Durante os últimos cinco meses da vida de Robespierre, quando concentrou um poder praticamente tirânico sobre a França, mais de 2 mil pessoas foram guilhotinadas em Paris, uma quantidade mais de cinco vezes superior ao que havia sido morta nos 11 meses que precederam o reinado do Terror. Na biografia de Ruth Scurr sobre essa importante figura da Revolução Francesa, o próprio título já resume de forma sucinta a imagem desse perigo: Pureza Fatal.
Não foram a hipocrisia ou as ambições materiais que tornaram Robespierre uma ameaça tão grande à paz, e sim sua convicção de que ele e o povo eram uma só coisa. O Incorruptível, como era conhecido, seria a mão sangrenta executando com fanatismo as ideias de Rousseau. Robespierre seria o instrumento da “vontade geral”. A visão de uma sociedade ideal, livre dos “pecados” da aristocracia, da miséria e da corrupção, faria com que ele acreditasse ser o veículo da Providência que levaria a França para um futuro perfeito.
Política é a arte do possível, como dizem. Sistemas democráticos são imperfeitos, corruptos e, muitas vezes, chatos. Não raro surgem líderes que prometem acabar com tudo isso, limpar todo o sistema, pôr fim na corrupção. Tais salvadores da Pátria seduzem com sua “imaginação totalitária”, para usar o título do excelente livro que Francisco Razzo lançará esse mês pela Record. São religiões políticas que substituem Deus, e oferecem aos crentes a promessa de um paraíso terrestre.
Razzo explica: “A parceria do poder político com a pretensão de verdade absoluta produz a ‘religião política’ — essa estranha quimera fruto da modernidade. A religião política descreve bem a arrogância do homem em querer buscar um espaço sentimental de expectativa para racionalizar e fazer emergir o ‘novo homem’ e a ’nova sociedade’ em todos os âmbitos de sua existência por meio do ato político redentor”.
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Rodrigo Constantino
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