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Por Paulo Roberto Tellechea Sanchotene, publicado pelo Instituto Liberal

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Bolsonaro, evidentemente, não é liberal. “Bolsonaro nunca foi nem nunca será um liberal”, escreve Elena Landau, do Livres, na conclusão de recente artigo publicado no Estadão. Nisso, há consenso.

Portanto, não estou aqui a “apelar para a agenda econômica para descobrir um presidente liberal.” Estou aqui para argumentar em favor da tese de que o Livres cometeu um erro estratégico grave ao evitar aliar-se ao Bolsonaro; um erro que muitos liberais, do Livres e do MBL, por exemplo, ainda teimam em negar.

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No último pleito presidencial, os liberais sozinhos não chegariam ao segundo turno. Claro, houve quem tenha apoiado o João Amoêdo, do Novo, para marcar posição. No entanto, pragmaticamente, para poder exercer alguma influência num governo, é necessário optar por alguém capaz de vencer, ainda que não seja o “ideal”. Os liberais que entenderam assim dividiram-se entre o Bolsonaro e o Alckmin.

O apoio de liberais ao Bolsonaro foi costurado antes de a campanha começar. É como o Paulo Guedes entra no time. Boa parte dos liberais votou no Bolsonaro já no primeiro turno. Bolsonaro venceu; Alckmin e Amoedo fizeram votações de figurantes. De um ponto de vista pragmático, os liberais que buscaram Bolsonaro estavam certos.
Os liberais que fizeram outras opções estão reclamando agora. Tentam justificar a escolha equivocada, boicotando um governo que promove a agenda liberal, como se houvesse alternativa. Não há. Deve-se reclamar do governo, sim, mas é preciso ter ciência de que essas reclamações são feitas por dentro da base; não, em oposição.

Eu jamais imaginei que o Bolsonaro pudesse vencer uma eleição para síndico, que dirá para presidente — quanto mais com o meu voto. No entanto, no ano passado, não havia alternativa. Pode-se não gostar do Bolsonaro, mas isso não importa. Mesmo entendendo que o governo dele venha excedendo minhas (irrisórias) expectativas, o relevante é não se poder brigar com a realidade. Atualmente, só há direita no Brasil no bolsonarismo ou aliada ao bolsonarismo.

Pode-se argumentar que o liberalismo não seja de direita e nem de esquerda. Landau o faz ao dizer: “o liberalismo não é nem um nem outro, mas os dois.” De fato, isso é verdade; mas política, por ser dividida entre governo e oposição, tem uma tendência dicotômica. Se liberalismo não é de direita e nem de esquerda, a tendência é de os liberais dividirem-se entre a direita e a esquerda. Individualmente, é preciso escolher entre um dos dois.

Eu, admito, sempre fui de direita. Em 2000, num congresso de estudantes de Direito em Salvador, com milhares de inscritos, o comentário foi “a direita chegou” quando apareci sozinho. Naquele fim de semana, senti-me “La Droite c’est moi.” A escolha do lado, para mim, foi natural.

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Que direita era essa que eu representava, da qual faço parte? A direita de pessoas as quais, nas palavras de Landau, “a oposição [ao governo FHC] apelidou… de ‘neoliberais’, de forma depreciativa”. Trata-se da direita das pessoas que a própria esquerda reconhece estarem do outro lado. O problema do apelido para mim sempre esteve no “neo”; jamais, no “liberal”. E tal alcunha nunca me pareceu depreciativa.

Se em 2000, a direita era pequena, como meu exemplo acima sugere, a realidade de 2018 era distinta. No contexto político hodierno tupiniquim, após quase quinze anos de governos petistas, um impeachment e uma crise socioeconômica de proporções bíblicas, o momento era de ressurgimento da direita. Era, e ainda é, uma direita desorganizada e inconsistente; porém, tinha um trunfo – um candidato.

Quem escolheu o Bolsonaro como candidato foi a esquerda, ao passar afirmando algo equivalente a “o nosso oposto é o Bolsonaro.” No período entre 2013 e 2018, Bolsonaro usou isso como capital político. Foi agregando apoio e, no fim, o único nome viável era o dele. Foi como bem descreveu Landau: “Por mais absurdo que pareça, a polarização que marcou as eleições do ano passado fez de Bolsonaro símbolo da candidatura liberal em oposição a Fernando Haddad, que reafirmava o modelo estatizante. Era a opção para encerrar o ciclo PT.”

Foi nesse cenário, como “a opção para encerrar o ciclo do PT”, em que o atual presidente ingressou no PSL. O Partido Social Liberal é uma sigla de aluguel controlada por Luciano Bivar. A razão de Bolsonaro ter escolhido o PSL foi a mesma adotada por um grupo de liberais não muito antes – o “Livres”, de Elena Landau. O movimento, criado em 2016, começara a fomentar a filiação de seus membros no PSL para tomar o partido para si e transformá-lo no seu veículo de participação político-partidária.

Repito, quando Bolsonaro entrou no PSL, foi como se o candidato mais viável a vencer a eleição caísse de paraquedas no colo do Livres! O que aconteceu? Segundo registra a Folha de São Paulo em matéria de 4/8: “Às voltas com a possibilidade de receber o então presidenciável, o presidente da sigla, Luciano Bivar, ouviu um ultimato do grupo [Livres]: ou ele ou nós.” Em suma, o Livres recusou o presente! E recusou, nas palavras de Paulo Gontijo, atual presidente do movimento, por achar ser “um risco que se confunda liberalismo com governo Bolsonaro. Não é.”

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Ainda assim, apesar do esforço do Livres em preservar a pureza do liberalismo, o risco se mantém. Por quê? Gontijo responde: “é como disse o próprio [Paulo] Guedes, este é um governo de coalizão entre alguns liberais e conservadores”. O jornalista arremata: “descreve Gontijo, com algum desânimo.” Sem o Livres, o candidato Bolsonaro ainda costurou o apoio de “alguns liberais” para a formação da coalizão que ora compõe o atual governo.

Política não é purista. Devem-se pesar as circunstâncias. Houve liberais que procuraram Bolsonaro e ele aceitou as condições para o apoio. Portanto, o “governo marcado pela intolerância” e de “viés autoritário”, segundo palavras da Landau, apesar de não ser liberal, cedeu parte importante da sua agenda aos liberais.

Bolsonaro poderia ter recusado o apoio em nome de um “purismo” conservador, mas não o fez. Entendeu, seja lá por qual motivo, que purismo seria ruim para ele. Entendeu bem. Purismo é o que há de pior na política. Já os autodeclarados tolerantes do Livres, “com algum desânimo”, lamentam que isso tenha ocorrido. Afinal, é “melhor deixar o liberalismo fora disso.”

Por “disso”, imagino que seja “do governo”. Landau registra: “Hoje as previsíveis dificuldades de levar adiante mudanças profundas sem o envolvimento direto do presidente da República são evidentes.” Para reforçar seu argumento, Landau coloca os méritos das mudanças alcançadas sobre Rodrigo Maia – um liberal de carteirinha, por certo. Pergunto, mas são previsíveis por quê?

Se o governo tem dificuldade de passar reformas liberais no Congresso, a culpa não é do antiliberalíssimo do presidente, como Landau acusa – ainda que possa haver algum fundamento no libelo. Nem Landau, tampouco Gontijo, nenhum menciona o fato de que o PSL elegeu a segunda maior bancada da câmara, com 52 deputados. O Livres, fora do PSL, conseguiu emplacar quatro: “O Livres está representado em Brasília pelos deputados federais Marcelo Calero (Cidadania-RJ), Tiago Mitraud (Novo-MG) e Franco Cartafina (PP-MG), além do senador Rodrigo Cunha (PSDB-AL).”

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Com 4 deputados, fica bem difícil exercer influência sobre legislação e políticas públicas. No ano passado, as pessoas votaram em qualquer nome que tivesse um “17” do lado. Teriam votado em peso em candidatos do Livres. A bancada liberal no Congresso seria muito maior do que é.

É preciso que se diga: se o governo não é mais liberal do que vem sendo, a responsabilidade é toda do Livres; se a bancada do PSL é péssima, a culpa é toda do Livres. Bolsonaro fez a parte dele. Quem deliberadamente boicotou a causa liberal foi o Livres!

Eu não cito nomes para não magoar ninguém aqui com algum lapso, mas foi graças ao esforço de outros liberais, pessoas com senso político e de oportunidade, pragmáticos e sem nojo, que o governo brasileiro defende e age em prol de pautas liberais. Esses liberais são o porquê de o Bolsonaro ter conseguido vencer a eleição e representar a direita inteira. É pela iniciativa deles que, mesmo comandado por um porra-louca sem papas na língua, ao menos temos um governo engajado com reformas liberais.

O governo poderia ser ainda mais engajado nisso. Se não o é, é por causa dos próprios liberais. No entanto, há muitos que seguem buscando razões para evitar reconhecer o óbvio; que seguem forçando a concretização de uma profecia autorrealizável. Fazem isso para que não sejam obrigados a encarar seu próprio erro.

Eu disse não haver alternativa. Bem, se dependesse dos liberais puristas, do Livres e outros tantos, estaríamos hoje todos nós felizes e limpinhos fazendo oposição ao Haddad…

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