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Por uma agenda com prioridades. Ou: A bolha da elite

O tema da homofobia ganhou as páginas dos jornais após o coordenador do “núcleo LGBT” deixar a campanha de Marina Silva. Que fique claro: sou completamente contra a verdadeira homofobia, aquela que destila ódio e preconceito contra alguém só por sua inclinação sexual diferente. O homossexual é um indivíduo que merece respeito, e pode ser uma pessoa com muito mais caráter e dignidade que muito “machão” por aí.

Dito isso, cabe perguntar: o tema não estaria recebendo atenção demasiada? Sabemos, para começo de conversa, que as estatísticas de assassinato e violência contra gays são infladas, pois todos os crimes de disputa de território no submundo da prostituição entram como “crime de homofobia”, o que é absurdo. No mais, não diria que os homossexuais gozam de poucos direitos no Brasil, e boa parte dos movimentos de “minorias” passou a lutar, no fundo, por privilégios ou por um hedonismo e uma promiscuidade que vários gays também condenam.

É essa, então, a grande pauta do Brasil? É esse o tema prioritário em nossa política? Digo que não. E acuso boa parte de nossa elite de viver em uma bolha. Assistem ao programa “Esquenta” da Regina Casé e acham que a vida nas comunidades carentes é aquela festa. Enaltecem o estilo “despojado” dos mais pobres, vistos como mascotes para tal elite. Acho isso insensível.

Nesta segunda-feira minha empregada nos deixou na mão, não foi trabalhar. Motivo: foi despejada de sua casa, sem ter para onde ir. E a lei? E o contrato de aluguel? E o aviso prévio? Perguntas inocentes de quem vive distante da realidade do Brasil. O “contrato” é de boca, quem manda no “pedaço” não é o império da lei estatal, mas o miliciano ou o traficante, e obedece quem tem juízo. Falta estado justo na área em que se faz necessário, e sobra nas demais, especialmente na hora de abocanhar boa parte de seu salário.

Certa vez levei a mesma empregada, passando mal, a um hospital público de madrugada. Levou uma hora para ser atendida, e estava vazio! O médico mal a examinou e já a mandou embora, com um mísero remédio para aplacar o sintoma. O problema era mais grave, demandava cirurgia. A qual teve de esperar por mais de um ano na fila do SUS.

Ela chega atrasada com alguma frequência no trabalho, mas não a culpo tanto por isso. Afinal, o transporte público é caótico, basta uma chuva de nada ou uma ventania, como a de hoje, para causar um transtorno imenso e dar um nó no trânsito. Ela leva algumas horas em um trajeto relativamente curto. Fica mais fácil compreender por que prefere dormir na minha casa…

Entendam o drama: estou falando da vida de uma pessoa humilde e trabalhadora, que tenta ganhar a vida com dignidade, mas encontra inúmeros obstáculos no caminho. Mora em local perigoso, dominado pelo crime, e não conta com o império da lei para protegê-la. O saneamento é escasso. Locomover-se pela cidade é um verdadeiro calvário. A dependência do sistema de saúde pública é de desesperar qualquer um.

Para piorar, ela deixa de ganhar parte de seu salário, pois o governo lhe toma em nome de seu próprio bem. E como se tudo isso ainda não fosse suficiente, a economia parou de crescer e a inflação come grande parte de seu salário. Até o emprego corre risco, do qual seu sustento depende.

Imagine seu drama e multiplique por milhões: é esse nosso Brasil. Agora pense na reação dessa moça ao ligar a TV e descobrir que o grande tema que domina a pauta de debates no país é se o gay pode ou não casar na igreja e adotar filhos. Pergunto com sinceridade: é ou não é revoltante para ela? Nossa elite precisa sair de sua bolha e voltar à realidade brasileira…

Rodrigo Constantino

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