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O debate nesta segunda entre o candidato republicano Donald Trump e a candidata democrata Hillary Clinton atraiu uma multidão de audiência, esperada em 100 milhões de pessoas, e foi uma oportunidade de ouro para que o magnata trucidasse a esquerdista. Oportunidade esta que foi perdida. Se Trump começou muito bem, colocando Hillary na lona, perdeu-se após os primeiros minutos e passou para a defensiva, deixando ela se safar com mentiras – como de praxe – e não apertando a adversária em questões cruciais, como os emails e Benghazi.

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Não era uma escolha fácil para Trump, pois se de um lado ele tinha que aparentar mais calmo e presidenciável, do outro ele precisava detonar sua adversária nos seus pontos mais fracos para expô-la à nação. Trump parece ter optado pelo caminho da moderação para desfazer a imagem caricata pintada pela mídia mainstream. Estratégia correta, em minha opinião. Por mais que eu adorasse vê-lo detonando a mentirosa contumaz de forma mais pesada, acho que o importante agora é seduzir os independentes, e isso se faz passando a imagem de estadista. Mas ele não conseguiu um resultado tão bom nessa tática.

No começo, Trump até endureceu, cobrando coerência da esquerdista. Usou o que ela disse sobre o Nafta no passado, e perguntou se ela mudou de ideia. Atacou o acordo com o México, assinado por seu marido Bill Clinton, pois sabe que o tema é sensível para os americanos, que se sentem perdendo empregos de forma injusta para o país vizinho. E fez de tudo para transmitir a ideia de que Hillary é o establishment em pessoa, pois “está no poder” há 30 anos!

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Hillary demonstrou seu forte viés esquerdista em várias ocasiões. Sua solução mágica para curar os problemas da economia: tirar dos mais ricos. É mensagem demagoga do começo ao fim. Quem que tinha essa ideia brilhante mesmo? Ah, lembrei: Karl Marx. No Brasil, conhecemos bem essa retórica: o PT usa e abusa dela. Deu no que deu. Hillary, branca, olhos azuis, milionária, poderosa, parte da cúpula do “sistema” há décadas, tenta passar a imagem de defensora dos pobres e oprimidos, colocando Trump como um herdeiro abastado, acusando-o de ter nascido em berço de ouro. Estratégia pérfida, mas que às vezes funciona com alguns invejosos.

Em uma tirada engraçada, Trump aproveitou um vitimismo de Hillary, quando disse que “daqui a pouco serei acusada por todos os problemas deste país”, e perguntou: “Por que não?” A plateia riu. Mas foram poucos os momentos de destaque do candidato. Ele se esforçou para colocar nela a imagem de político que só fala, que só tem retórica, que está no poder desde sempre, aproveitando assim o cansaço do americano com Washington, com suas mentiras, promessas falsas. Em determinado momento, Trump reconheceu que Hillary tinha muita experiência sim: mas experiência ruim. Ainda assim, a candidata não passou recibo, não acusou o golpe, e manteve uma pose mais sóbria.

No único momento em que focou na questão delicada dos emails, foi para se sair de uma pergunta do moderador, claramente enviesado para o lado de Hillary, sobre sua declaração de imposto. “Assim que ela divulgar os 33 mil emails eu divulgo meu imposto de renda”, disse Trump. E depois, quando ela assumiu que “errou” com os emails, ao usar seu servidor particular para coisas secretas de governo, ele alegou não se tratar de um erro, mas de algo feito de propósito que fere a Constituição. Perdeu uma ótima oportunidade de ser mais duro aqui, de atestar de forma direta: não é um “erro”, mas um crime!

É duro “debater” com esquerdista mesmo, pois os fatos não importam para eles. Trump disse que Chicago, a terra de Obama, se transformou num caos, com mais de 3 mil mortes de negros, por falta de policiamento basicamente, e Dilma, digo, Hillary acusou Trump de racismo, de não gostar da comunidade negra. É muita desonestidade, eu sei. Mas o que importa é que Hillary conseguiu manter Trump na defensiva, tendo de se esquivar dos rótulos usados pela adversária. Há mais negros presos porque o sistema judicial é racista, diz Hilária, não porque os negros cometem mais crimes. E a culpa é das armas, claro. Basta desarmar o cidadão ordeiro que tudo se resolve. Quanta demagogia.

Foi o mesmo na questão com as mulheres. Hillary puxou da cartola a imagem de Trump como alguém “desrespeitoso com mulheres”. Deve imaginar que respeitar mulheres é agir como seu marido, Bill Clinton, o “predador” com várias amantes submissas. Trump confessou ao apresentador Sean Hannity, da Fox News, que optou por não responder à altura pois Bill e sua filha, Chelsea, estavam na plateia. Mas para o público em geral ele deixou Hillary bancar a vítima feminista, sem apontar para a gritante incoerência de seu discurso sendo ela casada com quem é. Oportunidade perdida.

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No assunto sobre geopolítica, que dominou o debate, Trump conseguiu algumas vitórias, como quando “elogiou” Obama e Hillary pelo fortalecimento do Irã, um país que estava de joelhos graças às sanções impostas, mas que após o péssimo acordo assinado pelo governo, e muito elogiado por Hillary, recuperou-se e caminha para ser uma potência nuclear, ameaçando a paz no mundo e a segurança americana.

Em linhas gerais, temos um candidato que enaltece o papel do empreendedor, que sabe que a economia americana está numa bolha por conta dos estímulos, e uma candidata que endeusa o estado, visto como locomotiva da criação de riqueza e da “justiça social”. Apesar dos defeitos – e ele os tem em demasia – a escolha não é tão difícil assim. Com mais 4 ou 8 anos de Partido Democrata no poder, cada vez mais à esquerda, os Estados Unidos poderão mesmo deixar de ser a nação livre que sempre foram, e se tornarão mais parecidos com um típico país latino-americano. Uma pena. Uma desgraça!

Por isso não escondo que torci para que Trump arrasasse no debate. Mas uma análise mais imparcial, sem torcida, constata que esse foi o debate das oportunidades perdidas para Trump. Teve momentos bons, mas deixou passar muitas chances de massacrar Hillary. Ela se saiu bem, até melhor do que ele, justamente por essas cochiladas do republicano. Ela aparentou mais “presidenciável”, o que seduz mais votos neutros, independentes. Mas não será suficiente para impedir a maré crescente do magnata, eu acho, e ainda faltam dois outros debates pela frente…

Rodrigo Constantino