Por Adolfo Sachsida, publicado pelo Instituto Liberal
Existe uma pergunta que não quer calar: por que o mercado tem sido tão paciente com a situação brasileira? Sejamos claros, a situação fiscal do governo federal é péssima. Os déficits primários continuam a mostrar que o governo central simplesmente não consegue cortar gastos na magnitude necessária. Aqui vale uma ressalva: a equipe econômica do Ministério da Fazenda está fazendo o possível, mas as despesas obrigatórias (aquelas que o governo é obrigado por lei a cumprir) não param de crescer. Simplesmente não é possível cortar muito mais sem reformas mais profundas.
Se a situação fiscal da União é ruim, a situação dos estados e municípios consegue a façanha de ser pior ainda. Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul estão a beira do colapso. Minas Gerais, Paraná e Distrito Federal irão se juntar a eles em breve, e vários outros estados e municípios estão em situação precária (para dizer o mínimo). Em vários estados e municípios o número de funcionários aposentados já é quase igual ao número de funcionários ativos. Isto é, em breve teremos a peculiar situação de gastarmos muito dinheiro com pagamento de funcionários públicos ao mesmo tempo em que faltam funcionários públicos (pois boa parte deles estará aposentada).
Resolver a situação fiscal da União é extremamente difícil, mas resolver o problema de estados e municípios beira o impossível com as regras atuais. Já disse antes e repito: o Brasil terá que escolher entre direitos adquiridos e inflação. Manter os direitos adquiridos implicará inevitavelmente na volta da inflação. Não é possível manter as regras atuais de aposentadoria, e também não é moralmente correto pagar R$ 50 mil por mês para um juiz de 55 anos aposentado. Ou mexemos nos direitos adquiridos ou somente a inflação para resolver a situação fiscal de estados e municípios. Eu escolho mexermos nos direitos adquiridos. Mas alguém realmente acredita que o governo irá tentar essa opção?
Então eu pergunto: por que o mercado continua a confiar no Brasil? Alguns argumentam que o mercado está precificado errado. Discordo, não creio que os especialistas de mercado não estejam vendo nossa tênue situação fiscal. Outros argumentam que existe um excesso de liquidez no mundo, e a taxa de juros no resto do mundo está muita baixa, assim o Brasil apesar de arriscado ainda é uma opção que vale a pena. Pode ser, faz certo sentido. Mas eu creio numa outra resposta. Em minha opinião existe uma crença generalizada de que o governo brasileiro irá sempre socorrer as grandes empresas. Assim, seria seguro investir em grandes empresas, ou aplicar em grandes bancos, pois na pior das hipóteses seria sempre possível recorrer a uma ajuda do governo (tipo um bailout) para salvar as grandes corporações. Por aqui a mentalidade do “too big to fail” (grande demais para quebrar) ainda é bem forte.
Respondo assim a pergunta que eu mesmo formulei: o mercado não está sendo gentil com o Brasil. Pelo contrário, vários investidores já entenderam que a taxa de juros aqui (apesar de estar caindo) é bem mais alta que no resto do mundo, mas ao mesmo tempo acreditam que tem duas opções: a) sempre poderão tirar o dinheiro daqui rapidamente ao primeiro sinal de perigo; ou b) o risco não é tão elevado, pois contam com uma futura ajuda do governo (bailout) caso algo dê errado. Em minha modesta opinião, creio que a opção “a” é viável para títulos de curtíssimo prazo. Mas os que apostarem em “b” podem ser surpreendidos justamente por quem eles imaginavam que seria seu salvador.
Sou absolutamente contra qualquer tipo de calote, sou absolutamente contra a volta da inflação. Então só me resta defender as grandes reformas de que nosso país precisa. Ou fazemos as reformas ou teremos problemas cada vez mais sérios nos próximos anos.
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