Por Roberto Ellery, publicado pelo Instituto Liberal
Quando pensamos em países pobres que estão tentando crescer é comum lembrarmos da Ásia, com exceção de nações avançados como Japão e Coreia do Sul. Os países asiáticos em desenvolvimento são, em média, mais pobres que o Brasil e a média da América Latina e Caribe. Ocorre que tais países estão crescendo mais rápido que nós e, mantendo esse ritmo, em breve poderão repetir o feito da Coreia do Sul e os outros “Tigres Asiáticos” e nos deixar para trás. Seria mais uma confirmação da tese dos economistas Harold Cole, Lee Ohanian, Alvaro Riascos e James Schmitz (link aqui). Por que a América Latina é o caso de fracasso mais difícil de explicar em termos de crescimento econômico? Por que mesmo usufruindo de relativa paz e baixa intensidade de conflitos étnicos ou culturais não conseguimos crescer? Estamos condenados a mais cem anos de solidão?
Estou entre os que acreditam que o maior problema da América Latina é a baixa produtividade e que este fenômeno não é explicado apenas por problemas de capital humano, não estou sozinho, os economistas que citei acima seguem essa mesma tese. Mas, como falo sempre de produtividade e tem gente que não gosta muito do assunto vou destacar outras diferenças entre os países da América Latina e do Caribe e os países emergentes da Ásia. Nesse artigo vou caracterizar a aproximação na renda dos dois grupos de países e tratar da poupança e investimento, em artigos futuros farei outras comparações.
Os dados utilizados são do FMI (link aqui), selecionei as variáveis já agregadas por grupos de países. Para uma lista dos países de cada grupo ver aqui, vale registrar que na lista dos países asiáticos não estão países considerados avançados como Japão, Coreia do Sul e Singapura. A figura abaixo mostra o PIB per capita, corrigido por paridade do poder de compra, dos países da América Latina e Caribe e dos países emergentes da Ásia, repare que ainda somos mais ricos, mas a diferença está diminuindo.
Caso a aproximação da renda não tenha ficado visível, a figura abaixo mostra o PIB per capita dos países emergentes da Ásia como proporção do PIB per capita dos países da América Latina. É fácil ver que tal proporção cresce com o tempo. Em 1980, primeiro ano da amostra, os países emergentes da Ásia tinham um PIB per capita que era aproximadamente 12% do PIB per capita dos países da América Latina e Caribe, e, 1990 essa proporção tinha subido para 21%, em 2000 já era de 31% e em 2016, último ano da amostra, chegou a 70%. Se esta proporção continuar subindo nossos netos, ou mesmo nossos filhos, vão olhar para o Vietnã como hoje olhamos para Coreia do Sul, uma mistura de admiração e inconformismo de porque não fizemos o mesmo.
Para quem gosta de taxas de crescimento a figura abaixo mostra o que aconteceu em cada grupo de países entre 1980 e 2016. Repare que em praticamente todos os anos do período analisado os países emergentes da Ásia cresceram mais que os países da América Latina e Caribe. Não é período homogêneo, aqui no Brasil durante este tempo tivemos o final do regime militar, a transição democrática de Sarney, a crise política de Collor, o período reformista de FHC e Lula, a guinada desenvolvimentista no segundo mandato de Lula, o governo Dilma e a crise política de Dilma e Temer. Outros países do continente também passaram por mudanças do tipo, alternando governos autoritários, reformistas e populistas. Tivemos a crise da década de 1980, o boom das commodities e o colapso dos regimes populistas. Porém, em todos estes períodos, não conseguimos crescer consistentemente mais do que os países emergentes da Ásia. Qual o nosso problema? Quais as virtudes deles?
Comecemos pelo suspeito usual. A figura abaixo mostra a taxa de investimento nos dois grupos de países. Notem como a taxa de investimento subiu nos países emergentes da Ásia e comparem com a trajetória de nossa taxa de investimento. Enquanto eles saem de um patamar próximo a 30% e vão para um nível próximo a 40%, nós ficamos estagnados em torno de 20%. Investir mais significa mais capacidade de produção e, talvez o mais importante, incorporar novas tecnologias ao processo produtivo, claro, desde que o investimento seja bem feito. Naturalmente investir mais também significa sacrifícios presentes em nome da construção do futuro, os asiáticos poderiam ter um melhor padrão de consumo se investisse menos, mas, muito provavelmente, não estariam crescendo tão mais que a América Latina e Caribe se tivessem feito isso. Se nossos filhos se perguntarem porque ficamos para trás talvez seja o caso de respondermos dizendo que escolhemos pensar mais em nós do que neles.
Sempre que falamos em investimento pensamos em poupança. Existe muito debate sobre se poupança determina investimento ou se investimento determina poupança. Confesso que eu estou entre os que acreditam que ambos são determinados conjuntamente como costuma ocorrer com quaisquer quantidades demandas e ofertadas que estejamos analisando. Porém, deixando de lado o debate teórico, é fato que poupança financia investimento no sentido que para alguém investir é preciso que exista poupança. Se todos consomem completamente a própria renda não existe investimento. Claro que um país pode financiar seu investimento pegando emprestado com cidadãos de outros países, é a chamada poupança externa, mais uma vez o campo aqui é minado em termos de teoria, mas do ponto de vista de financiar o investimento, que é o que interessa aqui, mais poupança, interna ou externa, permite que sejam feitos mais investimentos. A figura abaixo mostra a taxa de poupança nos países emergentes da Ásia e nos países da América Latina e Caribe, repare que os asiáticos não apenas investem como poupam mais que o latino americanos e os caribenhos. Notem que eles são mais pobres que nós, logo dizer que somos pobres e por isso não poupamos não é um bom argumento.
A questão da taxa de poupança é particularmente relevante para os desenvolvimentistas. É fácil olhar para países asiáticos e falar do câmbio, ocorre que câmbio é preço, e, como todo preço é determinado por vários fatores que interagem no mercado. Um destes fatores é a poupança. Se um país poupa o suficiente para financiar seu investimento talvez não precise atrair poupança externa, quando acontece o contrário, caso do Brasil e de boa parte da América Latina, o país precisa atrair capital externo, ou seja, precisa atrair dólares, isso aumenta a oferta de dólares e age no sentido de valorizar a moeda local. Levando isso em conta é um espanto que tantos economistas que se dizem desenvolvimentistas tenham se omitido, ou mesmo aplaudido, o aumento dos gastos, particularmente dos gastos públicos da década anterior.
Voltando a atenção para o Brasil é válido registrar que sofremos de dois males quanto ao nosso investimento. Não apenas investimos pouco como também investimos mal, o aumento na taxa de investimento que ocorreu na década passada poderia ter ajudado muito no crescimento desta década. Não foi o que aconteceu, no lugar de empresas sustentáveis investimos nas tais campeãs nacionais, no lugar de infraestrutura de transportes ou energia investimos em estádios. Deu no que deu, mas isso é assunto para outro artigo.
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