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A revista britânica The Economist escreveu que o PMDB está com o poder no Brasil, e assim descreveu sua postura econômica: “É mais pró-negócios que pró-mercado, mas muitas vezes faz lobby para benefícios locais e específicos da indústria”. A questão é muito pertinente, já que muitas pessoas confundem ser pró-negócios com ser pró-mercado. Não são, em hipótese alguma, equivalentes.

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O sujeito pode ser pró-negócios e ser um antiliberal, alguém que rejeita a economia de livre mercado. Ele pode ser simpático aos empresários, especialmente aos grandes, o que o afastaria do socialismo a princípio, mas atacar o funcionamento de uma economia livre, sem barreiras à entrada de novos concorrentes. É o que mais tem por aí, aliás: defensores de subsídios, barreiras protecionistas, quotas de importação, privilégios estatais, tudo em nome dos negócios.

Muitas vezes aquele que defende o liberalismo se coloca contra os interesses dos grandes negócios estabelecidos, justamente porque o livre mercado é dinâmico, impõe constantes ameaças aos negócios existentes por meio de sua “destruição criadora”. O liberal defende o processo de livre mercado, não as empresas existentes. Ele defende, portanto, interesses difusos, contra grupos de interesse que muitas vezes enxergam no estado um defensor, um companheiro.

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Uma pessoa pró-mercado estaria, por exemplo, aplaudindo a inovação via Uber, enquanto uma pessoa pró-negócios poderia muito bem se unir aos sindicatos dos taxistas em defesa de barreiras contra a competição. Do mesmo jeito que alguém pró-negócios poderia condenar o email gratuito para preservar os negócios de distribuição de cartas. Ser pró-negócios não tem nada a ver com ser pró-mercado, a verdadeira bandeira liberal.

Em seu editorial de hoje, o WSJ falou do Ex-Im Bank, uma espécie de BNDES americano. O jornal defende justamente o mercado contra os defensores dos negócios, mostrando que mesmo os Republicanos acabam, muitas vezes, confundindo as coisas e apoiando medidas que favorecem alguns negócios, mas atentam contra o livre mercado. Obama e os Democratas querem, claro, estender as funções do banco, mas se espera que os Republicanos entendam melhor a diferença, e tomem a defesa do mercado.

Empréstimos subsidiados com os recursos dos pagadores de impostos acabam beneficiando os “amigos do rei”, inclusive aqueles distantes, em outros países. Com a justificativa de ajudar a financiar compradores dos produtos exportados por empresas americanas, o Ex-Im Bank, além de impedir o fomento do setor por meio do próprio mercado, acaba sempre politizado, o que é inevitável nesses casos, mesmo nos Estados Unidos.

Sua exposição financeira aumentou muito nos últimos anos, saindo de $ 75 bilhões em 2010 para $ 112 bilhões em 2014, e um estudo do Heritage Foundation mostrou que há vários casos de fraude, incluindo um negócio de $ 3 bilhões com Papua Nova Guiné. O editorial coloca, então, o dedo na ferida: os Republicanos condenam os programas assistencialistas para indivíduos, e deveriam fazer o mesmo em relação às empresas. Não é por acaso que uma ala mais radical dos Republicanos, o Tea Party, cresceu tanto, ao cobrar esse tipo de coerência do partido.

No Brasil, desnecessário dizer, a situação é muito pior. O BNDES, presidido por Luciano Coutinho, acredita, de forma arrogante, na capacidade de tecnocratas “ungidos” selecionarem os “campeões nacionais”, destinando dezenas de bilhões dos “contribuintes” para poucos e grandes grupos empresariais, entre eles o de Eike Batista e o dos irmãos Wesley e Joesley Batista, a JBS. O PT, que colocou Coutinho no comando do banco, endossa totalmente esse projeto, mostrando como a esquerda nacionalista pode se aproximar, às vezes, dos que são pró-negócios. A Fiesp e o PT unidos contra o livre mercado!

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O que o Brasil precisa, urgentemente, é de mais gente defendendo com bons argumentos o livre mercado, não os negócios. Muita gente “de esquerda” está criticando a postura do governo em relação ao Uber, por exemplo, sem nem se dar conta da contradição em relação a outras bandeiras intervencionistas. O mercado traz mesmo inovações ameaçadoras para alguns negócios e setores, como foi a introdução da luz elétrica para os fabricantes de lampiões, o computador para os fabricantes de máquina de escrever e o carro para os fabricantes de carroças.

Quem é pró-mercado entende os benefícios dessas rupturas ao longo do tempo. Quem é pró-negócio acaba pedindo a intervenção estatal para “proteger” os produtores existentes, condenando, com isso, não só os consumidores como o próprio futuro de todos.

PS: Se você compreende isso, então saberá como é difícil para institutos que pregam o liberalismo conseguir financiamento. Contar com grandes empresários é complicado, pois muitas vezes eles preferem “investir” no lobby com o governo. O liberalismo defende interesses difusos, e por isso necessita do apoio dos indivíduos, de cada um de nós que entende isso. Fica o apelo, então, para que o leitor faça sua parte e se associe ao Instituto Liberal, que tem comprado brigas contra esse modelo corporativista que asfixia o mercado.

Rodrigo Constantino