Você seria capaz de esconder judeus no sótão de sua casa durante o nazismo? Quem responde a pergunta com um automático “sim” talvez devesse pensar duas vezes, diante de um espelho. A coisa não era tão simples assim. Gostamos da nossa própria imagem de corajosos e éticos, mas no mundo real os corajosos são sempre minoria. É o que alerta o filósofo Luiz Felipe Pondé em sua coluna de hoje.
Pondé resgata um texto antigo em que fala sobre isso, jogando nova luz sobre a questão. Antes de responder essa pergunta, é preciso lembrar que a propaganda nazista foi eficaz em disseminar o antissemitismo, muitas vezes disfarçado de anti-sionismo. São preconceitos existentes até hoje, e em alguns casos recrudescentes. A imigração na Europa tem inclusive aumentado por conta desse antissemitismo, especialmente na França, capital mundial da psicanálise.
Logo, a verdadeira pergunta é se você seria capaz de arriscar a própria vida e a de seus familiares para salvar não apenas estranhos, mas estranhos que você não aprecia, ou pior, despreza. Aí a coisa começa a ficar mais complicada do que já era, não é mesmo? Quantos seriam capazes de colocar a vida dos filhos em perigo para salvar os “párias” da sociedade?
Poucos. E por que o título do texto, trazendo à tona os psicanalistas de esquerda? Pois Pondé diz ter sido alvo de várias mensagens de revolta e ódio dessa turma na época do primeiro texto. Para ele, esse pessoal é “um caso a ser estudado em consultório”. Casado com uma psicanalista e filho de outra, sei bem do que ele está falando, apesar de ambas terem superado o esquerdismo. São minoria no entorno.
Não há nada pior do que um psicanalista engajado, daquele tipo que defende uma “clínica política”. São os que pensam que a humanidade pode evoluir quase infinitamente no quesito moral, ignorando a natureza humana como ela é, tapando o sol com a peneira para não enxergar os claros limites dos seres humanos – e os próprios.
Como alguém pode ser psicanalista e crer numa bobagem como “a verdadeira clínica é a política”?, pergunta Pondé. Também me pergunto isso. E só consigo encontrar a resposta na covardia, na covardia moral desses próprios psicanalistas de esquerda. Buscam o regozijo próprio na sensação de que são superiores porque acreditam nesse avanço ilimitado da moral humana com base na política. O marxismo é o ópio dos intelectuais, como disse Raymond Aron.
Ou seja, desejam acreditar num “novo mundo possível”, pois não suportam a realidade. E ainda chamam os outros, da classe média, de alienados, por serem “vítimas” do consumismo capitalista e dos “enlatados” americanos. São pessoas que trocam o realismo pela própria imagem de “engajados”. No Brasil, acham-se o máximo só porque teclaram 13 nas urnas eletrônicas. Pondé provoca esses iludidos:
Logo, quando se perguntar “você seria capaz de esconder judeus durante a guerra?”, você deve pensar em algum tipo de gente que você considere “gente ruim” no lugar dos “judeus”.
Gente, talvez, que você concordasse, não com o extermínio em si, mas que não era “gente legal”, gente que você não convidaria para jantar em casa, ou que queimaria seu filme caso fossem vistas com você. Candidatos? Fala a verdade…
Pense bem antes de responder com bravatas morais, porque deve existir alguma categoria de gente que você despreza. Ideias são baratas. Enfrentar situações reais é que custa caro.
E como custa! No mundo real, distante dos discursos hipócritas, esses “psicanalistas de esquerda” tão superiores, tão tolerantes com tudo e todos, tão descolados, mostram sua verdadeira face. E é possível observar a baba de ódio escorrendo do canto de suas bocas quando falam dos “conservadores”, dos “liberais”, ou dos Estados Unidos e Israel. Pergunta: o psicanalista de esquerda arriscaria a própria vida para salvar Jair Bolsonaro numa eventual ditadura bolivariana? Pois é…
O que me leva a concluir, de forma um tanto grosseira, confesso, que talvez o discurso todo contra o ódio e a crença na capacidade onipotente da política para eliminar esse ódio no mundo não passem de uma forma de mascarar o próprio ódio que sentem. Pura covardia moral. Seria melhor encararem essas próprias fraquezas do que tentar “consertar” o mundo pela via política. Portanto, já para o divã, psicanalistas de esquerda!
PS: Freud, o “pai da psicanálise”, ficaria horrorizado com esses psicanalistas engajados na política. Como já argumentei aqui, ele era um conservador, não um “progressista”, e tinha formação médica, não “filosófica”, como tantos psicanalistas atuais que mais parecem filósofos ou escritores frustados. A tese de Freud como um conservador é corroborada por ninguém menos do que Elisabeth Roudinesco, biógrafa do austríaco.
Rodrigo Constantino
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