Freud é uma coisa, Lacan é outra, bem diferente. Agora imagina casar Lacan com Zizek: aí só pode sair porcaria mesmo. Pariu aquilo que chamamos de “psicanalistas sakamotianos”. A leva de novos psicanalistas lacanianos é formada basicamente por uma turma ideologizada, que pretende transportar a política para os consultórios, que abraçou com fervor a ideologia “progressista”. E faz de tudo para defendê-la.
Como agem em bando, criam reserva de mercado, e ai de quem não dançar conforme a música: não espere indicações de pacientes dos pares, e sim o ostracismo, a indiferença, o boicote, o olhar hostil. Sei do que estou falando, pois sou casado com uma psicanalista lacaniana cansada disso tudo. E vejam a mensagem que ela recebeu de uma colega da área:
Estou me sentindo fora do contexto quanto ao grupo Psi que conhecemos. Eu não consigo entender e tampouco me engajar nesses movimentos defendidos por essa galera. É feminismo, é perseguição à família tradicional, preconceito contra os que creem em Deus, apoio aos esquerdopatas, relativismo moral. Estou pensando em fazer gastronomia e deixar a psicologia de lado. Essa galera Psi, em sua maioria, apoia essas patifarias. Sem citar a questão de gênero e trans. É muito relativismo moral. Outra onda agora é defender os árabes e detonar os judeus. Tipo assim, se Lacan falou, água parou. A minha impressão é que nenhum dos valores familiares do bem, que aprendemos, existe lá.
Essa turma psi cansa mesmo, com raras exceções. Cada dia mais radical, mais cínica, defendendo o indefensável e acusando os outros do que são. Um deles, peixe grande na área e coordenador de mestrado de universidade federal, fica não só doutrinando os alunos como fez campanha a favor dos black blocs na época em que quebravam tudo e chegaram até a matar um cinegrafista. Postou foto mascarado para atacar a polícia “fascista”. Olha o nível dessa gente!
Outro, que já detonei algumas vezes no antigo blog, resolveu comentar o Enem, rebatendo o colunista da Folha Hélio Schwartsman. É o que dá adotar postura tucana e achar que será deixado em paz pelos radicais: pura ilusão! O psicanalista abre assim seu texto: “Nos anos 1990 a Folha de São Paulo era considerada um jornal de esquerda”. Deixou de ser? Com Boulos, Freixo, Rossi, Freitas, Suplicy e Safatle entre o quadro de colunistas? Pausa para rir. Ele continua:
Porta voz do movimento que quer a política fora da Educação e sóbrio representante da tendência avaliativa como instrumento para modificação da educação no país, Hélio aponta neste Enem um “generoso espaço para tópicos e autores caros à esquerda”, uma vez que 31% dos autores da prova de humanas jogam no time da esquerda (7.8% da prova total). Foi precisamente aqui que me lembrei da peça de propaganda, mas agora em versão mais estatística. Ou seja, se 31% são de esquerda, 69% são de direita? É possível contar mentiras dizendo a verdade, ainda que os números eles mesmos não mintam jamais. Por este raciocínio a neutralidade matemática impunha que faltavam ainda 19% para que a esquerda tivesse 50% do Enem.
Que truque patético! Então se um terço da prova faz alusão direta aos pensadores da esquerda radical, o psicanalista supõe que o restante é de direita? Que piada! Ora, são questões neutras, sem ideologia, sem pensadores conhecidos diretamente citados. Ou o psicanalista quer comparar Marx com Adam Smith em aparições no Enem? Quer comparar Foucault com Scruton? Quer comparar Zizek com Sowell?
O psicanalista segue com sua estratégia de inverter fatos e sustentar a ideologia vermelha no Enem:
Aqui o truque básico, contra o qual eles devem estar advertidos, quando se trata de ciências humanas, é a crença na existência de discursos neutros, imparciais e científicos, no sentido de se destacarem angelicalmente de todos os interesses humanos. Ora, sabemos que este é o sonho de toda ideologia: infiltrar interesses políticos como se estes fossem fatos. Portanto, desenvolver ativamente uma neutralidade ideológica no Enem, requer um conceito melhor de ideologia.
Há uma diferença crucial entre esquerda e direita. A esquerda tende a politizar os fatos, enquanto a direita tende a despolitizá-los. Por isso a esquerda dirá que a direita faz política por baixo dos panos (é o conceito clássico de ideologia), enquanto a direita dirá que a esquerda torna políticos assuntos que são técnicos (é o conceito ofensivo de ideologia como algo que corrompe, seduz e manipula a alma).
É um espanto! A diferença crucial é que a esquerda joga limpo, a direita não, segundo o psicanalista. O homem nunca leu Gramsci? Filhote de Foucault, ele deve ser daqueles que acha que a “microfísica do poder” oculta as mais horrendas ditaduras e tiranias dentro do simulacro de democracia. Como Chomsky, ele deve achar que os Estados Unidos são a maior tirania do planeta, pois possui uma tirania oculta, disfarçada. É muita cara de pau mesmo!
Reparem bem: a prova que menciona um monte de ícones do esquerdismo radical não é de esquerda, pois as demais questões todas, que não citam tais pensadores nem os de direita, são no fundo de direita, pois a direita opera por baixo dos panos, nas entrelinhas. É ou não para receber o Prêmio Lula de canalhice do ano?
“Desafio qualquer um a escalar um time que não possa ser qualificado como tendencioso pelo time adversário. Contudo é esta ingenuidade abissal que move os que querem a política fora dos conteúdos educativos”, diz nosso psicanalista lacaniano. Ora, o truque é manjado: se não dá para ter total isenção, então qual o problema de ter viés escancarado? O psicanalista quer mesmo desafiar os outros a montarem um time mais imparcial, com pensadores de ambos os lados, com direito ao contraditório?
Claro que ele não é limitado o suficiente para desconhecer o claro viés do Enem. Logo, só resta mesmo a alternativa de má-fé. Essa gente não tem honestidade intelectual. Simplesmente parece disposta a tudo para defender sua ideologia vermelha. E faz isso de forma hipócrita, claro, pois o que conheço de psi socialista que adora um luxo capitalista não está no gibi…
À exceção dos que vivem de tetas estatais, os demais vão acabar provando do próprio veneno. Defenderam o PT, pregaram o voto em Dilma? Agora vão ter que engolir a crise econômica, que costuma fazer como uma das primeiras vítimas justamente o consultório do psi, tido como luxo por muitos. Será que mesmo com o consultório esvaziando, com a parte mais sensível de seu “corpo” sofrendo, essa gente será incapaz de acordar?
Rodrigo Constantino
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