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Por que tantos jogadores são acusados de sonegação na Espanha?

Por Luan Sperandio, publicado pelo Instituto Liberal

Cristiano Ronaldo, Lionel Messi, Luís Figo, Samuel Eto’o, Javier Mascherano, Fábio Coentrão, Diego Costa e José Mourinho são apenas alguns dos esportistas que atuaram no futebol espanhol e que estão respondendo ações por sonegação de impostos naquele país. A imprensa nacional costuma se restringir a informar isso. Tornou-se uma piada comum nas redes sociais que a sonegação se tornou um segundo esporte na vida desses atletas. Contudo, os detalhes que a imprensa brasileira não tem exposto é que problemas na legislação espanhola são o causador de insegurança jurídica na arrecadação tributária de direitos e imagem e o verdadeiro motivo pelo qual tantos jogadores estão tendo problemas com o fisco.

Para esboçar o problema de todos esses jogadores, analisemos o caso de Cristiano Ronaldo. Na acusação do Ministério Público de Madrid em relação à ele, consta na denúncia que o português sonegou rendimentos de seus direitos de imagem na ordem de 14,7 milhões de euros, mas estima-se que o valor poderia passar de 150 milhões de euros.

Na peça argumenta-se que 6 meses antes de ir jogar no Real Madrid o jogador abriu 3 empresas (offshore) nas Ilhas Virgens a fim de pagar menos impostos. Segundo a acusação, o dinheiro dos direitos de imagem do jogador iam para seu empresário, Jorge Mendes, na Irlanda, posteriormente retornando para a Ilhas Virgens e apenas posteriormente eram direcionados para as contas de CR7 na Suíça, numa operação conhecida como elisão fiscal, que não é, por si só, ilegal.

Ocorre que a legislação é obscura e não consta nela o percentual de rendimentos referentes aos direitos de imagem que um jogador que atue na Liga Espanhola, como Cristiano, deva pagar ao fisco espanhol. Isso porque trata-se de jogadores de alcance mundial, que rodam publicidades em centenas de países de todo o mundo. Logo, a arrecadação com marketing e propaganda de produtos e bens alicerçados em suas imagens se dão, na maior parte, fora do território espanhol.

No planejamento tributário de Cristiano Ronaldo, por exemplo, consta que cerca de 94% dos rendimentos de imagem de CR7 se dão fora da Espanha – algo natural por ele se tratar de um ícone global. Apesar disso, a equipe de advogados de Cristiano considerou pagar os tributos como se 20% dos rendimentos dos direitos de imagem do jogador se dessem na Espanha, e não apenas 6%. Isto é: arcaram com mais de três vezes o valor, em tese, devido ao fisco como uma margem de segurança para que ele não tivesse quaisquer problemas na Receita. Apesar disso, o Leão Espanhol, país que vive grave crise econômica, continuou com fome e moveu ações contra Cristiano – e dezenas de outros jogadores, até mesmo como forma de intimidação e exemplo aos espanhóis.

Quando há uma sucessão de casos reiterados, não dá para atribuir ao problema uma conotação antropológica, como se desportistas estivessem criado a cultura de sonegação tributária. Como se viu, o problema no caso analisado é institucional, de uma legislação ruim e omissa. Pense nisso da próxima vez que ler uma manchete em que apareça um jogador que atue no futebol espanhol e que seja acusado de problemas envolvendo direitos de imagem.

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