Por João César de Melo, publicado no Instituto Liberal
No fim de semana passado participei da 10° Vicentina, evento realizado em Curitiba onde executaram, entre outras atividades, o projeto Vaga Viva, que pode ser resumido na utilização do espaço público em função dos interesses de pessoas e empresas diretamente relacionados a ele; pessoas comuns, artistas, profissionais liberais e pequenos empresários convertem vagas de veículos em pequenas praças para humanizar o ambiente urbano e potencializar o comércio local.
O conceito do projeto sustenta-se na liberdade de um comerciante, por exemplo, ao concluir que em vez de ter um carro estacionado em frente à sua vitrine seria melhor ter uma pracinha, decide construí-la e mantê-la com recursos próprios, crendo que as pessoas que venham a frequentá-la prestem mais atenção em sua loja e… quem sabe… façam algumas compras, o que acaba beneficiando pedestres e qualificando o espaço público.
Isso, caro socialista que por alguma razão esteja lendo este texto, representa o que todos os autores liberais defendem desde sempre: Interesses privados tendem a convergir em benefícios públicos. Da mesma forma que um empresário precisa oferecer bons produtos aos seus clientes para obter lucros, cada um dos interessados em promover seus nomes por meio da ocupação das vagas de carros teve que construir ambientes interessantes às demais pessoas que frequentam a região. A 10° Vicentina, ao contrário de como a maioria das pessoas enxerga, evidenciou um dos pilares do capitalismo: Pessoas comuns organizadas coletiva e espontaneamente a fim de atingir objetivos particulares, sem a intermediação do Estado. Comerciantes e artistas locais incorporaram o espírito libertário e gritaram: Não quero o carro de um desconhecido parado na minha porta! Quero pessoas! Quero um jardim! Quero clientes! Esse impulso egoísta e raramente assumido é que vem qualificando diversas regiões em grandes cidades de países desenvolvidos, excluindo em maior ou menor grau o papel do Estado na qualificação do ambiente urbano.
Como o Estado contribuiu para o evento? Fazendo o que os liberais cobram todos os dias: mantendo distância. Bastou apenas liberdade para que os organizadores viabilizassem o Projeto Vaga Viva e as demais atividades que compuseram o evento, oferecendo uma ótima experiência a milhares de pessoas. Durante os dois dias de realização da 10° Vicentina, contatos e vendas foram realizadas, produtos e serviços foram apresentados enquanto pessoas comuns desfrutaram das dezenas de ambientes que foram criados − interesses privados, benefícios públicos.
Como toda esmola resume-se a moedas, tudo teve que ser desmontado, caso contrário, as penalidades da lei seriam aplicadas. Mas há uma realidade ainda pior: A maioria dos envolvidos em projetos como esse defende um maior papel do Estado na economia e na cultura sem perceber o quanto isso interfere na liberdade deles próprios empenharem seus projetos. Defendem o socialismo sem se dar conta de que o socialismo trabalha para tornar suas iniciativas mais caras e difíceis por meios de impostos e regulações absurdas; acreditam que o socialismo distribui renda limitando o poder de renda das pessoas; e como se fosse pouco, ainda enxergam o liberalismo como algo contrário ao que anseiam todos os dias: Liberdade para tocar suas vidas em função de seus talentos e interesses.
Sabendo do interesse de algumas pessoas em captar recursos municipais para a realização de novos eventos, deixo minha sugestão: Não aceitem nenhum centavo, nada que os torne “especiais” sob qualquer ponto de vista, pois qualquer benefício concedido pelo Estado é cobrado algum dia, invariavelmente na forma de apoio para um ou outro partido ou personalidade política. Cobrem liberdade para vocês e para todos. É só isso que as pessoas precisam para prosperar e distribuir prosperidade.
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