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Por que os “desenvolvimentistas” são uma piada de mau gosto?
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Por Bourdin Burke, publicado pelo Instituto Liberal

Andou circulando pelo Whatsapp, nos últimos meses, uma anedota que cativou a maioria dos usuários do aplicativo de troca de mensagens. Basicamente, ela apregoa que a prosperidade financeira de uma localidade qualquer advém de uma maior circulação do dinheiro na economia local. Transcrevo-a abaixo:

Maio de 2015, numa cidade litorânea do Sul do Brasil, muito frio e mar agitado, a cidade parece deserta. Os habitantes, endividados e vivendo à custa de crédito. Por sorte chega um viajante rico e entra num pequeno hotel. O mesmo saca uma nota de R$ 100,00, põe no balcão e pede para ver um quarto. Enquanto o viajante vê o quarto, o gerente do hotel sai correndo com a nota de R$ 100,00 e vai até o açougue pagar suas dívidas com o açougueiro. Este, pega a nota e vai até um criador de suínos a quem deve e paga tudo. O criador, por sua vez, pega também a nota e corre ao veterinário para liquidar sua dívida. O veterinário, com a nota em mãos, vai até a zona pagar o que devia a uma prostituta (em tempos de crise essa classe também trabalha a crédito). A prostituta sai com o dinheiro em direção ao hotel, lugar onde, às vezes, levava seus clientes e que ultimamente não havia pagado pelas acomodações, e paga a conta. Nesse momento, o gringo chega novamente ao balcão, pede a nota de volta, agradece mas diz não ser o que esperava e sai do hotel e da cidade. Ninguém ganhou nenhum vintém, porém agora toda a cidade vive em PAZ! MORAL DA HISTÓRIA: Quando o dinheiro circula, não há crise!

Se você riu desta piada, saiba que, com certeza, outro grupo de pessoas não apenas deu gargalhadas, mas também concordou e bateu palmas para os conceitos embutidos nas entrelinhas: os adeptos das teorias econômicas de John Maynard Keynes e Paul Krugman, empregadas por Guido Mantega e sua equipe de “desenvolvimentistas”, logo após o estouro da bolha de 2008, para salvar o Brasil da “marolinha” (que viraria tsunami) que se avizinhava. Vale dizer: para o paciente hospitalizado na UTI por ingestão de veneno, mais veneno – na veia. Vejamos onde tais conceitos manifestam-se na historieta.
O viajante rico que chega e despeja dinheiro no comércio local, propiciando o adimplemento de dívidas contraídas por investidores e pondo a roda da economia para girar, representa a tese de que os gastos públicos, em períodos de recessão, devem servir de ignição, de motor de arranque da economia – ainda que gere déficits públicos de alta monta.
Aqui, dois aspectos merecem ser ressaltados:
⦁ Na maioria das vezes, o Estado, a fim de obter os recursos para fazer essa injeção de dinheiro na economia, imprime moeda “do nada” (sem que ela esteja lastreada por uma equivalente quantia de ouro ou represente um aumento da produtividade nacional) ou cria empréstimos tendo como lastro depósitos à vista (por meio do sistema bancário de reservas fracionárias), gerando, inevitavelmente, inflação – ou seja, estes 100 reais, em breve, estarão valendo 80, e quem vai sentir primeiro no bolso este efeito nefasto são justamente os mais pobres da cidade;

⦁ O viajante, no caso em tela, escolheu o hotel para injetar os recursos, como faz o Estado na vida real, quando seleciona “campeões nacionais” (empresários amigos do rei) para receberem empréstimos do BNDES com taxas de juros mais baixas que as praticadas no mercado, utilizando, para tal, dinheiro dos pagadores de impostos – isto é, de todos os outros cidadãos da cidade – e contribuindo para a geração de bolhas financeiras.

Mas esse turista que chega com dinheiro para gastar não poderia ser representado pelo investimento estrangeiro? Certamente que sim, desde que as condições da economia local fossem atraentes e proporcionassem menores riscos. Infraestrutura precária (acomodações do hotel insatisfatórias), carga tributária elevada (impostos e taxas elevam o valor da diária), insegurança jurídica (desonestidade do dono do hotel, que pegou os 100 reais e gastou), são fatores que podem afugentar esse potencial investidor forasteiro – tal qual ocorre na piada, e, rotineiramente, no Brasil. Ou pior ainda: barreiras protecionistas (que só protegem empresários, permitindo o surgimento de cartéis e reservas de mercado) podem impedir até mesmo que o investidor dê as caras na anedota, como se sucede em diversos setores de nossa economia, nos quais o livre mercado não tem vez. Some-se isso tudo à ideologia predominante no Brasil, segundo a qual os “capitalistas exploradores querem instalar-se em nosso país para levar embora nossas riquezas”, e chegamos à conclusão de que a piada somos nós mesmos.

Aliás, aqui vale apontar o grande furo da estória: como o viajante, ao final, leva embora os 100 reais, o dono do hotel sofreu um prejuízo de igual valor. Ou seja, ao contrário do que se afirma, nem toda a cidade está feliz agora. E porque o turista teria decidido ir embora? Basicamente, o valor do bem ofertado pelo comerciante (estadia) não foi gerado a custos razoáveis (valor da diária) – pelo menos na avaliação subjetiva do potencial hóspede. Supondo que ele tenha dirigindo-se a outra estalagem na praia vizinha, somente restará uma opção para este empresário do ramo hoteleiro: melhorar a qualidade de seus serviços e/ou reduzir sua margem de lucro. Aí, sim, poderemos ter um final feliz para todos nesta piada, especialmente para os consumidores.

Cabe ainda questionar: por que esta cidade fictícia está atravessando esse momento de crise? Vale a pena levantar algumas hipóteses:

⦁ O governo municipal aumentou seus gastos em período eleitoral, visando reeleger-se, e agora compensa com incremento da tributação (se o chapéu serviu, use-o, Dilma Rousseff);

⦁ Por se tratar de uma cidade litorânea, cuja economia permanece aquecida apenas durante o verão, seus habitantes deveriam fazer poupança para o restante do ano, mas ou por uma questão cultural (o brasileiro médio não costuma ter paciência para economizar dinheiro e prefere contrair empréstimos), ou porque não sobra quase nada após pagar tantos impostos (sim, de novo), não foi possível guardar quase nenhum recurso para a pós-temporada de praia;

⦁ Os empreendedores locais não logram atrair turistas durante o restante do ano, diferente, por exemplo, de Gramado/RS, a qual, em teoria, deveria despertar o interesse de visitantes somente durante o inverno, mas que, devido à iniciativa de empresários da região, fica lotada de outubro a janeiro por pessoas que querem presenciar o “Natal Luz”;

⦁ Os comerciantes da cidade sofreram grandes prejuízos porque o governo municipal resolveu bancar o interventor e “regulou” o comércio de cervejas na beira da praia, tal qual ocorreu com Florianópolis há pouco tempo.

Enfim, a ideia central desta piada (redistribuição de renda) é algo que, por si só, não gera novas máquinas, novas ferramentas, novos bens de capital, novas instalações e novas plantas industriais, ou seja, não gera aumento da capacidade produtiva. Tomar dinheiro de Pedro para dar a Paulo não possibilita novos investimentos. Se houver aumento da demanda, mas não houver ampliação da produção, isso vai ocasionar apenas aumento de preços. E, quando há aumento de preços, os pobres são os primeiros a serem atingidos. O Brasil aprendeu, da pior forma possível, e com os piores comediantes que poderia encontrar (obrigado por nada, UNICAMP), que esta piada não tem é graça nenhuma.

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