Muitos sociólogos querem tratar o crime só como uma questão social, como se a pobreza levasse automaticamente o sujeito a uma arma para ameaçar a vida alheia. As soluções propostas são sempre amenas e parecem tratar o bandido como a vítima. Com prisões cheias e um governo corrupto e incompetente que não investe o suficiente nisso, a saída é prender menos, adotar penas alternativas, tornar o galalau inimputável. O resultado é mais criminalidade.
O caso do Aterro do Flamengo, que ganhou os jornais esses dias, merece menção. Vários marginais que assaltavam no Centro iam para lá, e ficavam com tranquilidade, à luz do dia, por ali. A indignação da população local foi tanta que a polícia teve de agir. Prendeu quase 40, mas só um continua preso. É o prende e solta, reconhecido pelas próprias autoridades: não adianta chamar a polícia que eles logo estarão de volta às ruas, após debocharem do próprio policial que os prendeu.
Ao comentar na segunda-feira o fato de integrantes da gangue do Aterro terem sido soltos, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, disse que o problema envolve questões legais e sociais, porque moradores de rua e usuários de droga também ocupam o parque.
— É pega e solta, pega e solta. Esses caras têm faca. Tudo bem. Não tem problema nenhum. Ele vai numa ferragem aqui na esquina e compra uma faca muito boa. Se isso não é condição para ele responder perante o estado, de uma maneira exemplar, então, pensem bem antes de chamar a polícia — disse. — Em determinados horários, há uma verdadeira legião de pessoas que se acomodam ali, para dormir ou se drogar. Quando acordam, têm fome e buscam uma solução para o seu problema.
E tudo isso é visto com a maior naturalidade! Eis o nosso grande problema. Aqui na Flórida, especialmente em Weston, uma cidade pacata, já cruzei com a polícia algumas vezes. Os carros circulam pelas ruas, mas no geral ficam na deles. Não há Lei Seca, você pode tomar seu vinho em paz e voltar para casa dirigindo, como deveria ser em qualquer país civilizado. Mas ai de você se demonstrar alguma atitude suspeita…
A polícia brota do nada, vários carros! A sensação é de segurança justamente porque os pequenos delitos não são tolerados. Não se vê marginais nas ruas, “craquentos” dormindo na praça pública com porretes ou facas. Isso seria impensável aqui. Um Fernando Haddad que quisesse tratá-los como cidadãos dignos jamais seria eleito.
Nem sempre foi assim. Na Nova York dos anos 1980, por exemplo, ninguém podia pegar o metrô de noite ou caminhar pelo Central Park em paz. O clima era de medo, insegurança. Mas Rudolph Giuliani encampou a teoria da “janela quebrada”, ou seja, a tese de que os pequenos delitos precisam ser severamente punidos ou impedidos, para não permitir uma bola de neve que leva ao ambiente de anomia, de terra sem lei.
A teoria da “janela quebrada” foi desenvolvida por James Wilson e George Kelling. Eles argumentaram que o crime é um resultado inevitável da desordem, e que se uma janela é quebrada propositalmente e deixada desta forma, as pessoas irão concluir que ninguém liga e ninguém está no comando. Em breve, mais janelas estarão sendo quebradas, até se instalar um senso de anarquia, enviando um sinal perigoso aos potenciais vândalos. Pequenos atos levariam a resultados de grande proporção.
Para a sorte dos ianques, os responsáveis pela segurança da cidade acreditaram nesta tese, e iniciaram um programa radical de limpeza do crime. O foco não estava em amplos programas, abstratos e ineficientes, mas sim nos pequenos delitos. Começaram os trabalhos pelo metrô, num árduo esforço de manter os vagões livres do grafitismo. O resultado foi excelente, e em poucos anos as taxas de criminalidade já tinham caído abruptamente.
Os sociólogos de esquerda estão errados. Precisam parar de tratar com condescendência os marginais que, além de estragarem suas próprias vidas, querem estragar a dos outros, cidadãos ordeiros e trabalhadores. Precisam parar de defender esmolas estatais para vagabundos. Precisam incentivar e enaltecer o comportamento adequado, não o marginal. E precisam entender que a vista grossa de hoje é paga com o sangue de amanhã. Quem poupa o lobo mata as ovelhas, sabia Victor Hugo.
Se desejamos um clima de maior segurança no Rio e no Brasil como um todo, então é fundamental punir os pequenos delitos. Prender bandido e logo depois soltá-lo é um convite ao crime. A sensação que fica é de impotência, de impunidade, de anomia. O cidadão correto vai se retraindo, se aprisionando em sua própria casa, enquanto as ruas vão sendo tomadas pelos marginais. Até quando vamos permitir isso? Até quando vamos dar ouvidos a esses sociólogos que parecem se identificar mais com o algoz do que com a vítima?
Rodrigo Constantino