Por Ricardo Bordin, publicado pelo Instituto Liberal
Ganhou destaque nas mesas de debate artigo veiculado pela Folha de São Paulo semana passada, no qual o jornal informa que “Bolsonaro quer militarizar ensino no país e pôr general no MEC”. A matéria pormenoriza as normas de conduta que vigoram em colégios militares como se estivesse descrevendo o inferno de Dante, ao mesmo tempo em que admite o inegável: os índices de aprovação tendem a disparar nestas escolas, cujos alunos costumam figurar entre os primeiros colocados do Enem.
Entrevistado pelo periódico, Renato Janine Ribeiro, que foi ministro da Educação do governo Dilma por seis meses em 2015, afirma que “é um erro, numa sociedade democrática, tentar colocar a formação militar, hierárquica e obediente, ideal para todos os jovens, inquietos por natureza”; seriam eles, afinal, “o futuro de um país que sempre cultivou uma autoimagem de uma coisa mais alegre, mais solta nos costumes”.
Pois vejam vocês: não é que o proeminente professor universitário passou raspando na X da questão e sequer deu-se conta?
São tão somente dois fatores que elevam o desempenho dos alunos de colégios militares (mantidos pelo Exército Brasileiro ou pela Polícia Militar) acima da média do restante da rede de educação pública – fatores estes que já se fizeram presentes em todas as escolas brasileiras no passado recente, e hoje estão em absoluta falta nas salas de aula:
1) Os estudantes respeitam os professores, e são punidos em caso de indisciplina;
Será que existe requisito mais básico do que este para o aprendizado? Não há nem mesmo sentido debater sobre a eficácia de uma determinada didática se os alunos não reconhecerem o professor como alguém a quem devem obediência. De que adiantaria equipar as instituições de ensino com equipamentos de última geração e educadores doutorados em Harvard se a turma estiver fazendo algazarra durante as explanações e recusar-se a seguir as instruções do professor? Neste sentido, a aplicação de sanções como suspensão e até mesmo transferência educativa (expulsão, em português claro) ajuda a arrefecer a sensação de impunidade que permeia as demais escolas do Brasil (inclusive particulares).
Foi em meados da década de 1980 que esta relação entre instrutores e instruendos degringolou de vez. Os métodos paulofreireanos atualmente em voga retiraram do professor sua autoridade, proibindo castigos e punições de qualquer natureza, e até mesmo reduzindo demais a probabilidade de reprovação. Foi a senha para que os estudantes passassem a ver o colégio com desdém e começassem a desafiar os professores – ainda mais estando amparados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, o qual lhes confere total inimputabilidade penal. Daí para começarem a ser observadas até mesmo agressões físicas foi um pulo (para não mencionar consumo de drogas e sexo entre pré-adolescentes), como revela Percival Puggina neste artigo:
Eis os números revelados por Zero Hora (jornal gaúcho): 23.930 atos de indisciplina em sala de aula, 4.861 atos de violência física entre alunos, 4.811 agressões verbais a professores e funcionários, 1.275 depredações ou pichações dentro da escola, 294 casos de posse ou tráfico de drogas, 199 agressões físicas a professores ou funcionários. E não eram números referentes a todas as escolas, nem cobriam um ano letivo inteiro. Os dados foram coletados em apenas 1.255 educandários estaduais (menos da metade da rede) e informavam ocorrências relativas a seis meses letivos (os dois últimos de 2015 e quatro primeiros de 2016). Então, no processo de “conscientização” e construção da cidadania, o caso da professora que levou um soco no rosto é apenas um ovo quebrado, como o que ela considerou merecido por Dória, na omelete da revolução. Um entre milhares.
2) Os estudantes são cobrados de sua parcela de responsabilidade no processo de aprendizado, e sofrem as consequências em caso de desleixo, bem como são premiados pelo sucesso;
Uma pesquisa da CNT/Sensus mostrou que, para 78% dos professores entrevistados, o papel mais importante da escola é “formar cidadãos”. Apenas 8% responderam que a missão principal da escola é “ensinar as matérias”. Eis aí a raiz do problema: se a tarefa primordial do colégio, na visão dos próprios encarregados do processo pedagógico, não é mais difundir conhecimento, então os pais estão mandando os filhos até a escola todos os dias…para que mesmo?
Ora, se nem mesmo os professores consideram importante ensinar, por que os alunos considerariam importante aprender? Nesta conjuntura, o estudante vê-se desincumbido de sua obrigação de prestar atenção às explicações, estudar e tirar boas notas.
E como aos alunos não é imposta esta obrigação de assimilar os conteúdos ministrados (quando são ministrados), acaba que a responsabilidade por eventuais baixos rendimentos recai exclusivamente sobre os ombros de professores e diretores de escola. Ou seja, nossos jovens saem do ensino médio sem formar a consciência de que precisam sofrer as consequências de seus atos e de que podem usufruir dos louros de suas conquistas – que belos “cidadão” estamos formando neste processo.
Os colégios militares, a seu turno, são extremamente metódicos neste quesito: cobra-se que o aluno comprove que aprendeu o que foi ensinado, e os professores entendem que sua missão restringe-se a ensinar Matemática, Português e demais matérias. Simples assim. Tive a oportunidade de estudar na Escola de Especialistas da Aeronáutica (EEAR), instituição onde, a exemplo das demais academias militares, tirar nota abaixo da média exigida implica em desligamento automático do curso. Ou o estudante assimila o que foi transmitido, ou o portão da saída é o próximo destino.
A contrario sensu, aqueles que alcançam destaque são premiados até mesmo com viagens para o exterior, representando as instituições em competições acadêmicas.
Já as escolas civis, a cada dia que passa, buscam novas justificativas para aprovar alunos sem rendimento suficiente para tal. Assim fica difícil motivá-los a buscar o aprendizado.
Trocando em miúdos: não é necessário fardar nossos estudantes para que alcancem o desempenho de seus pares de escolas militares. Basta que recuperemos a obediência para com os professores e voltemos a exigir esforço dos alunos. O nível de formação intelectual dos educadores dos colégios militares não difere muito daqueles que ministram aulas nas escolas regulares, e os recursos disponíveis também se equivalem. O diferencial reside portanto, no perfil dos alunos – e isso não será corrigido enquanto o discurso focar apenas em “mais dinheiro para a Educação”.
Será tão difícil assim atingir tal meta sem tocar uma corneta para iniciar o expediente?
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