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Por Marcia Rozenthal, publicado pelo Instituto Liberal

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Desde o espantoso evento do 11 de setembro, existe uma pergunta que não me sai da cabeça: Teria esse episódio existido sem a mídia?

Lembro-me daquele dia, em que televisões puxavam como imãs. Hipnotizada, eu via e revia as imagens dos aviões penetrando, como flechas, nas paredes daqueles monumentos à audácia humana, que se desfaziam como pó. Havia o olhar perplexo dos dois lados de todas as telas das televisões, ligadas permanentemente, incluída a minha. O mundo, ávido por uma pequena nova informação, uma nova imagem, um novo ângulo; buscas pela internet sobre mais detalhes. Esses foram os dias 11, o 12, o 13 e os dias que se seguiram, no fatídico mês de setembro de 2001.

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Ouvi, com atenção, um festival de sandices ditas nos meios de comunicação por “comentaristas” e “especialistas” ainda confusos, que sistematicamente repetiam seus velhos automatismos políticos e mantras intelectuais, sem humildade para perceber que estavam diante de uma realidade qualitativamente diferente.

E foi então que entendi que o mundo mudou.

Foi aquele o momento da “epifania ocidental”.

Não foi só a “ditadura do terror” que passou a tolher nossa sociedade e a ameaçar a democracia; foi também a entrada triunfal e definitiva do “politicamente correto” na cena do apocalipse. O evento acabou se tornando o primeiro grande ato da encenação da Batalha do Armageddon pós-moderna. Então, teve início a adição social a este seriado macabro, um reality show, cujos capítulos são até hoje assistidos a cada mês, semana ou dia.

Abriu-se um novo e superlativo “mercado” para a “elite pensante” descarregar suas certezas preconceituosas e arrogantes. Foi neste contexto que se consumou o casamento do terror com a chamada “grande mídia intelectual”; esse “fenômeno” deveria inclusive ser incluído no bojo do “conceito” de globalização.

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Cúmplices inseparáveis, a “intelectualidade politicamente correta” e os islamistas radicais, num pacto macabro, distorceram o gosto e a estética do ocidente.

O terror islâmico, quando é perpetrado no ocidente, tem requintes cinematográficos hiperrealistas, onde preza a estética do absurdo, ou seja, a anti-estética; cria cenas que suplicam para serem filmadas e fotografadas, e instantaneamente há a transformação do inominável em imagens toscas e tremidas, colhidas na clandestinidade, as quais serão dispersadas com farta ajuda da mídia por toda a rede mundial.

A mídia não só as espalha: ela as disseca. Analisa as entranhas dos fatos dentro de uma lógica perversa, ou reversa, onde os conceitos de causa e efeito são simplesmente invertidos.

O padrão é sempre o mesmo. Há sempre uma câmera para filmar, nenhuma arma para defender e especialistas disponíveis para desinformar.

Vale observar que o roteiro não é o mesmo quando “algo” ocorre em Cabul, Medina ou Bagdad, onde o número de mortes e feridos é realmente espantoso; quando muito, correm tripas de letras em alta velocidade na parte de baixo da tela das televisões, durante os noticiários, e assim é cumprido o dever de “informar” o fato àqueles que tem disposição de forçar os músculos dos olhos.

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Provavelmente tamanha indiferença deriva da falha no funcionamento da lógica do politicamente correto nesses casos, já que não comportam a ideia da culpa do homem ocidental, branco, capitalista, homofóbico, racista, machista, reacionário, conservador e, se possível, judeu.

Sim, o Islã sabe muito bem como o ocidente “bacana” funciona.

A “intelectualidade” ocidental, por sua vez, soube moldar com esmero o outro lado de sua moeda. Assim ela legitimou esses atos, dando-os um ganho de notoriedade e espaço na mídia. A “elite formadora de opinião” já pode interferir na sociedade a partir de suas entranhas.

E o que dizer sobre o que ocorre nas penumbras das nossas ruas, onde milhares morrem esfaqueados, baleados, fuzilados, torturados, esquartejados?

Talvez ainda sejamos fractais subdesenvolvidos, e por isso desinteressantes para a “elite pensante” internacional. Quem sabe ainda nos falta “experiência internacional”? Mas o eco do politicamente correto já é ubíquo e aqui, o discurso naturalmente já segue este mesmo padrão.

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Temos a nossa “legião dos humilhados” muito bem representada nas comissões, ministérios, governos e na nossa grande mídia, os quais só falam em “direitos humanos”. “Temos nossa própria produção, em escala industrial, de assassinos arrogantes e cínicos, que se julgam merecedores do que não fizeram por”.

Tenho receio de que estejamos trazendo, junto com as olimpíadas, um novo vírus para nosso terreno em um clima que já sabemos lhe serem propícios, onde os “vetores midiáticos” já estão bem adaptados.

Que Deus nos proteja para não voarmos pelos ares todos os dias daqui para a frente!

E, para o final, deixei o tópico mais importante para reflexão: saúde. O ocidente trocou o direito de rir, pelo dever de falar mal de si mesmo. Melhor dizendo, tínhamos ao nosso dispor a melhor receita da longevidade e optamos, estupidamente, pelo caminho da morte certa!

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* Marcia Rozenthal é neuropsiquiatra e Doutora em Psiquiatria