, se elege presidente e novamente temos a sensação de que agora vai! Mas o Plano Real, brilhante na formulação da política monetária, manteve controle do câmbio e simplesmente ignorou o lado fiscal. O preço que pagamos por esses erros, combinado com o que na minha opinião maculou a “era FHC”, que foi vender a alma ao diabo para se perpetuar no poder com a emenda da reeleição, foi travar a economia, decuplicar o endividamento e impulsionar o fisiologismo populista, nefasto, de um “centrão” que sem nenhuma identidade agiu sempre em benefício próprio, atendendo a seus interesses em detrimento do interesse majoritário da nação brasileira.
A alternância do poder trouxe mais do mesmo. Lula, astuto e de grande inteligência emocional, ascendeu ao poder na esteira de sua carta aos brasileiros virando as costas para tudo que defendeu até então. Com a caneta na mão, iniciou período de saqueamento à nação jamais antes visto desde o desembarque de Cabral na Bahia, institucionalizando e sistematizando a corrupção, enganando a população com o manto da inclusão social. Lula criou a ilusão de que fazia o governo para os pobres quando, na prática, o que fez foi incluir o pobre no orçamento através de programas e bolsas sociais diversas que muito pouco fizeram para acabar com a miséria. A fórmula está errada. Não é com a transferência do dinheiro público para os miseráveis que estes deixarão a pobreza.
Mas o plano de eternização no poder do PT começou a ruir com a ação penal 470 – vulgo mensalão – que teve na figura do implacável justiceiro Barbosão a coragem e competência para enfrentar o status quo e pela primeira vez na corte máxima brasileira prevaleceu a “teoria do direito (domínio) do fato”, a partir da qual, para julgar crimes do colarinho branco, não mais seria precisa uma prova cabal, material, escrita. O conjunto das evidências e circunstâncias do ilícito, se suficientemente consistentes e comprobatórias, seria suficiente para condenação. Este foi o primeiro ponto de inflexão. Sempre que me lembro do Roberto Jefferson desferindo ao Zé Dirceu suas palavras proféticas e apocalíticas “Zé, eu tenho medo do senhor… Vossa Excelência provoca em mim meus sentimentos mais primitivos…”, jogando toda a m. no ventilador, penso que ele merecia uma estátua defronte ao Congresso. Naquele momento o mensalão se sacramentou. No meu modo de ver, a Lava Jato não aconteceria se não tivéssemos passado pelo mensalão.
Mas o que espantou todos nós, brasileiros e brasileiras que sobrevivem fora do círculo intimo do poder e capitalismo de favores, foi a audácia e ousadia daqueles governantes e empresários amigos do Rei que continuaram a dragar recursos do Estado para aumentar suas riquezas pessoais. Chega de cinismo! Precisamos acordar deste pesadelo sem fim! O Brasil já não aguenta mais ser saqueado por criaturas do mal, verdadeiros vampiros quem como não produzem seu próprio sangue, precisam sugar o dos outros para viver, enquanto nos afundamos em mais uma crise – esta deflagrada pela nossa presidenta Dilma, poste do Lula, que não cometeu nenhum erro novo, mas sim conseguiu fazer todos os erros ao mesmo tempo. Há mais de três anos estamos assolados por depressão econômica ampla, profunda e demorada, a pior de toda a história republicana brasileira, desta feita associada à crise moral e ética, levando o país ao esgotamento de sua capacidade regenerativa.
E agora, o que fazer? Estamos diante de uma encruzilhada. Vem aí novas eleições. É hora de debatermos alternativas e decidirmos em quem votar. Temos que nos perguntar o que queremos e qual candidato apresenta maiores condições de nos atender naquilo que queremos. O que precisamos para sairmos desse lamaçal é caminhar na direção de nos tornarmos uma grande sociedade aberta; nos abrirmos para os mercados; respeito aos contratos, propriedade privada e liberdades individuais; desburocratizar; redesenhar o papel do Estado – que deve ser mínimo, atuando para garantir o bom funcionamento das instituições, prover segurança e ordem, e saúde e educação básicas aos mais desfavorecidos; promover gestão pública voltada à eficiência dos serviços públicos e para isso privatizar, diminuindo a dívida pública, liberando recursos para as atribuições básicas do Estado; acabar com privilégios; eliminar gastos supérfluos e desnecessários ao funcionamento da máquina pública; ter absoluta responsabilidade fiscal e descentralizar o poder.
Com exceção de Bolsonaro e Amoedo, todos os partidos e candidatos que se apresentam ao pleito são mais do mesmo, frutos da mesma árvore. Naturalmente com sutis diferenças na formulação de suas plataformas de governo, mas na essência são todos iguais. Eleger qualquer um desses será perseverar nos erros que nos levaram à caótica situação em que nos encontramos. Einstein profetizou que “insanidade é continuar a fazer as mesmas coisas e esperar resultados diferentes”.
Por que mudei meu voto: apesar de ser o candidato com que tenho mais afinidade, do ponto de vista prático, Amoêdo não tem chances. Gosto dele e louvo sua iniciativa de se lançar candidato, mas primeiro deverá incluir o NOVO no legislativo para então tentar o executivo. Bolsonaro, a quem faço restrições à forma com que em certos momentos manifesta suas opiniões, é um ser político, fenômeno incontestável destas eleições. Além disso, tem por trás a cabeça pensante do Paulo Guedes. Se eleito, formará maioria de centro-direita e terá o Congresso ao seu lado para implementar as medidas de que precisamos para (de uma vez por todas) deixarmos de ser “o país do futuro” e finalmente caminharmos para sermos nação próspera e verdadeiramente desenvolvida.
Sou otimista por essência e convicção. Cabe-nos fazer o que estiver ao nosso alcance para mudar o que não está funcionando, em nome daquilo que acreditamos ser o melhor e principalmente do legado que queremos para minhas filhas e futuras gerações. No que tange às eleições, só há uma boa alternativa: Bolsonaro. Ou mudamos agora, ou continuaremos a naufragar no populismo social-democrata, empobrecendo o país e assistindo ao êxodo em direção à Lisboa, Miami – ou para nós, cariocas, bandeando para mais pertinho, indo morar/trabalhar em São Paulo. Sim, o Rio está pior do que qualquer outro estado nacional, mas isso é papo para outro artigo…
Sobre o autor: Paulo Stewart Empresário do ramo de shopping centers e tecnologia.