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Se no plenário, sob os holofotes, senadores e integrantes dos governos Michel Temer e Dilma Rousseff ficam com o sangue fervendo e quase se atracam, nos bastidores o clima é bem diferente. Num dos intervalos da sessão desta segunda-feira, uma cena improvável: em rodinha ao lado da Mesa Diretora, o acusador, senador Aécio Neves (PSDB-MG), a ré Dilma Rousseff, seu advogado de defesa, José Eduardo Cardozo, e o presidente da sessão, ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, conversando e rindo animadamente, como se fossem grandes amigos.

— Presidente, eu desejo paz e tranquilidade para a senhora e sua família neste processo — abordou Aécio, depois de cumprimentar Dilma.

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Testemunhando a cena descontraída, Lewandowski não perdeu a brincadeira.

— Eu tinha ouvido que, na política, até as inimizades são criadas. Mas, como sou do Judiciário, eu não sei — disse o ministro, levando Dilma, Aécio e Cardozo a caírem na gargalhada.

— Não é que seja inimizade presidente. O que temos são projetos políticos diferentes — respondeu, diplomaticamente, Aécio.

Essa cena descrita pelo jornal é um soco no estômago de milhões de brasileiros que foram às ruas pedir a cabeça de Dilma, defender o impeachment, cobrar uma postura mais firme da oposição. O senador Aécio Neves parece não estar à altura de sua missão, sendo “diplomático” demais da conta. Chega a ser tão “diplomático” que isso pode ser confundido com covardia.

Os tucanos sempre se mostraram cordiais demais com os petistas, como o próprio ex-presidente Fernando Henrique já cansou de demonstrar. É uma espécie de síndrome de Estocolmo, já que os petistas pintam e bordam com os tucanos, demonizam o PSDB, jogam sujo o tempo todo, e depois os tucanos ficam mendigando uma espécie de aceitação por parte do PT.

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É como alguém que tem um vizinho sem educação, barulhento, que joga o lixo no seu quintal, que fica assediando sua filha e sua mulher, e depois vai lá convidá-lo para um chá como forma de demonstrar sua cordialidade diplomática. Há uma linha que, se ultrapassada, expõe a estupidez, não a educação.

Não, senador Aécio. O momento pede uma postura muito diferente, na linha do senador Ronaldo Caiado, que enquadrou os vagabundos do PT. Não se trata apenas de “projetos políticos diferentes”, mas sim de um projeto bolivariano golpista que atentou contra a nossa democracia. O PT é cínico, falso, autoritário, pilantra, uma quadrilha! Não se faz concessões desse tipo a gente assim.

É por isso que o PT consegue sobreviver politicamente ainda: por essa “oposição” acovardada. Sim, tivemos alguns discursos duros ontem, perguntas difíceis de senadores tucanos. Mas em geral foram cordiais demais, não colocaram o dedo na cara e acusaram Dilma de ser a verdadeira golpista, como deveriam, não falaram que seu governo mirava no modelo venezuelano e pretendia destruir nossa democracia. Sequer chamam as “pedaladas fiscais” de fraudes fiscais, preferindo um termo que o povo nem entende direito e não remete ao crime que foi praticado.

Falta a esses tucanos a dimensão da coisa, o que está em jogo. São pusilânimes, talvez pelo rabo preso, talvez pela simpatia que, no fundo, nutrem pelo petismo, já que também são de esquerda. Afinal, não é possível apanhar tanto a vida inteira, ser retratado como monstros insensíveis que não se preocupam com os mais pobres, como lacaios de banqueiros, e depois vir abanando o rabo para desejar boa sorte e tranquilidade. Falta vontade de ver mesmo o Brasil livre dessa corja golpista. Falta sangue nos olhos desses tucanos “diplomáticos”.

Dilma não merece paz e tranquilidade, senador. Ela quase destruiu o Brasil inteiro. Milhões de pessoas estão sofrendo na pele as consequências. O que Dilma merece é punição legal. Isso sim. E que seja atormentada por todo o mal que causou à nação. É o mínimo que alguém razoável pode desejar para essa senhora.

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Rodrigo Constantino