Por João Cesar de Melo, publicado no Instituto Liberal
A entrevista concedida pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso no último programa Roda Vida, da TV Cultura, expôs a distância intelectual entre ele e seus dois sucessores, mas também nos lembrou das diferenças entre os partidos que representam.
Mesmo que alguém consiga afirmar com exatidão qual o partido mais corrupto, isso não significa que o menos corrupto seja honesto. Sendo assim, no doloroso exercício de apoiar um parlamentar, um governante ou um partido, precisamos nos rebaixar intelectual e moralmente e adotar como critério de seleção as referências teóricas e práticas de cada um deles para projetarmos quem seria uma ameaça menor à nossa liberdade.
Com o mesmo machado que a esquerda divide a sociedade em duas partes, vamos dividir a política brasileira entre PSDB e PT, cada um com seus respectivos partidos aliados.
O Partido da Social Democracia Brasileira ocupou a presidência dessa cambaleante república por oito anos, durante os quais não tentou aprovar nenhuma lei de restrição da liberdade de imprensa. Não utilizou dinheiro público para financiar ditaduras noutros países. Não promoveu eventos cuja decoração ostentava a imagem de ditadores. Não declarou apoio nem ajudou financeiramente grupos terroristas internacionais. Não deu asilo político nem empregou terroristas. Não fez da educação pública uma ferramenta de doutrinação em massa. Não utilizou como referência teórica o pensamento de líderes comunistas responsáveis pelo assassinato de literalmente milhões de inocentes. Não financiou a criação e a manutenção de um movimento que luta pela hegemonia ideológica na América Latina.
Para um melhor entendimento da razão desse exercício, devemos ignorar por um instante o último parágrafo e imaginar a reação da sociedade se fosse descoberto que o PSDB doou dinheiro a um grupo neonazista e que os principais líderes do partido fazem constantes e positivas citações à Hitler. Compreensivelmente, toda a sociedade veria o PSDB como um partido nazista com intenções nazistas.
Posto isso, vejamos o posicionamento e o comportamento do PT.
O Partido dos Trabalhadores ocupou a presidência dessa cambaleante república por doze anos, durante os quais tentou aprovar o projeto de lei 3985/2004, aprovou o Marco Regulatório da Mídia e manifestou outras tantas intenções de controlar a imprensa. Financiou e até doou dinheiro público para as ditaduras de Cuba, da Venezuela, do Sudão, da Guiné Equatorial, do Gabão e do Congo. Participou de eventos cuja decoração ostentava imagens de Lenin, de Che Guevara e de Fidel Castro. Declarou apoio e financiou o grupo terrorista Hamas e há quem afirme que financiou as FARC. Deu asilo político ao terrorista italiano Cezzare Battisti. Nomeou como ministro José Dirceu, que estudou espionagem e sabotagem na URSS e em Cuba. Elegeu presidente da república Dilma Rousseff, que integrou um grupo terrorista que promoveu assaltos, sequestros e assassinatos. Compactuou com a escravização do povo cubano ao implementar aqui o programa Mais Médicos. Fez do ensino público uma verdadeira ferramenta de doutrinação em massa utilizando o método Paulo Freire nas escolas de ensino fundamental e médio; impôs o viés marxista no ensino universitário na área de humanas. Em discursos, atas, artigos, pronunciamentos e entrevistas, os líderes do PT e de seus partidos aliados invocam orgulhosamente os ideais de Lenin, de Stalin e de Fidel Castro como referência de tomada e de manutenção de poder. Patrocinou o Foro de São Paulo, a versão latino-americana de Internacional Comunista. Grande parte de seus militantes são caricaturas de Che Guevara e faz empolgadas reverências à ditadura cubana e à revolução bolivariana.
Sendo assim, por que não deveríamos pensar que o PT e seus aliados têm as mesmas intenções dos ditadores que apoiam? Por que deveríamos acreditar que o PT, que o PSOL, que o PSTU, que o PCO, que o PCdoB e o que PCB não perseguiriam seus críticos e opositores como fazem todas as ditaduras que eles próprios defendem? Por que não deveríamos ver o PT como um partido comunista?
A verdade: O PT só não instaurou uma ditadura aqui porque não conseguiu.
No campo econômico, devemos considerar também que PT e o PSDB são partidos intervencionistas, o que não significa que o fato do primeiro ser mais intervencionista faz do segundo um partido liberal. No entanto, observa-se diferenças em conceito e em escala. O intervencionismo petista com toda certeza provocou males muito mais profundos e prejudiciais ao Brasil do que o intervencionismo tucano. Se formos comparar os dois partidos sob a ótica fiscal e monetária, o PSDB também se apresenta com um histórico menos absurdo do que o do PT.
Por fim, resgato o que já escrevi noutras oportunidades: O PSDB não tem militância ideológica. Não conta e nunca contará com o apoio massivo de estudantes, de sindicalistas, de artistas e de intelectuais como ocorre com o PT; e foi esse apoio que sustentou todos os absurdos que Lula e Dilma impuseram ao Brasil. Sem um exército de militantes defendendo-o incondicionalmente, o PSDB é um partido muito mais fácil de ser questionado, pressionado e punido.
O PSDB é uma ameaça menor que o PT, assim como o PT é uma ameaça menor que o PSOL, assim como o PSOL é uma ameaça menor que o PSTU. Eis a tragédia da política brasileira.
O PMDB é uma terceira “coisa”. Certamente, o mais brasileiro dos partidos se considerarmos seu oportunismo, sua falta de pudor em se bandear para o lado que lhe oferece mais comodidades. Ao contrário do PT e do PSDB, o PMDB não tem comprometimento ideológico, o que, dependendo da situação, pode ser bom ou ruim.
A Rede vem para acolher os petistas que não fugirem para o PSOL.
O Novo é novo demais para que nele seja depositado algo além de esperança.
Como libertário, enxergo o estado como um mal em si mesmo, porém, ofereço as reflexões acima como contribuição ao sacrifício que a maioria das pessoas faz na escolha de qual partido deve defender − o demônio ou satanás.